ARLINDO ABURAD
O Dia Nacional de Combate ao Fumo é celebrado no dia 29 de agosto para conscientizar a população sobre os perigos do tabagismo. É importante fazer um alerta principalmente para a nova geração de fumantes. Enquanto o cigarro tradicional está se tornando menos popular, especialmente entre os jovens, uma outra ameaça vem ocupando esse espaço: o cigarro eletrônico, também conhecido como vape. Tido como uma alternativa "segura", ele tem se tornado um vilão oculto que causa graves riscos à saúde.
O cigarro eletrônico ganhou popularidade principalmente entre os jovens, com sua aparência moderna, variedade de sabores e ausência do cheiro do tabaco. Isso criou uma falsa sensação de segurança. A facilidade de acesso e a falta de regulamentação eficaz criam um ambiente propício para que cada vez mais jovens sejam atraídos para esse novo vício. Muitos acreditam que há menos prejuízos à saúde. No entanto, os estudos mostram que os usuários de cigarros eletrônicos estão expostos a substâncias tóxicas e cancerígenas, incluindo aquelas que podem levar ao desenvolvimento de câncer bucal.
O vapor contém compostos que, ao serem aquecidos e inalados, provocam danos ao tecido oral, resultando em mutações celulares que podem evoluir para o câncer. Além disso, o uso contínuo do vape pode servir como porta de entrada para o cigarro tradicional, contribuindo para a manutenção e até ampliação do ciclo de dependência. Pesquisas indicam que jovens que experimentam cigarros eletrônicos têm uma probabilidade significativamente maior de começar a fumar cigarros tradicionais. Isso representa um retrocesso nas conquistas alcançadas ao longo das últimas décadas na luta contra o tabagismo.
É preciso lembrar que o vape tem sal de nicotina. Isso faz com que o composto seja entregue em concentrações até vinte vezes maiores no corpo. É possível afirmar, dessa forma, que fumar a carga de um cigarro eletrônico no formato de pen drive pode equivaler a fumar 20 cigarros comuns. É mais viciante que o cigarro normal e pode causar dependência química.
Uma série de riscos, muitas vezes, são ignorados ou subestimados por usuários e pela indústria. Um desses riscos é o câncer de boca. Estudos recentes mostram que os cigarros eletrônicos podem causar alterações no DNA das células da boca, o que aumenta significativamente a probabilidade de desenvolvimento de tumores na cavidade oral.
No 256º Encontro Nacional e Exposição da Sociedade Americana de Química, em Boston, pesquisadores do Centro de Câncer Maçônico da Universidade de Minnesota, em Minneapolis, apontaram como os cigarros eletrônicos podem modificar o DNA das células orais e aumentar os riscos de câncer. Os pesquisadores analisaram as exposições químicas durante a inalação e exalação do vapor de cigarros eletrônicos. Foram selecionados cinco usuários voluntários de cigarros eletrônicos para coleta de amostras salivares. O estudo identificou três compostos prejudiciais ao DNA: formaldeído, acroleína e metilglioxal.
Depois de 15 minutos de contato com os vapores, os níveis de acroleína dos usuários aumentaram na saliva em 30 a 60 vezes. O perigo ocorre quando os químicos tóxicos reagem com o DNA e causam danos. A conclusão foi a de que o potencial dos cigarros eletrônicos de provocar câncer bucal é muito grande. Vale lembrar que o câncer bucal é mais prevalente no sexo masculino e em idades acima de 40 anos. Muitos casos são diagnosticados em estágios avançados, o que pode causar a morte.
Outro estudo, na Coreia do Sul, no Hospital Bundang da Universidade Nacional de Seul, mostrou que as pessoas que pararam de fumar e passaram a consumir cigarros eletrônicos têm maior probabilidade de desenvolver câncer de pulmão do que aquelas que não usam vape. Essa descoberta chama atenção. Isso porque desafia a narrativa amplamente difundida de que o cigarro eletrônico é uma alternativa mais saudável ao tabagismo tradicional. O estudo evidencia que os cigarros eletrônicos não são inofensivos e podem agravar os danos causados pelo vício em nicotina.
A popularidade dos cigarros eletrônicos entre os jovens não é apenas uma moda passageira. É inegável que há uma nova epidemia de tabagismo, desta vez impulsionada pela tecnologia e até mesmo pela desinformação. A ascensão dos cigarros eletrônicos traz à tona questões econômicas e de saúde pública. O custo do tratamento de doenças relacionadas ao tabagismo, incluindo o câncer de boca, representa um fardo significativo para os sistemas de saúde. Diante desse cenário, a resposta das políticas públicas precisa ser contundente. Além disso, campanhas de conscientização voltadas para os jovens são essenciais para desmistificar a ideia de que os cigarros eletrônicos são uma opção segura.
*Arlindo Aburad é dentista, doutor em Patologia Bucal pela USP e sócio do CPC Aburad Diagnóstico
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