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JUSTIÇA Quarta-feira, 27 de Janeiro de 2021, 10:59 - A | A

27 de Janeiro de 2021, 10h:59 - A | A

JUSTIÇA / R$ 196 MILHÕES EM DÍVIDAS

Grupo alega "prejuízo em quase tudo" e entra em recuperação

Mafini atua no ramo do agronegócio, imobiliário e de transportes

DIEGO FREDERICI
DO FOLHAMAX



O grupo Mafini – estabelecido em 1984 em Campo Novo do Parecis (389 KM de Cuiabá), e que posteriormente passou a atuar na região de Lucas do Rio Verde (354 KM da Capital) –, teve o processamento de seu pedido de recuperação judicial autorizado pelo Judiciário. A organização, que atua nos setores do agronegócio, imobiliário e de transportes, acumulou uma dívida de R$ 196,3 milhões ao longo das décadas.

O juiz em substituição legal da 4ª Vara Cível de Sinop (500 KM de Cuiabá), Cleber Luis Zeferino de Paula, autorizou o processamento da recuperação judicial atendendo pedido dos advogados Julierme Romero e Rubem Vandoni. De acordo com os autos, o grupo Mafini iniciou suas atividades em 1984 adquirindo uma fazenda de 1.347 hectares em Campo Novo do Parecis, entregando-a pouco depois como parte do pagamento de uma propriedade ainda maior, de 6.500 hectares, no município de Nova Ubiratã (480 KM da Capital).

 

Até o fim dos anos 1990, o grupo Mafini concentrava sua atuação no ramo do agronegócio. Com a fundação da Agromil (Agrícola Mafini Ltda), porém, no ano 2000, o fundador da organização, Aquiles Mafini, adquiriu uma área em Lucas do Rio Verde, de 200 hectares, que acabou transformando-se num loteamento (Residencial Mafini), em 2006, com a vinda de um frigorífico para a cidade.

A propriedade foi dividida em 800 terrenos, com expectativa de faturamento de R$ 24 milhões. O início da derrocada, no entanto, começou justamente onde a empresa tinha expertise – o agronegócio.

 

Em 2014, o grupo havia recebido uma sinalização do Banco da Amazônia de um investimento de R$ 20 milhões para a construção de um armazém com capacidade de 36 mil toneladas de grãos. “Houve uma promessa de liberação de R$ 20 milhões para construção de um armazém com capacidade para 36 mil toneladas de grãos. A promessa é que o recurso seria liberado rapidamente, com isso o grupo iniciou o projeto da obra utilizando recursos próprios, paralelo ao andamento do financiamento na expectativa de que o processo seria ágil”, diz trecho do processo de recuperação judicial.

O investimento, porém, ocorreu só dois anos depois, e em valor abaixo do que havia sido pré-combinado (R$ 13 milhões). Para piorar o cenário, os recursos investidos foram da ordem de R$ 22 milhões.

À partir daí, o grupo começou a sofrer uma série de reveses – inclusive no setor imobiliário. Em 2015, o grupo Mafini foi contratado para construir uma galeria comercial em Lucas do Rio Verde e reclama que foi vítima de um “golpe”. “No ano de 2015, o grupo obteve uma proposta para construção de uma galeria comercial pela empresa Conexões Empreendimentos Ltda., a qual teria aplicado um golpe, indicando que ela vendia os espaços das lojas da galeria e não repassava o percentual cabível ao grupo, além de vender o mesmo espaço para mais de um cliente, causando prejuízo estimado em R$ 3 milhões”, relata a empresa no processo.

O grupo Mafini, então, passou a tocar o projeto da galeria comercial sozinho, transformando o projeto inicial no “Primeiro Shopping Center” de Lucas do Rio Verde. A inauguração estava prevista para 2020.

No entanto, a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) frustrou os negócios uma vez que a organização esperava faturar R$ 350 mil mensais com aluguéis do estabelecimento comercial. Nesse meio tempo, em 2015, duas “invasões” de áreas que pertencem ao grupo também fizeram com que a organização tivesse prejuízos milionários.

Para reaver a área do Residencial Mafini, segundo a organização, foram gastos R$ 2,5 milhões na Justiça. Além disso, a fazenda Agromil I, localizada em Nova Ubiratã, de 2.432 hectares, também foi invadida, causando prejuízos com demandas judiciais da ordem de R$ 5 milhões.

Por fim, a organização, que já chegou a plantar 4.200 hectares de soja e 3.580 hectares de milho em suas terras, reclama da quebra da safra 2019/2020. “Nesse período houve uma quebra de safra e o grupo teve um déficit de 150 mil sacas de soja, gerando um prejuízo na ordem de R$ 22 milhões. As chuvas atrasaram também, a janela de plantio do milho safrinha, pois a estimativa de colheita seria de 420.000 sacas e foram colhidas apenas 180.000 sacas, equivalente a perda de R$ 12 milhões, perdendo o prazo de preparação do solo para plantio e com dificuldade de compra de insumos devido à quebra na safra de soja”, revela outro trecho do processo de recuperação.

No ano passado, o Grupo Mafini foi alvo até mesmo de mandados de busca e apreensão de 6 caminhões adquiridos por meio de um financiamento que não conseguiu honrar, ficando com um prejuízo de R$ 2,76 milhões. A organização estruturou um setor de transportes de grãos apenas para atender sua própria demanda.

RECUPERAÇÃO

Com o processamento admitido pela 4ª Vara Cível de Sinop, a empresa tem 60 dias para apresentar seu plano de recuperação aos credores. Durante 180 dias, ações de execução fiscal, promovidas por outras organizações contra a recuperanda, ficam suspensas (período de blindagem).

Após a finalização do plano de recuperação, ele é apresentado na assembleia de credores, que poderá aceita-lo, modifica-lo ou rejeitá-lo – neste último caso a Justiça decreta a falência da empresa.

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