CECÍLIA NOBRE
Da Redação
Um estudo realizado pelo pesquisador Rafael Araújo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que o desmatamento de florestas tropicais, que tem como consequência a diminuição de chuvas, tem impactado negativamente no abastecimento e geração de energia da Usinas Hidrelétrica (UHE) Teles Pires, devido a sua proximidade com a Floresta Amazônica, localizada entre os municípios de Paranaíta, em Mato Grosso, e Jacareacanga (PA).
No artigo intitulado “The value of tropical forests to hydropower” (O valor das florestas tropicais para a energia hidrelétrica - tradução livre) Araújo afirma que a presença da floresta tropical pode afetar as chuvas em locais que estão a centenas e até milhares de quilômetros de distância da floresta, fenômeno conhecido na literatura como "rios voadores". Para o autor, o impacto sofrido pela UHE trata-se de uma “cadeia de efeitos”, onde o desmatamento afeta as chuvas, as chuvas afetam o fluxo dos rios e, consequentemente, o fluxo dos rios afeta a geração de energia.
O desmatamento tem, portanto, um impacto à escala continental na energia hidroeléctrica, que é uma fonte de energia renovável que pode aumentar significativamente a capacidade energética, especialmente nos países em desenvolvimento
“Esta cadeia de efeitos começa com o papel crucial que as florestas tropicais atuam nas chuvas continentais, onde a transpiração das árvores contribui para aumentar a umidade atmosférica e subsequentes chuvas na direção do vento”, diz o autor.
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Rafael analisou o impacto que o desmatamento da Floresta Amazônica, desde a década de 1980, tem na capacidade de geração de energia da UHE Teles Pires alegando que houve uma diminuição média do potencial de geração de energia entre 2,5% e 10%, podendo chegar a cenários extremos superiores a 17%.
“Concluo que o desmatamento da Amazônia gera uma diminuição média das chuvas de 13% e 8% da média histórica no estado de Mato Grosso nas estações seca e chuvosa, respectivamente. Para a localização específica da fábrica de Teles Pires, esta diminuição varia entre 6% e 10%”, apontou.
De acordo com o estudo, esse declínio de geração de energia, para a central hidroeléctrica, pode ser traduzido em uma perda média anual de aproximadamente R$ 107 milhões por ano, representando cerca de 10% da receita anual da UHE.
Outro ponto elencado por Rafael é o que ele chama de “injustiça ambiental” quanto aos impactos causados pela UHE para com comunidades indígenas e comunidades vizinhas, que sofrem efeitos adversos, devido às alterações no caudal dos rios. Em contrapartida, as mesmas comunidades contribuem para a geração de energia da UHE, ao preservarem a vegetação nativa de seus territórios, fornecendo água, através da circulação atmosférica.
“Este cenário cria uma dupla injustiça ambiental, onde as pessoas podem não ser compensadas pela externalidade positiva que geram através de um serviço ecossistêmico – o fornecimento de chuvas – enquanto suportam o fardo de uma externalidade negativa através de outro serviço ecossistêmico – mudanças no caudal do rio”.
Políticas de conservação
O autor conclui que a pesquisa serve como base para planejar políticas de conservação/restauração a fim de diminuir os impactos das mudanças nas chuvas causadas pelo desmatamento e as mudanças climáticas, visto que, o método de análise pode determinar quais locais específicos da floresta a UHE está mais exposta e, portanto, quais áreas têm maior valor para conservação.
"O desmatamento tem, portanto, um impacto à escala continental na energia hidroeléctrica, que é uma fonte de energia renovável que pode aumentar significativamente a capacidade energética, especialmente nos países em desenvolvimento", conclui
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