ANGELA JORDÃO
DA REDAÇÃO
A defesa do pedreiro Antônio Gomes da Silva, réu confesso pelo assassinato do advogado Roberto Zampieri em 19 dezembro de 2023, ingressou com uma petição na 12ª Vara Criminal de Cuiabá, contestando o inquérito policial do caso e solicitando que sejam reabertas as investigações sobre a suposta participação da empresária Maria Angélica Caixeta Gontijo no crime.
A defesa do pedreiro insinua que as investigações contra Maria Angélica foram arquivadas porque envolveriam questões com grande peso político e econômico.
“Ocorre que a linha de conexões e apoio da investigada direciona a apuração deste fato para outra direção. E essa direção é extremamente plausível, mas também muito mais delicada, pois envolve questões com grande peso político e econômico. É inegável o profundo envolvimento da investigada no delito, considerando o inteiro teor do depoimento prestado ainda em terras mineiras, que acosta ao feito”, diz trecho da petição.
Maria Angélica chegou a ser presa um mês depois do crime, na cidade de Patos de Minas (MG), suspeita de ser a mandante. Ela foi solta em 18 de janeiro de 2023, por determinação da Justiça. O delegado responsável pelo inquérito desistiu de indicia-la apontando falta de provas.
A empresária seria suspeita devido a disputa de terras no interior de Mato Grosso. Ela perdeu uma disputa judicial por uma fazenda de 20 mil hectares no município de Ribeirão Cascalheira (MT), região do Vale do Araguaia. O advogado Roberto Zampieri era parte contrária na ação.
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A defesa de Antônio Gomes da Silva se baseia justamente nos vários casos e processos judiciais de disputa de terras em que Zampieri atuava para justificar a reabertura das investigações contra Maria Angélica. De acordo com o Felipe André Laranjo, advogado do pedreiro, ficou evidenciado que o motivo do assassinato foi a “disputa de terras rurais, envolvendo interessados em posse e direitos, o que gira na casa das dezenas e centenas de milhões de reais”.
“Não é surpresa que a vítima reunia desafetos. Contudo, a abertura dos dados telemáticos demonstrou que há pelo menos 4 ou 5 linhas investigativas óbvias, que foram ignoradas, a partir do momento em que a autoridade policial elegeu arbitrariamente a presente linha de suspeita, apesar das contradições encontradas, dentre elas as mídias de vídeos que nunca foram trazidas à baila, pelo menos no que concerne a defesa do ora peticionário”, alega a defesa de Antônio Gomes.
O advogado Felipe André Laranjo também aponta que a Polícia Civil e o Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) deixaram de analisar as informações telemáticas de Maria Angélica. “O que causa muita estranheza, afinal, sem qualquer investigação a autoridade policial enterra toda investigação sem a devida apuração em relação as diversas provas”, diz a petição, apontando que as informações extraídas do celular de Maria Angélica coincidem em data, local e conteúdo com os motivos que levaram à morte de Zampieri.
A defesa destaca ainda dúvidas em relação ao tipo de armamento usado no crime e fala que fatos novos que apontam que Maria Angélica poderia estar envolvida em um esquema em que posseiros vendiam terras para vários indivíduos e, posteriormente, atuavam com extorsão e coação, para forçar vantagem indevida sobre os compradores, “com ajuste de forças entre a posseira e o advogado”, diz o advogado.
A petição pede que o Ministério Público do Estado do Mato Grosso seja intimado para que esclareça se há investigação em curso contra a investigada (Maria Angélica Caixeta Gontijo), que esclareça seu eventual status e que esclareça a eventual demora em comunicar o juízo sobre os andamentos.
Os réus
A Polícia Civil de Mato Grosso concluiu que o assassinato foi encomendado pelo produtor rural Aníbal Manoel Laurindo, tendo como intermediário do crime o coronel do Exército Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, que contratou Antônio Gomes da Silva. Laurindo e Caçadini também são réus pelo crime. Também é réu, como coautor da execução do homicídio, o instrutor de tiros Hedilerson Fialho Martins Barbosa, dono da arma usada na morte.
De acordo com as investigações o motivo do crime seria uma demanda de duas fazendas em Paranatinga (411 km de Cuiabá), avaliadas em cerca de R$ 100 milhões, e que a perda dessas propriedades na Justiça teria levado Aníbal a mandar matar o advogado. Além disso, o mandante desconfiava de uma suposta aproximação de Zampieri com o desembargador do caso Sebastião Moreas Filho, afastado de suas funções por suspeita de venda de sentenças.
A investigação apontou ainda que Roberto Zampieri era apenas o advogado do fazendeiro que pediu a terra de volta.
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