LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
O ex-presidente do Detran-MT e delator da Operação Bereré, Teodoro Lopes, o “Dóia”, afirmou que emprestou um cheque de R$ 112,3 mil ao deputado Mauro Savi, na campanha de 2010, por meio de caixa dois (dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral).
A informação consta nas tratativas do acordo de colaboração premiada firmado por Dóia com o Ministério Público Estadual (MPE), relativo à Operação Bereré, deflagrada no mês passado e que teve Savi como um dos alvos.
A operação apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 27,7 milhões, que operou de 2009 a 2015.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
O valor decorrente da troca desse cheque foi destinado a pagamento de despesas de campanhas não contabilizadas
Na delação, Dóia disse que assumiu a presidência da autarquia em 2009 por indicação de Mauro Savi e que o parlamentar era um dos maiores beneficiários do esquema de propina.
Durante a campanha de 2010, conforme a delação, Dóia emprestou o cheque a Savi “em razão de sua amizade pessoal”, para que o deputado trocasse junto a factorings.
Naquele pleito, Savi foi eleito para o terceiro mandato com 47.663 votos.
“O valor decorrente da troca desse cheque foi destinado a pagamento de despesas de campanhas não contabilizadas”.
Dóia contou que o cheque foi depositado em sua conta no Banco do Brasil e devolvido por falta de fundos, “sendo que o mesmo foi resgatado pelo beneficiário, o deputado Mauro Savi diretamente na factoring”.
“O endosso no verso do cheque foi realizado pelo próprio deputado Mauro Savi, que assinou Mauro Luiz Savi, acrescido do CPF”.
Outro lado
Em nota, o deputado Mauro Savi afirmou que irá se pronunciar sobre o caso apenas no âmbito do inquérito e que está à disposição da Justiça.
Veja trecho do depoimento:
A operação
A operação Bereré foi desencadeada em fevereiro com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, em imóveis e escritórios, além da sede da empresa em Brasília.
São alvos da operação o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), o deputado estadual Mauro Savi (PSB), o ex-deputado federal Pedro Henry, servidores públicos, empresas e particulares.
A operação é desdobramento da delação premiada do ex-presidente do Detran, Teodoro Moreira Lopes, o "Dóia". Ele revelou esquemas de corrupção na autarquia, iniciados em 2009, e que renderia, ao menos, R$ 1 milhão por mês.
As empresas FDL Serviços de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação Ltda (que agora usa o nome de EIG Mercados Ltda.) e a Santos Treinamento Ltda teriam sido usadas para lavar dinheiro no esquema.
A EIG Mercados venceu uma licitação, em 2009, para prestar serviços de registro de financiamentos de contratos de veículos, por um período de vinte anos.
Até julho de 2015, a empresa ficava com 90% da arrecadação anual - estimada em R$ 25 milhões - e o órgão com 10%. Em julho de 2015, já na gestão Pedro Taques (PSDB), o Detran fez um termo aditivo ao contrato, passando a receber 50% da arrecadação.
Conforme as investigações, parte dos valores milionários pagos pelo Detran à FDL eram repassados para a empresa Santos Treinamento, que seria de fachada e atuaria apenas para “lavar” e distribuir a propina aos políticos. Dezenas de servidores e parentes de servidores do Poder Legislativo também teriam sido usados para lavar o dinheiro arrecadado por meio do esquema criminoso.
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