ALLAN PEREIRA
Da Redação
O médico intensivista Marcus Vinícius Ramos de Oliveira negou a acusação do vereador Marcrean Santos (MDB), líder da prefeitura na Câmara Municipal de Cuiabá, de que estivesse dormindo no plantão do antigo Pronto Socorro no dia 9 de junho deste ano.
"No momento que ele chegou, eu tinha acabado de prescrever o último paciente. Estávamos aguardando para descer com pacientes para a tomografia. Pouco antes das dez horas da manhã, eu fui ao banheiro. Inclusive, no momento que começou o tumulto dentro da UTI, descemos com esses pacientes e deixamos ele lá xingando. Então, essa questão de dormir não procede. Cheguei no plantão de manhã. A última prescrição [de paciente] é de 9h46, e a primeira tomografia às 10h20, bem no horário de intercorrência com ele dentro da UTI", disse.
Marcrean é acusado de invadir a ala de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do antigo Pronto Socorro e desrespeitar o médico durante o trabalho. O profissional e o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM) pediram a abertura de um processo na Comissão de Ética contra o parlamentar. No entanto, o pedido foi arquivado por falta de documentação.
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O vereador apresentou a versão de que foi à UTI para buscar informações do quadro de saúde de uma paciente de terceiro grau, que mora em Mimoso e que estaria 30 dias internada no Pronto Socorro de Cuiabá. Ele acusou de encontrar o médico dormindo na sala de repouso do hospital. "Quando eu o acordei, ele ficou bravo", contou na ocasião.
O médico também respondeu às acusações de Marcrean de supostos erros médicos no cuidado com a parente, já que ela morreu dias depois ao tumulto, depois de passar por uma cirurgia.
Para a imprensa, Marcos cobrou provas do vereador e explicou que não tem informações anteriores ao que aconteceu com a paciente. Disse que ela chegou na UTI no dia anterior ao tumulto, no dia 8 de junho, com um diagnóstico errado. Após o quadro correto da doença e o procedimento cirúrgico, ela teve uma intercorrência, evoluiu mal e veio a óbito. Contudo, o médico garantiu que ela teve um bom atendimento desde que chegou na UTI.
"Escutei isso, mas é uma coisa que ele tem que provar. Eu tenho o prontuário eletrônico tudo registrado lá. Já pedi ao CRM para apurar essa conduta minha com relação a isso", disse.
Na tribuna e para a imprensa, Marcos voltou a relatar que o vereador deu carteirada para buscar informações da parente internada, inclusive ameaçando acionar o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) e o secretário Deiver Teixeira contra o profissional.
"Nenhum problema nisso [em busca informações]. O problema é a forma como ele me abordou. Ele chegou se identificando como vereador. No momento, ele queria informações e eu não poderia fazê-lo porque estava com pacientes graves. Ele não aceitou bem a resposta e começou a me intimidar, me ameaçar, falando que iria ligar para o prefeito e para o secretário. Ele não proferiu palavras de baixo calão, mas, aos gritos, entrou na UTI atrás de mim me ameaçando a todo momento", declarou.
Segundo o médico, Marcrean teria dito que o médico "não estava acima de ninguém". Marcos disse que não agiu com falta de educação com o vereador e que respondeu a ele que não conseguiria dar as informações por conta da correria dentro da UTI. "A situação foi bem constrangedora e foi bem humilhante", pontuou.
Marcos apontou também que o tumulto causado por Marcrean fez as atividades na UTI serem suspensas por cerca de 1h30.
"A gente trabalha ali na correria, ainda mais no final de semana que tem uma rotina mais pesada, porque não tem médico visitador. Só tem o plantonista, que fica para todos os afazeres - evoluções, prescrições, intercorrências, internações. Infelizmente, gera transtornos para os pacientes. Haviam pacientes em cuidados de enfermagem despidos. Ele entrou e não se conteve em observar essa questão. A equipe ficou sem saber o que fazer, meio atordoado no momento, por que ele gritava na UTI", contou.
O médico disse que não quer "queimar ninguém", mas busca reparação e uma atenção maior para o caso. Ao concluir sua fala na tribuna, ele relatou que outros médicos relataram também ter sido "carteirados" por Marcrean e outros vereadores, em outros momentos. Por isso, ele decidiu acionar a Comissão de Ética da Câmara.
"A situação foi bem constrangedora, bem complicada mesmo. Nunca tinha passado por isso nos meus seis anos de medicina. Infelizmente, outros colegas já me relataram que passaram por algumas situações complicadas, inclusive com o vereador em questão", concluiu.
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