LÁZARO THOR
O desmatamento no sudeste da Amazônia, compreendendo o norte de Mato Grosso e o sul do Pará causaram a perda de mais de 25% do volume de chuvas nos meses de agosto a outubro naquela região e o aumento de 2,5 graus na temperatura média, nos últimos 40 anos.
O fenômeno vem sendo estudado pelo Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos. O estudo já foi publicado em 2021 na Revista Científica Nature e é coordenado pela química Luciana Gatti com mais 18 cientistas brasileiros e estrangeiros.
Em entrevista ao site Midiajur, Gatti explica que a amazônica é uma enorme fábrica de chuvas que sustenta a agricultura brasileira.
Leia mais:
Ingresso no Parque de Chapada pode chegar a R$ 100, mas moradores pagarão só 25%
Agência de Mineração rejeita pedidos de garimpo em parque sob disputa
Os resultados publicados no ano passado representam nove anos de estudo, com aproximadamente 600 voos de coletas, utilizando avião de pequeno porte (~8 mil amostras em coletas), em quatro localidades da Amazônia, representando as regiões nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste da Amazônia, mostrando a variação das emissões de carbono entre as 4 regiões e sua relação com o desmatamento e as mudanças climáticas na região.
O grupo de pesquisa teve a estratégia de utilizar um tipo de medida que tem uma representação em escala regional, onde foram utilizadas coletas com avião desde 4,4 km de altura até próximo a superfície e ao longo de 9 anos (2010-2018), para permitir a obtenção de uma média consistente sobre o que a Amazônia representa no balanço global de carbono.
O longo período de estudo escolhido foi devido a observação, em estudos anteriores, de que a Amazônia apresenta grande variabilidade ano a ano no balanço de carbono, por esta razão a necessidade de o estudo ser de longo tempo. Nas quatro regiões estudadas foram encontradas magnitudes diferenciadas de desmatamento e queimadas. A região leste, mais desmatadas (~30%), apresentou uma estação seca mais estressante para a floresta: mais seca, mais quente e mais longa.
Este estresse está fazendo com que a Amazônia, nestas regiões, emita 10 vezes mais carbono (estados do Pará e Mato Grosso basicamente), do que nas áreas com desmatamento inferior a 20%, mostrando a enorme validade do Código Florestal colocando um limite de 20% para cada propriedade na Amazônia. Esta emissão muito maior ocorre tanto por apresentar grande emissão por queimadas, como por uma menor absorção de CO2 pela floresta.
Esta estação seca (meses de Agosto, Setembro e Outubro) mais aguda, com menos chuvas, temperaturas mais altas e mais longa promove grande estresse na floresta reduzindo também sua capacidade de absorver carbono, além de aumentar suas emissões.
“Esta condição promove um aumento da inflamabilidade da floresta e da mortalidade das arvores típicas de uma floresta tropical úmida. Nesta região sudeste da Amazônia (norte de Mato Grosso e sul do Pará) já se encontra em situação de muita preocupação, pois já se observa que hoje morrem mais árvores do que nascem. A floresta Amazônica é uma enorme fábrica de chuvas que sustenta a agricultura brasileira”, diz a pesquisadora.
Gatti informou que de 35% a 40% da produção da chuva na Amazônia é a reciclagem promovida pela própria floresta. Outro alerta da cientista é o impacto do desmatamento nas temperaturas médias da região norte de Mato Grosso. “A água que vaporiza pelas árvores reduz a temperatura, portanto menos floresta quer dizer menos chuva e também temperaturas mais altas”, diz.
Além disto maior emissão de carbono do que absorção por parte da floresta, devido ao estresse climático. Isto significa que, além do desmatamento representar uma emissão de carbono para atmosfera, ele altera a condição climática na Amazônia e faz com que a floresta não desmatada também se torne uma fonte de carbono para a atmosfera, além de aumentar sua flamabilidade.
"Estamos todos muito preocupados desta região sudeste da Amazônia estar próxima de um ponto de não retorno, onde a condição climática seria impossível para árvores de uma floresta tropical úmida", afirmou Gatti.
Parque Estadual Cristalino II
Luciana Gatti tem sido uma das cientistas brasileiras que tem feito críticas ao desmonte das politicas públicas de combate ao desmatamento, grilagem e desmatamento de unidades de conservação em Mato Grosso, como é o caso do Parque Estadual Cristalino II, com 118 mil hectares e localizado entre os municípios mato-grossenses de Alta Floresta e Novo Mundo.
O parque vem sendo ameaça de extinção por uma ação judicial movida por um dos grileiros da região. “As unidades de conservação são essenciais para à sociedade brasileira e para a economia do país. O que está acontecendo no Parque Cristalino II precisa ser revertido. Estão roubando o futuro do povo brasileiro”, diz.
Quer receber notícias no seu celular? Participe do nosso grupo do WhatsApp clicando aqui .
Tem alguma denúncia para ser feita? Salve o número e entre em contato com o canal de denúncias do Midiajur pelo WhatsApp: (65) 993414107. A reportagem garante o sigilo da fonte.
Maria parecida mendes de barros 27/11/2022
Amooo está informada sobre o meio ambiente em nosso Brasil
Olívia Gurjão 26/11/2022
Que tristeza ver a destruição dos nossos biomas. Temos de estar alertas e cobrar ações dos órgãos (in)competentes que fiscalizem as áreas em risco. Chega logo, janeiro!
Rosa Carmina de Sena Couto 26/11/2022
Muito preocupante!! Diz respeito a segurança climática da Amazônia e do planeta q está ameaçada. Esperamos que com a posse do novo governo uma forte política de combate a emergência climática além do desmatamento zero na Amazônia possam ser implementados. É a nossa esperança!
Arcilio Barros 26/11/2022
A ganância de ganhar dinheiro vendendo árvore que nunca plantou é irracionalidade pura, até onde vai isso
4 comentários