ALLAN PEREIRA
Da Redação
Junto com um escrivão da Polícia Civil, o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) teria tentado aparelhar a Polícia Civil com o objetivo de frear as investigações policiais contra si próprio, segundo uma das conclusões do relatório técnico do Núcleo de Competências Originárias (Naco) do Ministério Público Estadual (MPE), que pediu o afastamento judicial do gestor.
O Naco conseguiu uma decisão liminar do Tribunal de Justiça para afastar Emanuel da prefeitura, por 180 dias (seis meses), nesta segunda-feira (4). De acordo com o MPE, o prefeito seria o líder de uma organização criminosa e que três ex-secretários seriam operadores do esquema de desvios na Secretaria Municipal de Saúde.
Além da tentativa de aparelhamento, a Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor) também apontou, em relatório, que os demais integrantes da suposta organização criminosa liderada por Emanuel tinham boas fontes dentro da Polícia Civil e da Polícia Federal.
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Conforme o Naco, a conclusão para a tentativa de Emanuel de aparelhar a Polícia Civil se deu após análise de conversas no celular do prefeito com o escrivão R.O.M.M. O aparelho do prefeito tinha sido apreendido nas operações policiais anteriores.
O relatório apontou que o escrivão manifestou apoio a Emanuel e demonstrou ser homem confiança de um delegado, identificado pelas iniciais L.A.T., chegando a marcar uma reunião entre o prefeito e a autoridade policial.
Em seguida, o Naco destacou, no relatório, que L.A.T. iria frear as investigações com Emanuel por uma troca de favores com o prefeito, que conseguiria uma decisão judicial favorável com um desembargador do TJMT para o delegado.
"Tais fatos gravíssimos [...] demonstram uma possível manobra de aparelhamento da Polícia Judiciária Civil, orquestrada por um escrivão e pelo Prefeito Municipal utilizando a figura de um Delegado com o fim de 'frear' investigações contra este em troca de uma possível influência do alcaideem decisão judicial favorável à mencionada autoridade policial", concluiu o relatório do Naco.
Ex-secretário tinha fontes na Polícia Civil e Polícia Federal, segundo Deccor
Tais fatos gravíssimos [...] demonstram uma possível manobra de aparelhamento da Polícia Judiciária Civil, orquestrada por um escrivão e pelo Prefeito Municipal utilizando a figura de um Delegado com o fim de 'frear' investigações contra este
Um dos integrantes da suposta organização criminosa liderada por Emanuel, o assessor executivo do prefeito na Secretaria Municipal de Governo, Gilmar de Souza Cardoso, que também foi secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Saúde, teria fontes na Polícia Federal que o avisavam de operações contra a prefeitura no âmbito federal.
De acordo com o relatório da Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), que também foi usada pelo Naco para pedir o afastamento de Emanuel, o assessor Gilmar acertou a existência de uma ação da Polícia Civil contra dois servidores da prefeitura no âmbito da Operação Hypnos.
A Decoor aponta também que, em fevereiro do ano passado, Gilmar também fez outra previsão acertada de que ex-secretário-adjunto da Saúde de Cuiabá, Milton Correa da Costa Neto, seria alvo de uma nova operação da Polícia Federal.
"Já me falaram que a próxima vítima é o careca, talvez só busca e apreensão ou mandado preventivo", disse Gilmar em conversa registrada no celular e resgatada pela Deccor.
A fala ocorreu cerca de dois meses antes de Milton ser alvo da quarta fase da operação Curare, da Polícia Federal, em abril do ano passado. A ação policial investigou desvios nos cofres da Saúde de Cuiabá.
Para a Deccor, as fontes na PF e a tentativa de aparelhamento na Polícia Civil demonstram que a suposta organização criminosa liderada por Emanuel tinha bons contatos dentro de órgãos de persecução penal.
O desembargador Luiz Ferreira da Silva, que deu a liminar para afastar Emanuel da prefeitura, citou que a tentativa de aparelhamento indica "o poder e a influência do prefeito".
Emanuel foi notificado do afastamento na tarde de segunda. No seu lugar, o vice-prefeito José Roberto Stopa (PV) assumiu a prefeitura de forma interina, na manhã desta terça-feira (5). A defesa do prefeito, por meio de seu advogado Francisco Faiad (MDB), afirmou que irá recorrer da decisão.
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