GILSON NASSER
DA REDAÇÃO
Na decisão em que deflagrou a Operação Sisamnes, o ministro Cristiano Zanin relatou trechos da investigação que demonstram que o advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023 em Cuiabá, teria presenteado o desembargador João Ferreira Filho com um relógio Patek Philipe. Diálogos entre o advogado e o magistrado mostraram eles, inclusive, trocando imagens sobre relógios da marca luxuosa, cujos preços passam de R$ 1 milhão, dependendo do modelo.
"A representação mencionou, logo ao seu início, uma troca de mensagens e imagens entre ambos acerca de um relógio da marca Patek Phillipe, o qual, segundo a autoridade policial, revelar-se ia uma contrapartida ou uma vantagem a ser recebida em virtude do cargo público do investigado", diz trecho da decisão.
No diálogo, Zampieri afirmou que levaria o modelo para o magistrado. “Eu vou levar esse para o senhor ver, amanhã ou sexta”, disse Zampieri em mensagem no WhatsApp.
A investigação menciona que o "mimo" oferecido pelo advogado ao desembargador estaria relacionado a um agravo de instrumento que tramitava na 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, que tinha Ferreira Filho como um dos integrantes.
"Os registros revelam que, no mesmo dia da troca de mensagens e imagens sobre o relógio, Roberto Zampieri solicitou ao Desembargador que examinasse “aquele caso”, tendo respondido João Ferreira Filho que não estaria em Cuiabá, mas que retornaria à capital do Mato Grosso no dia 14 de novembro e analisaria a situação", destaca a decisão.
O processo sobre o qual o advogado e o lobista tratavam não tinha Zampieri como uma das partes. Isso reforça a tese de que, além de atuar em benefício das causas que defendia, o advogado morto também era um lobista no Poder Judiciário Estadual. Outros casos foram mencionados, corroborando com a tese.
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OPERAÇÃO SISAMNES
Por determinação do Supremo Tribunal Federal, são cumpridos um mandado de prisão preventiva e 23 de busca e apreensão em Mato Grosso, Pernambuco e no Distrito Federal, além de medidas cautelares como instalação de monitoramento eletrônico, afastamento das funções públicas de servidores e membros do Poder Judiciário, sequestro, arresto e indisponibilidade de bens e valores dos investigados.
As investigações apontam para um suposto esquema de venda de decisões judiciais, envolvendo advogados, lobistas, empresários, assessores, chefes de gabinete e magistrados.
De acordo com as apurações, os investigados solicitavam valores para beneficiar partes em processos judiciais, por meio de decisões favoráveis aos seus interesses. Também são investigadas negociações relacionadas ao vazamento de informações sigilosas, incluindo detalhes de operações policiais.
Os alvos da operação são:
Busca e apreensão
João Ferreira Filho
Sebastião de Moraes Filho
Valdoir Slapak
Flaviano Kleber Taques Figueiredo
Andreson de Oliveira Gonçalves
Miriam Ribeiro Rodrigues de Mello Gonçalves
Haroldo Augusto Filho
Victor Ramos de Castro
Mauro Thadeu Prado de Moraes
Rodrigo Vechiato da Silveira
Rafael Macedo Martins
Roberto Zampieri (já falecido)
Afastamento da função pública
Daimler Alberto de Campos
Márcio José Toledo Pinto
Rodrigo Falcão de Oliveira Andrade
Proibição de adentrarem na sede do STJ e manterem contato entre si:
Andreson de Oliveira Gonçalves
Miriam Ribeiro Rodrigues de Mello Gonçalves
Daimler Alberto de Campos
Márcio José Toledo Pinto
Rodrigo Falcão de Oliveira Andrade
*Exceto Andreson e Miriam que são casados
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