LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
O julgamento do Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) instaurado contra o juiz Círio Miotto foi novamente adiado pelo Pleno do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT).
Miotto, que está afastado do cargo desde 2010, é investigado por supostamente ter negociado sentenças no esquema deflagrado pela Polícia Federal durante a Operação Asafe.
Até o momento, oito desembargadores – incluindo a relatora do caso, desembargadora Cleuci Terezinha – já votaram pela punição máxima ao magistrado: a aposentadoria compulsória.
Por outro lado, outros seis desembargadores entenderam que não há qualquer prova contra Miotto e, por isso, votaram por arquivar o procedimento e determinar o imediato retorno do juiz às funções.
Os desembargadores Marcos Machado, Rondon Bassil, Orlando Perri e Clarice Claudino pediram vistas do processo para analisar melhor o caso e devem trazer seus votos na próxima sessão. Outros 11 desembargadores também estão aptos a votar.
Segundo o MPE, Miotto teria vendido habeas corpus que liberou o pecuarista Lóris Dilda da cadeia no dia 30 de junho de 2006. Lóris havia sido preso sob acusação de ter matado o irmão.
O juiz também é acusado de ter vendido a liminar que soltou o traficante de drogas Moacir Franklin Garcia Nunes que estava preso na Penitenciária Central do Estado.
Para a desembargadora Cleuci Terezinha, as gravações contidas nos autos indicam que havia relação entre os lobistas Ivone Siqueira e Max Weber – que negociavam as sentenças por telefone- com o magistrado.
Outra prova considerada crucial pela magistrada foi a descoberta, pela Polícia Federal, de R$ 51 mil guardados na casa de Miotto durante a operação.
Já os desembargadores Adilson Polegato e Juvenal Pereira evidenciaram justamente o contrário. Conforme Polegato, não há qualquer “prova cabal para tirar a toga do magistrado, que atuou por 25 anos”.
"O que temos são meras palavras de dois ‘lobistas’ que estão a macular o nome de um juiz e colocar em duvida a magistratura mato-grossense"
"O que temos são meras palavras de dois ‘lobistas’ que estão a macular o nome de um juiz e colocar em duvida a magistratura mato-grossense”, afirmou.
Outro elemento que provaria a inocência de Miotto, segundo Polegato, é o fato de a Polícia Federal não ter encontrado qualquer movimentação suspeita nas contas e bens do magistrado, mesmo após a quebra de todos os sigilos.
“Entendo que não se pode penalizar um juiz com mais de 25 anos de serviços prestados com base em diálogos telefônicos de pessoas cuja credibilidade é duvidosa”, apontou.
Ação judicial
Pelas mesmas acusações, Miotto também responde a uma ação penal no Tribunal de Justiça.
Outros 23 acusados de envolvimento no esquema respondem às denúncias junto à Vara Contra o Crime Organizado da Capital. Nove envolvidos também são processados na Justiça Federal de Mato Grosso.
Já o desembargador Evandro Stábile, que também foi afastado por supostamente integrar o grupo criminoso, é reu em ação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), órgão competente para julgar investigações criminais contra desembargadores.
As investigações tiveram início em Goiás, onde a Polícia Federal apurava as ações de um bando que atuava no tráfico internacional de drogas. Durante o trabalho, surgiram indícios de existência de um esquema de venda de sentenças, no âmbito da Justiça Eleitoral em Mato Grosso.
A partir daí, foi instaurado inquérito perante a Vara da Justiça Federal em Cuiabá. A Operação Asafe foi deflagrada e, ao todo, 38 pessoas foram listadas como suspeitas de participação.
Leia mais sobre o assunto:
Juiz Círio Miotto será interrogado na próxima semana
Pedido de juiz afastado contra Selma Arruda é negado
TJ nega pedido de Cirio Miotto para anular julgamento
Pleno recebe denúncia e mantém Círio Miotto afastado
Quer receber notícias no seu celular? Participe do nosso grupo do WhatsApp clicando aqui .
Tem alguma denúncia para ser feita? Salve o número e entre em contato com o canal de denúncias do Midiajur pelo WhatsApp: (65) 993414107. A reportagem garante o sigilo da fonte.