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JUSTIÇA Quinta-feira, 14 de Agosto de 2014, 15:08 - A | A

14 de Agosto de 2014, 15h:08 - A | A

JUSTIÇA / 24 FACADAS

Três vão a Júri por assassinato de empresária em Cuiabá

Julgamento acontece quase três anos após o crime; família pede por justiça

LISLAINE DOS ANJOS
DO MIDIANEWS



Quase três anos depois do crime, três dos cinco homens acusados de matar a empresária Ângela Cristina Peixoto da Silva Rezende, no Jardim Presidente I, em Cuiabá, irão enfrentar Júri Popular na próxima quarta-feira (20), a partir das 8h, no Fórum de Cuiabá.

O Tribunal de Júri será presidido pela juíza Mônica Catarina Perri Siqueira.

Acusados de terem sido contratados pelo marido de Ângela, Damião Rezende, para assassinar a esposa, sentam nos bancos dos réus Daniel Paredes Ferreira, Maycon José Cardoso Nogueira e Kleber Azevedo Santos – sendo este último apontando como o intermediador do acordo entre o marido e os executores.

"O mínimo que podemos ter é Justiça, ver que esse crime não ficará impune. Sabemos que a condenação não trará a minha tia de volta, mas foram três anos de espera e não queremos que a crueldade cometida contra ela seja esquecida"

Conforme consta nos autos, os três réus são acusados de homicídio triplamente qualificado, praticado mediante pagamento, com emprego de meio insidioso ou cruel e com recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima.

Damião Rezende, acusado de ser o mandante do crime, bem como um quinto elemento, Eduardo Bezerra do Nascimento – que confessou em depoimento à Justiça, em 2013, ter recebido um notebook para cometer o crime – tiveram seus processos desmembrados e devem ser julgados separadamente.

Todos os cinco envolvidos estão presos. Um sexto elemento, identificado apenas como “Marcelo” – que teria ajudado Kleber a negociar a execução da empresária – é citado no processo, mas ainda não foi encontrado.

Família quer justiça


A família de Ângela Peixoto afirmou que irá acompanhar o julgamento, assim como assistiram a todas as audiências, a fim de pressionar a Justiça para que os executores sejam condenados pelo crime. As informações são da sobrinha da empresária, Karine Peixoto, 19.

“O mínimo que podemos ter é justiça, ver que esse crime não ficará impune. Sabemos que a condenação não trará a minha tia de volta, mas foram três anos de espera e não queremos que a crueldade cometida contra ela seja esquecida”, disse.

"O crime em questão é gravíssimo, não somente por versar sobre homicídio qualificado, mas porque foi praticado, em tese, mediante concurso de cinco pessoas, onde, por motivo mercenário, a vida de uma pessoa, mãe de família, foi ceifada de maneira brutal"

Karine conta que a mais prejudicada em toda a situação foi a filha do casal, que na época do crime tinha sete anos, e que até hoje recebe acompanhamento psicológico.

“Ela é uma criança de dez anos, mas que amadureceu muito rápido. Ela é quieta, não consegue aproveitar datas comemorativas como dia das Mães, dos Pais, seu próprio aniversário. Ela chora muito ainda pela falta da mãe e não gosta que falem de sua morte e no nome do pai”, disse.

“Ele [Damião] agiu de uma forma tão cruel e fria, impulsionado por ganância, que nem se preocupou em como a filha dele ficaria, sendo que dizia que ela era o amor da sua vida”, desabafou.

Revogação de prisão

A defesa do trio que será julgado na próxima semana ingressou com pedido para revogação da prisão, aproveitando a realização do Mutirão Carcerário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em Mato Grosso, o que foi negado pela juíza no último dia 4.

“Daniel e Maycon evadiram-se após o crime, sendo presos em outro Estado. Contra ambos foi instaurada ação penal onde se apura a prática do delito de tráfico de substância entorpecente. Kleber, por sua vez, é reincidente, porquanto foi condenado por crime anterior [...]”, diz trecho da decisão.

A magistrada ressalta que Daniel e Maycon possuem antecedentes criminais e confessaram, durante as audiências de instrução, suas participações no assassinato da empresária – tendo usado do recurso de delação premiada para apontar Damião como o mandante do crime.

Eles revelaram, ainda, que estariam sendo ameaçados de morte.

“Segundo Daniel e Maycon, estão sendo ameaçados por terceira pessoa para assumirem a prática de um suposto latrocínio, descaracterizando, desta forma, o crime de homicídio praticado contra a vitima Ângela, no que, consequentemente, restaria afastada a figura do ‘mandante’”, alegou a juíza.

" Indagados sobre o suposto latrocínio, Daniel e Maycon acabaram por confessar que na verdade se tratava de um crime de homicídio encomendado pelo marido da vítima Angela Cristina Peixoto"

O julgamento do trio, já agendado, também foi usado como argumento para não conceder a liberdade aos acusados.

“A mantença [permanência] dos acusados no cárcere se faz necessária para garantia da ordem pública e da idoneidade da instrução criminal, que nos crimes dolosos contra a vida se encerra apenas após a segunda fase do procedimento, com o julgamento dos réus perante o Tribunal do Júri, e, ainda, para assegurar a aplicação da lei penal”, conclui a juíza.

O crime


Conforme denúncia feita pelo Ministério Público Estadual (MPE), na noite de 15 de novembro de 2011, por volta das 23h30, Daniel e Maycon, de porte de uma faca, causaram dezenas de perfurações na empresária, quando ela se encontrava dormindo na cama.

“O crime em questão é gravíssimo, não somente por versar sobre homicídio qualificado, mas porque foi praticado, em tese, mediante concurso de cinco pessoas, onde, por motivo mercenário, a vida de uma pessoa, mãe de família, foi ceifada de maneira brutal – mediante 24 golpes de faca – quando já estava com as mãos amarradas para trás, com um cadarço de sapatênis, tanto é que o crime é qualificado pela motivação torpe, pelo emprego de meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vitima”, diz trecho da decisão da juíza.

A denúncia aponta que o marido de Ângela teria encomendado o crime por R$ 3 mil, tendo pago R$ 1,5 mil para Daniel e prometendo a quitação da outra parcela após o crime ter sido concluído.

Kleber Santos seria o intermediador da execução, em parceria com o rapaz ainda não encontrado, identificado como “Marcelo”.

Polícia Civil

Damião Rezende, esposo de Ângela, é apontado como o mandante do assassinato e será julgado em separado

Damião ainda teria dado permissão a Daniel e seus comparsas para que levassem todos os eletrodomésticos, joias e veículos que pudessem levar da residência.

Após executarem Ângela, Daniel e Maycon fugiram na caminhonete da vítima, em direção a Corumnbá (MS), onde pretendiam vender o veículo, mas foram presos em flagrante na barreira do Posto do Guaicurus, em Miranda (MS).

“Na oportunidade foi feita a checagem da caminhonete e verificou-se tratar-se de produto de roubo ocorrido na noite anterior, nesta Capital. Indagados sobre o suposto latrocínio, Daniel e Maycon acabaram por confessar que na verdade se tratava de um crime de homicídio encomendado pelo marido da vítima Angela Cristina Peixoto”, afirmou a juíza, nos autos.

Na casa de Maycon, em Cuiabá, teriam sido encontrados todos os objetos roubados da casa da vítima, além de 30 kg de cocaína que, segundo a dupla, havia sido encontrado em uma das malas retiradas da casa da vítima, debaixo de uma das camas da residência.

O marido de Ângela foi detido durante o enterro da mulher, no Cemitério Parque Bom Jesus, em Cuiabá.

Na ocasião, a Polícia Civil concluiu o inquérito afirmando que Damião teria sido motivado por seu envolvimento com o tráfico de drogas, além da cobiça pelos bens da mulher.

Além de acusado de ser mentor do crime, ele também irá responder na Justiça por tráfico de entorpecentes.

Leia mais sobre o assunto:

Família lamenta tragédia e ligação ao tráfico de drogas


Morte de empresária envolve tráfico, diz Polícia Civil

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Justiça começa a ouvir acusados de executar empresária

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