ALLAN PEREIRA e LÁZARO THOR
A cerimônia tradicional de casamento do povo Rikbaktsa jamais pode existir sem uma joia essencial para o povo, que vive na beira do rio Arinos: a tutãra.
Feita a partir do molusco Paxyodon syrmatophorus, a tutãra é usada para adornar noivas no cerimonial realizado por este povo indígena. O molusco só é encontrado nessa região do baixo rio Arinos.
A concha produz um incrível arco-íris brilhante, que enfeita as noivas nos casamentos. Pelas mãos dos homens, a tutãra é polida e confeccionada e o colar é concluído pelas mulheres, que tecem o algodão que interligará as várias tutãras, todas em formato de peixes.
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Esse modo de vida ancestral está sob risco por conta da construção da Usina Hidrelétrica Castanheira, prevista para ser construída a 120 km do Rio Arinos.
De acordo com a pesquisadora Simone Athayde, a localização da usina é prejudicial para o rio Arinos e para a bacia Juruena.
Caso a UHE seja construída, o Paxyodon syrmatophorus, nome científico do tutãra, deve desaparecer, assim como a sofisticada peça indumentária homônima, considerada patrimônio ecológico, histórico, paisagístico, artístico e arqueológico.
"A localização do Arinos é bem importante. Foi uma escolha muito ruim de localização [da usina]. Não é questão de que não pode fazer hidrelétrica, mas, especificamente o rio Arinos, o lugar que foi projetado, vai quebrar a conexão da artéria [com Juruena e Tapajós]. Aquela localização é horrorosa", disse.
Adriano Gambarini/OPAN
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Colheita da tutãra no rio Arinos, a joia é utilizada para casamentos tradicionais da etnia (Adriano Gambarini/OPAN)
O rio Arinos, que nasce em Nobres e tem 760 km de extensão, deságua no rio Juruena, que vai desaguar, por sua vez, no rio Tapajós e depois no rio Amazonas.
Simone aponta que a UHE Castanheira é a que mais afeta a conectividade fluvial, uma vez que o projeto de construção está localizado próximo à foz do rio e bloqueia todo o canal entre o Arinos e o Juruena, além de causar prejuízos para a migração de peixes.
"A sub-bacia do rio Arinos é a região com a maior diversidade de espécies de peixes catalogadas na bacia do Juruena. O barramento causará uma perda significativa da conectividade hidrológica na bacia, colocando em ameaça a existência de pelo menos 97 espécies de peixes migratórios”, complementa.
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Yevo aff 27/05/2023
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