LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Depoimento da babá Lucilene de Souza Dias Gomes, ex-funcionária da Santos Treinamento (investigada na Operação Bereré), reforçou a tese do Ministério Público Estadual (MPE) de que a empresa era “de fachada”.
Ela admitiu que nunca trabalhou na empresa e que só aceitou ser registrada como colaboradora da firma a pedido de seu então chefe, Roque Reinheimer – sócio da Santos.
A informação consta em depoimento dado no dia 23 de fevereiro ao delegado Sylvio do Vale Junior, da Delegacia Fazendária (Defaz), poucos dias após a operação ser deflagrada.
A suspeita de que a empresa era de fachada surgiu pelo fato de a mesma estar localizada no escritório de um dos sócios, o advogado Antonio Costa, mas sem qualquer indicação de que funcionaria ali, além de já não ter mais nenhum funcionário registrado. O MPE suspeita que a inserção da babá na quadro de funionários ocorreu para dar ares de legalidade à Santos Treinamento.
A Bereré apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 27,7 milhões, que operou de 2009 a 2015.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Entre os beneficiários do esquema, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), está Roque Reinheimer, que admitiu as tratativas ilícitas.
Babá
Na oitiva, Lucilene Gomes (que hoje trabalha como costureira) disse que apesar de constar em sua carteira de trabalho que foi funcionária da Santos Treinamento de 2009 a 2010, na verdade nunca exerceu qualquer função lá e “não sabe informar nem o endereço que a empresa era estabelecida”.
Ela contou que naquele período trabalhava na casa de Roque Reinheimer, no Bairro Bom Clima, próximo à Rodoviária de Cuiabá.
“Fui contratada pela pessoa de Roque Anildo Reinheimer para trabalhar em sua residência como babá de sua filha Maria Eduarda por um salário mínimo. Não me recordo o valor vigente à época”.
Segundo Lucilene, Roque disse que iria registrá-la na empresa para que ela pudesse ter direitos trabalhistas que não teria na condição de babá.
“A minha carteira de trabalho foi devidamente registrada pela empresa Santos Treinamento e Capacitação de Pessoal Ltda, a qual segundo ele [Roque] seria sócio, e quando deixei de trabalhar na residência da pessoa de Roque Reinheimer, este providenciou a baixa da carteira de trabalho”.
“Todo o período em que consta como registrada como funcionária da empresa Santos Treinamento e Capacitação de Pessoal Ltda, exerci a funcão de babá, na residência da pessoa de Roque Anildo Reinheimer”.
Lucilene também afirmou não saber quais serviços a empresa Santos Treinamento prestava.
Veja trecho do depoimento:
A operação
A operação Bereré foi desencadeada em fevereiro com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, em imóveis e escritórios, além da sede da empresa em Brasília.
Foram alvos da operação o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), o deputado estadual Mauro Savi (PSB), o ex-deputado federal Pedro Henry, servidores públicos, empresas e particulares.
A operação é desdobramento da delação premiada do ex-presidente do Detran, Teodoro Moreira Lopes, o "Dóia". Ele revelou esquemas de corrupção na autarquia, iniciados em 2009, e que renderia, ao menos, R$ 1 milhão por mês.
Também contribuíram para a investigação os depoimentos do ex-governador Silval Barbosa e de seu irmão Antonio Barbosa, delatores da Operação Malebolge, que confessaram ter participado do esquema no Detran.
As empresas FDL Serviços de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação Ltda (que agora usa o nome de EIG Mercados Ltda.) e a Santos Treinamento Ltda teriam sido usadas para lavar dinheiro no esquema.
A EIG Mercados venceu uma licitação, em 2009, para prestar serviços de registro de financiamentos de contratos de veículos, por um período de vinte anos.
Até julho de 2015, a empresa ficava com 90% da arrecadação anual - estimada em R$ 25 milhões - e o órgão com 10%. Em julho de 2015, já na gestão Pedro Taques (PSDB), o Detran fez um termo aditivo ao contrato, passando a receber 50% da arrecadação.
Conforme as investigações, parte dos valores milionários pagos pelo Detran à FDL eram repassados para a empresa Santos Treinamento, que seria de fachada e atuaria apenas para “lavar” e distribuir a propina aos políticos. Dezenas de servidores e parentes de servidores do Poder Legislativo também teriam sido usados para lavar o dinheiro arrecadado por meio do esquema criminoso.
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