CECÍLIA NOBRE
Da Redação
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O número de casos de câncer infantil aumentou nos últimos tempos, em especial entre os anos de 2008 e 2019. Nesse período crianças com menos de 10 anos morreram devido a Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA). Este ano, um estudo vinculou o aumento desses casos ao uso e exposição de agrotóxicos em regiões de lavouras, incluindo regiões de Mato Grosso.
A pesquisa publicada em outubro deste ano intitulada “Intensificação agrícola e câncer infantil no Brasil” (Agricultural intensification and childhood cancer in Brazil) das pesquisadoras Marin Elisabeth Skidmore, Kaitlyn M. Sims e Holly K. Gibbs fala sobre os impactos negativos na saúde humana diante da intensificação agrícola e o uso de agrotóxicos nas plantações de soja.
De acordo com as autoras, o Brasil é o maior produtor mundial do grão e, consequentemente, o maior consumidor de agrotóxicos e pesticidas perigosos a saúde. E mesmo após estudos identificarem uma ligação entre a exposição aos agrotóxicos e o câncer, como por exemplo, o envenenamento de trabalhadores agrícolas por pesticidas, ainda há poucas pesquisas que apontam os efeitos de uma intensificação no consumo dos agrotóxicos.
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As pesquisadoras utilizaram 15 anos de dados referentes à expansão da produção da soja, tanto no Cerrado quanto na Amazônia, e a incidência de câncer infantil diante da exposição aos agrotóxicos. Elas constataram um aumento na leucemia infantojuvenil que, muito provavelmente, se deu devido à exposição aos pesticidas por meio da contaminação do agrotóxico no abastecimento de água.
Conforme o estudo, o Brasil possui um consumo massivo de agrotóxicos pois, ao contrário de outros países, faz uso dos pesticidas em uma taxa de 2,3 vezes maior do que Estados Unidos e três vezes mais do que a China, na relação por hectare. Além disso, o aumento do uso de agrotóxicos no país se deu a partir de 2004, quando houve a aprovação das sojas transgênicas que são resistentes ao glifosato, o agrotóxico mais vendido do mundo.
Reprodução
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Na análise realizada pelas pesquisadoras, foi constatado que a área cultivada com a soja no Cerrado triplicou de 5 milhões de hectares no ano 2000 para 15 milhões de hectares em 2019. Já na Amazônia o aumento foi 20 vezes maior, com a produção da soja saindo de 0,25 milhão para 5 milhões de hectares.
Agrotóxicos x Câncer infantil
Como resultado da pesquisa, as autoras estimaram que 123 crianças de até 10 anos morreram de LLA, devido à exposição aos agrotóxicos entre os anos de 2008 e 2019, o que representa cerca de metade de todas as mortes relatadas de LLA em crianças com menos de 10 anos no mesmo período.
Segundo as pesquisadoras, foram constatadas evidências que os casos de LLA se deram durante uma exposição pré-natal aos agrotóxicos, ou seja, quando as mães estavam grávidas, e foi se desenvolvendo no crescimento do feto até a primeira infância, tendo assim os resultados adversos.
“Nossos resultados apoiam nossa hipótese de que a exposição a pesticidas é o canal entre a expansão da soja e o câncer e que a principal fonte de exposição é através da contaminação por pesticidas no abastecimento de água”, diz trecho da pesquisa.
De acordo com as autoras, embora a Leucemia Linfoblástica Aguda seja tratável, quando realizados os cuidados necessários e de qualidade, ela pode ser fatal quando não há esses cuidados, visto que os tratamentos iniciais são intensivos e exigem administração diária de medicamentos. A falta de acesso a um centro de oncologia por perto pode dificultar o tratamento, podendo resultar na morte do paciente.
Regulamentação
De acordo com a pesquisa, esses casos negativos relacionados aos agrotóxicos fizeram com que países ricos implementassem um controle governamental rigoroso devido aos riscos à saúde humana e que o mesmo precisa ser feito no Brasil.
“Os nossos resultados são de particular interesse no desenvolvimento de contextos com procura de sistemas intensificados de produção de alimentos e sublinham a necessidade de uma regulamentação mais forte dos pesticidas e de uma maior atenção da saúde pública à exposição na comunidade em geral,” dissertam as autoras ao longo do artigo.
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