AIRTON MARQUES
DO MIDIANEWS
Delatores da 5ª fase da Operação Sodoma, os empresários Juliano Volpato e Edézio Corrêa afirmaram que o ex-secretário de Estado Eder Moraes determinou que a dívida de R$ 1,7 milhão referente a campanha de 2012 fosse cobrada dos então candidatos a prefeito e vice, Lúdio Cabral (PT) e Francisco Faiad (PMDB).
A afirmação consta na decisão da juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, que decretou a prisão preventiva de Faiad - que já foi solto - e outras quatro pessoas, no dia 14 de fevereiro.
De acordo com os delatores, em 2012 Eder era um dos coordenadores da campanha de Lúdio e Faiad à Prefeitura de Cuiabá. Segundo os empresários, Eder contratou suas empresas, a Auto Posto Marmeleiro e a Saga Comércio e Serviço de Tecnologia e Informática Ltda., para o fornecimento de combustível para veículos.
No fim da campanha, de acordo com eles, a Marmeleiro ficou sem receber parte do combustível fornecido.
Conforme os termos de colaboração premiada firmados com o Ministério Público Estadual (MPE) – e que embasaram a decisão de Selma -, Juliano e Edézio disseram que procuraram Eder para cobrar o pagamento da dívida. No entanto, o ex-secretário afirmou ter trabalhado apenas como um “peão” na campanha, e que os empresários deveriam procurar Lúdio e Faiad.
"Juliano Volpato e Edézio Corrêa narram que, após as eleições, entraram em contato com Éder de Moraes, cobrando-lhe o referido crédito, que por sua vez se esquivou de tal responsabilidade ao lhes responder 'que era peão e que tinha que cobrar de Lúdio e de Faiad, que eram os candidatos' , os quais haviam se beneficiado com a prestação de serviço", apontou o MPE.
Sem dinheiro
Juliano Volpato disse ao MPE que seguiu a orientação de Eder. O primeiro a ser procurado foi o ex-candidato a prefeito, Lúdio Cabral.
O petista, de acordo com o delator, disse que não poderia pagar dívida tão vultosa.
“Por conseguinte, Juliano Volpato alega ter entrado em contato com Lúdio Cabral, que lhe disse ‘que não tinha dinheiro para pagar, que tinha somente uma casa para morar e que se desse seu imóvel iria ficar com sua família na rua’”, diz trecho da decisão.
“Daria um jeito”
Marcus Mesquita/MidiaNews
Lúdio Cabral (PT), que foi conduzido até a Defaz para prestar esclarecimento sobre a dívida
Com mais uma negativa, Juliano e Edézio declararam ao MPE que começaram a cobrar o pagamento do crédito a Faiad, “por diversas vezes”,
O ex-candidato a vice, segundo os delatores, garantiu que iria pagar a dívida, uma vez que pediria ajuda ao seu partido.
“Em 2013, já ocupando o cargo de Secretário de Estado da SAD/MT, novamente lhes garantiu resolver o problema e ‘dar um jeito de pagar o que estava devendo’”, diz outro trecho da decisão.
Segundo o MPE, Juliano declarou que dias depois de tal garantia foi chamado para encontrar Faiad no gabinete que ocupava na SAD. Na reunião, o ex-secretário disse que os pagamentos referentes às dividas da campanha de 2012 seriam feitos por meio da Secretaria de Estado de Transporte e Pavimentação Urbana (Setpu).
“Recomendando ao empresário que procurasse a pessoa de Alaor Alvelos Zeferino de Paula, servidor público estadual lotado na secretaria”, diz outro trecho do documento.
Fác-simile de trecho da decisão de Selma Arruda, que deflagrou 5ª fase da Operação Sodoma:
Acusado em esquema
O MPE apontou que a participação de Francisco Faiad nesse esquema estaria ligada ao pagamento de dívida de R$ 1,7 milhão contraída com a Marmeleiro Auto Posto durante a campanha de 2012.
Após a derrota na campanha, Faiad foi nomeado para a Secretária de Administração, onde permaneceu de janeiro a dezembro de 2013. Para o MPE, sua missão ali seria garantir a continuidade da arrecadação de propina para a organização criminosa, através do "mecanismo fraudulento da Secretaria de Transportes"..
A acusação ainda descreve que, entre fevereiro e agosto daquele ano , o advogado teria desviado o suficiente para a quitação de sua dívida e que de setembro a novembro teria desviado mais R$ 916 mil, "dinheiro que foi destinado a formação de caixa 2 da futura campanha eleitoral do grupo político de Silval Barbosa no ano de 2014".
Além disso, um dos delatores, o empresário Edézio Corrêa, afirmou que Faiad fazia parte de um esquema de "mensalinho" da organização criminosa, junto do ex-governador Silval Barbosa, o ex-secretário de Estado de Silval, César Zilio e o empresário Juliano César Volpato. Nesse esquema, Faid teria acumulado R$ 192 mil.
Sodoma 5
Marcus Mesquita/MidiaNews
O advogado e ex-secretário de Estado de Administração, Francisco Faiad, investigado na Sodoma 5
A Sodoma 5 resultou em uma nova prisão preventiva de Silval, além do ex-secretário de Administração, Francisco Faiad; do ex-secretário adjunto de Administração, José Jesus Nunes Cordeiro; do ex-secretário-adjunto executivo da Secretaria Executiva do Núcleo de Trânsito, Transporte e Cidades, Valdisio Juliano Viriato; e do ex-chefe de gabinete do Silval, Sílvio Cesar Corrêa Araújo. Silval, Silvio e José Jesus já estavam presos em decorência de fases anteriores da Sodoma.
Além dos mandados de prisão, a 5ª fase da Sodoma conduziu 10 pessoas coercitivamente. São elas: procurador aposentado do Estado, Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o ex-secretário de Estado Marcel Souza de Cursi, Arnaldo Alves de Souza Neto, o ex-candidato a prefeito de Cuiabá, Lúdio Frank Mendes Cabral, os empresários Wanderley Fachetti Torres, Rafael Yamada Torres, Diego Pereira Marconi, Valdecir Cardoso de Almeida, Wilson Luiz Soares Pereira e Mário Balbino Lemes Júnior.
Os suspeitos são investigados em fraudes à licitação, corrupção, peculato e organização criminosa em contratos celebrados entre as empresas Marmeleiro Auto Posto Ltda. e Saga Comércio Serviço Tecnológico e Informática Ltda., nos anos de 2011 a 2014, com o Governo do Estado de Mato Grosso.
Segundo a Polícia Civil apurou, as empresas foram utilizadas pela organização criminosa, investigada na operação Sodoma, para desvios de recursos públicos e recebimento de vantagens indevidas, utilizando-se de duas importantes secretarias, a antiga Secretaria de Administração (Sad) e a Secretaria de Transporte e Pavimentação Urbana (Septu), antiga Secretaria de Infraestrutura (Sinfra).
As duas empresas, juntas, receberam aproximadamente R$ 300 milhões, entre os anos 2011 a 2014, do Estado de Mato Grosso, em licitações fraudadas. Com o dinheiro desviado efetuaram pagamento de propinas em benefício da organização criminosa no montante estimado em mais de R$ 8,1 milhões.
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