ALLAN PEREIRA E LÁZARO THOR
Da Redação
Marlene de Jesus de Araújo, conhecida como "Rainha do Sararé", começou seu pequeno império - conquistado a base de garimpo ilegal em terra indígena - como operadora de escavadeira hidráulica, até ser dona de diamantes, roupas de luxo, artigos de grife, além de dívidas no valor R$ 173,6 mil com parceiros comerciais que ela abandonou em Rondônia, estado que deixou para atuar na Terra Indígena Sararé, em Pontes e Lacerda (444 Km de Cuiabá).
Marlene nasceu no dia 9 de agosto de 1976, no município de Ouro Preto Do Oeste, em Rondônia. Mesmo dia em que foi presa pela Polícia Federal, 46 anos depois. Filha de Adão Sarafi de Araujo e Maria Helena de Jesus Araujo, Marlene começou a vida como uma trabalhadora comum, como operadora de escavadeira hidráulica, até se tornar uma empresária expoente no negócio de ouro em terra indígena.
Informações levantadas pela reportagem do Midiajur apontam que parte dessa riqueza foi conquisstada também porque Marlene deu calote em diversos parceiros comerciais no seu estado de origem. O que lhe rendeu uma série de ações judiciais, inclusive a acusação de fraude a execução fiscal.
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A reportagem teve acesso às ações judiciais de cobrança dessas dívidas, que estão sob a responsabilidade da juíza Maxulene de Sousa Freitas, da 2º Vara Cível de Jaru, em Rondônia.
Boa parte dessa dívida acaba girando em torno de um imóvel residencial no bairro Savana Park, na cidade de Jaru, que fica a 290 km de Porto Velho, capital de Rondônia.
Já a outra dívida é cobrada pelo Banco Bradesco. Marlene e um trabalhador do comércio aparecem como avalistas de um empréstimo feito por uma empresária de Jaru junto ao Bradesco. O valor da dívida é de R$ 60.337,76.
A juíza Maxulene determinou o bloqueio de bens e imóveis dos três, mas, durante o cumprimento da decisão judicial em abril deste ano, um oficial de justiça não encontrou propriedades em nome de Marlene para serem bloqueados.
"Rainha" dá calote em confeiteiro
Em março do ano passado, um confeiteiro entrou com uma ação na Comarca de Jaru depois que Marlene não cumpriu com o pagamento de uma nota promissória no valor de R$ 68.834,92, que venceu no dia 05 de janeiro do ano passado.
O valor atualizado pela defesa do confeiteiro, em janeiro deste ano, chega a R$ 84.161,73.
O credor conseguiu com uma decisão para bloqueio de bens e imóveis de Marlene. Durante o bloqueio judicial, foram encontrados e bloqueados R$ 1.058,84 nas contas bancárias da "Rainha do Sararé". Esta quantia já foi paga ao confeiteiro.
A defesa então pediu para que a penhora para o pagamento da dívida seguisse para veículos e imóveis em nome de Marlene. Após consulta junto ao cartório da cidade, a Justiça encontrou um imóvel localizado no bairro Savana Park, no valor de R$ 116.793,22. Mas este mesmo imóvel já tinha sido vendido a um casal, identificado pelas iniciais N.B.L. e L.L.
A defesa aponta que "restou cristalina a intenção fraudulenta da executada [Marlene] em alienar o referido imóvel" ao casal para impedir a execução do pagamento da dívida.
Já o casal, que se manifestou depois de determinação judicial da juíza Maxulene, aponta que não havia registro de pendências judiciais, penhoras ou outros agravantes que impedissem a aquisição do imóvel em agosto do ano passado.
"Logo, como não havia registro de penhora do bem alienado, tampouco a má-fé dos terceiros adquirentes – Embargantes, a alegação de Fraude à Execução deve ser rechaçada por este Douto Juízo, julgando procedente o presente Embargos de Terceiro", pediu o casal à juíza.
Corretor de imóvel também cobra "rainha"
Contratado por Marlene, o corretor de imóveis, que intermediou a venda do mesmo imóvel ao casal N.B.L. e L.L., também entrou na Justiça com uma ação de cobrança contra a "Rainha de Sararé". Ele não teria sido pago com a porcentagem sobre a corretagem da operação de venda da propriedade.
De acordo com a inicial da ação movida por - e também sob a responsabilidade da juíza Maxulene -, o corretor firmou contrato de exclusividade para a venda do imóvel no valor de R$ 550 mil.
O imóvel foi vendido, mas, segundo a inicial da defesa do corretor, Marlene não "passou a devida sobre a porcentagem devida a corretagem" para ele.
"O Requerente [corretor de imóveis] tentou de todas as formas receber suas comissões de forma amigável da Requerida [Marlene], porém sem sucesso, razão pela qual socorre ao Poder Judiciário para ver seus direitos assistidos", escreve a defesa do corretor.
A defesa pediu que Marlene pagasse uma quantia de R$ 29.139,48 referente à porcentagem na corretagem da venda do imóvel.
A juíza Maxulene também determinou bloqueio de contas e não encontrou nada. Foi marcada ainda uma audiência de conciliação entre as partes no dia 04 de 2022. Mas, na data em questão, a "Rainha de Sararé" não compareceu ao encontro.
No processo do confeiteiro, o ex-advogado de Marlene chegou a comunicar a juíza Maxulene de que a "rainha" havia se mudado a trabalho para Mato Grosso desde o fim do ano de 2021 ou início de 2022, além de ter trocado o número celular.
Operação da Polícia Federal
Marlene foi presa pela Polícia Federal, nesta terça-feira (09), no âmbito da operação "Rainha de Sararé" - que seria um termo pelo qual ela se autodenominava.
De acordo com a PF, ela era a líder de uma associação criminosa composta por um grupo familiar originário do estado de Rondônia, que comandava e financiava a extração ilegal de ouro na Terra Indígena Sararé.
Ela é proprietária da MF - Horas Máquinas e Serviços de Terraplanagem, uma empresa de fachada, segundo a Polícia Federal.
Marlene ostentava também uma vida de luxo nas redes sociais, com adornos de ouro, bolsas de marca e outros produtos de grife.
Durante a apreensão em sua casa em Pontes e Lacerda, a polícia federal encontrou dois diamantes, várias joias e maquinário para extração de ouro.
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