MIKHAIL FAVALESSA E LÁZARO THOR
Da Redação
O fazendeiro S.G., que pediu para não ser identificado por medo de represálias, relatou ter sido ameaçado pela deputada federal Coronel Fernanda (PL) durante uma ocorrência em disputa por terras, em Feliz Natal, em janeiro. Como mostrado anteriormente pelo Midiajur, Fernanda disse na época ser dona da fazenda.
Em 15 de janeiro, S.G. e outros quatro homens contratados por ele para fazer a segurança da propriedade de sua esposa foram presos pela Polícia Militar. O marido de Fernanda, o coronel da PM Wanderson Nunes de Siqueira, teria participado à paisana da ação da guarnição que foi até a fazenda. Já a deputada, que à época ainda não havia tomado posse no cargo atual, teria feito as supostas ameaças na delegacia da cidade.
"Quando eu estava detido, ela não deixava eu falar. Ela forçou eu abrir a senha do meu celular, ela batia de dedo no peito e apontava na minha cara, falando 'eu posso', 'eu faço', ela falava, 'eu sou dona de lá', 'lá não vai ficar ninguém', 'lá eu mando a tropa a hora que eu quiser, seja de dia seja de noite'. Eu sei que ela fez e falou o que quis", relatou o fazendeiro ao Midiajur.
Segundo o fazendeiro, a deputada teria o acusado falsamente de ser "miliciano, chefe de milícia, de quadrilha" e mais um "punhado de coisa sem eu merecer". Ele destacou que as pessoas que foram detidas estavam dentro da fazenda da própria esposa.
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"Essa coronel desmoralizou muito a gente, deixou a gente bem pra baixo. No outro dia, nós estávamos na Delegacia da Polícia Civil, ela foi lá deu de dedo em mim de novo. Falou: 'nós vamos ter uma conversa', falou desse jeito para mim, me ameaçou", lembrou.
Os homens acabaram liberados após decisão do juiz Walter Tomaz da Costa, da Vara Única de Feliz Natal, sob pagamento de fiança, em audiência de custódia.
S.G. é marido de F.G., dona da fazenda Vale Verde I, e tem procuração da mulher para cuidar da propriedade. De acordo com registro do imóvel do Cartório de 1º Ofício de Sinop, a mulher de S.G. teria direito a 500 alqueires, ou 1,2 mil hectares da propriedade, desde 2006.
A propriedade total tem ainda a fazenda Vale Verde II. A área tem origem no espólio dos pais de F.G., e a terra ficou dividida entre ela e os irmãos.
S.G. relata que registrou um boletim de ocorrência em 13 de janeiro, uma sexta-feira, depois que ficou sabendo da ameaça da invasão da fazenda por um homem chamado "Jeová". Para se proteger da invasão, ele teria então contratado a empresa de segurança de seu primo, identificado como S.S.C.S. A polícia afirma que a empresa operava ilegalmente.
De acordo com o fazendeiro, Coronel Fernanda estaria fazendo negócios com alguns dos irmãos de F.G. A deputada teria ficado com 30% de uma parte da propriedade pertencente a irmãos de sua esposa. Contudo, estariam tentando "passar por cima" da parte que cabe a F.G.
"Eu ouvi que ela não estava sendo deputada ainda, ouvi falar que ela estava sendo advogada e estavam dando 30% da fazenda para ela, para ela mexer. Sendo que estava tudo resolvido, o problema que tinha tava tudo resolvido. Sei que agora deu um rolo danado. Eles estão comprando coisa que nem é deles, nem está no nome deles, está no nome da minha esposa, e a minha esposa passou para eles a parte deles. Aí essa coronel pegou, entrou pelo meio, e por último agora ela foi empossada para ser deputada, aí ela não pode advogar mais nem ser coronel. Aí ela colocou esse doutor Marcelo [Barros, advogado de um dos irmãos de F.G. no processo]", afirmou à reportagem.
Depois da confusão de janeiro, o fazendeiro relata que houve negociação para a compra da parte de sua esposa. As negociações são conduzidas por outro advogado, depois que Fernanda tomou posse como deputada. O advogado é Marcelo Souza de Barros, um juiz aposentado compulsoriamente no caso conhecido como "Escândalo da Maçonaria". Ele ainda recorre no Supremo Tribunal Federal (STF) para voltar ao Tribunal de Justiça.
"Acho que precisamos até de medida protetiva, para ninguém fazer nada com a gente, estamos igual tatu na cova. Depois de uns dias que aconteceu, sempre vem aqui, parando aqui em frente, uns carros, caminhonetes, olhando para cá, apontando para minha casa, e a gente fica com medo", disse o homem, que não está mais em Feliz Natal.
Pela decisão judicial que o liberou, S.G. não pode mais voltar à fazenda registrada em nome da esposa, nem pode manter contato com os demais ocupantes da área.
Procurada, a assessoria de imprensa da deputada reencaminhou uma nota enviada anteriormente. Fernanda afirma que atua como advogada registrada na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) desde 2020 e que em janeiro deste ano foi contratada para a defesa de propietários da área. Ela diz ter ido ao local constatar ameaça de morte e queima da propriedade feita pelos acusados.
S.G. nega que ele e seus seguranças tenham queimado estruturas nas terras. No dia das prisões, de manhã cedo, ele relata que foi com os seguranças até um local onde havia barracões, mas as estruturas já haviam sido queimadas por terceiros. Eles teriam voltado ao local onde ficavam na fazenda, um pesqueiro, e, no começo da tarde, a guarnição da PM chegou para prendê-los.
"É uma invasão. Agora eles nos chamaram para fazer acordo e sabe quanto eles querem dar em 500 alqueires de terra? Eles querem dar R$ 4 milhões. Vale até mais de R$ 18 milhões. É para nós ficar quieto, calar a boca, esses R$ 4 milhões. Eles fizeram essa proposta para o advogado e eu não aceitei não. Aí voltamos lá, falei, tudo bem, a gente está meio velho, eu com 59 anos, a mulher com 56, aí a gente está meio cansado já. Falei R$ 7 milhões, e não é nem metade do valor da fazenda, mas fecharia. Só para me ver livre", apontou o fazendeiro.
Veja a nota da Coronel Fernanda:
A deputada federal Coronel Fernanda esclarece que atua como advogada registrada na OAB, desde 2020, portanto, exercendo a função desde que passou a integrar a reserva da Polícia Militar.
Em janeiro de 2023, foi contratada como advogada pelos proprietários da área citada, e a pedido dos clientes, foi ao local para constatar a ameaça de morte e queima da propriedade feita pelos acusados.
Confirmada a ameaça foram registrados boletins de ocorrência contra os acusados nas Polícias Civil e Militar de Feliz Natal. Na sequência foi deflagrada uma operação policial que resultou na prisão, em flagrante, dos acusados.
Inclusive, a denúncia foi feita pela quadrilha, formada por homens presos com armas de grosso calibre e com mais de 2 mil munições. Todos com diversas passagens pela polícia. Porém, a acusação contra a parlamentar não condiz com a realidade.
E mais, em virtude de ser uma pessoa pública, o nome precede a pessoa, apesar de se apresentar como advogada, é reconhecida, muitas vezes, como a Coronel e deputada.
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