No atual cenário “pós-pandêmico”, com a retomada das atividades econômicas em sua quase totalidade, a expectativa do mercado de trabalho brasileiro é de estabilidade, mesmo após uma queda histórica do PIB e frente às demissões em massa impulsionadas pela crise sanitária da COVID-19. Deste modo, vivenciamos a oferta de empregos e a inserção de trabalhadores em situação de desocupação nos quadros de pessoal das empresas.
De fato, em 2021 e 2022 houve no Brasil uma crescente oferta de novos postos laborais, entretanto, segundo o Departamento de Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cerca de 26% dos jovens de 15 a 29 anos – o equivalente a 12,7 milhões de brasileiros – encontravam-se na condição de “nem-nem” no ano de 2021 (nem frequentavam escola formal nem trabalhavam).
É necessário destacar que, nesse contexto, dentre os quase 13 milhões de “nem-nem” mencionados acima, grande parte estava em busca de trabalho, isto é, 5,1 milhões de pessoas, o equivalente a 40% dos jovens nessa condição de “desocupação” e 10% de todos os jovens brasileiros entre 15 e 29 anos.
Em termos qualitativos, são abrangidos nesse montante jovens desocupados pessoas de diferentes classes socioeconômicas, mas existem especificidades que os diferenciam: cerca de 24% destes pertencem às famílias mais pobres do país e o principal motivo de não exercerem nenhuma atividade fora do lar é justamente a obrigação destes com os afazeres domésticos e os cuidados de pessoas da família. Por outro lado, apenas 6% estão na parcela da população mais ricas, a justificativa para não trabalharem e não estudarem é o compromisso com estudos que não são considerados formais, como os pré-vestibulares ou a preparação para concursos públicos, por exemplo.
Estes dados são da (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua 2022), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo demonstra que boa parte desses jovens está a procura de emprego, submete seus currículos periodicamente para empresas e corporações, além de eventualmente se submeter a trabalhos informais para garantir uma fonte de renda.
Em contrapartida, a tentativa se faz frustrada por alguns fatores, como o baixo nível de escolarização e de instrução profissional, resultado do acesso precário de pessoas de baixa renda à educação de qualidade e, por conseguinte, poucas chances de ingresso no Ensino Superior. Ademais, as condições individuais de alguns candidatos também dificultam a garantia de um emprego estável, quais sejam, as mães jovens, que enfrentam o preconceito de selecionadores, e a necessidade de utilizar transporte público quando domiciliados em bairros periféricos, que em sua maioria não possui estrutura de mobilidade urbana eficiente.
Assim, revela-se imperioso reconhecer que o que se fez até aqui para a qualificação e a inserção da juventude no mercado laboral brasileiro foi insuficiente, tendo em vista os altos níveis de desigualdade e de inacessibilidade às condições de uma vida digna e independente por parte dessa juventude.
Assim, não há que se falar apenas em crescimento econômico e oferta de empregos para a busca do pleno emprego, mas da garantia de acesso à instrução, ao conhecimento e à ciência para essas jovens mentes e braços. Isto porque só assim estaremos em vias de conceder aos diferentes grupos a mesma chance e expectativa de garantir a sua dignidade, vez que esta provém do trabalho e da realização profissional
Carla Reita Faria Leal e Thamires Batista de Sousa são membros do Grupo de Pesquisa sobre o Meio Ambiente de Trabalho da UFMT, o GPMAT.
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