LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
O deputado estadual José Domingos Fraga (PSD) teria usado a conta de seu então assessor Jorge Batista da Graça, em 2014, para depositar um cheque e receber uma transferência, totalizando R$ 100 mil, oriundos do empresário Claudemir Pereira, à época sócio da Santos Treinamento, empresa investigada na Operação Bereré.
A informação foi dada pelo próprio ex-assessor, que desde 2016 trabalha como agricultor, em depoimento ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
A operação, deflagrada no mês passado, apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 27,7 milhões, que operou de 2009 a 2015. José Domingos não foi alvo da Bereré.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran-MT retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Esse dinheiro foi utilizado para o pagamento de contas/boletos do deputado José Domingos [...] José Domingos nunca comentou o motivo desses valores serem creditados em sua conta bancária
Jorge da Graça foi intimado a depor em razão de o Gaeco ter descoberto que ele recebeu um cheque e uma transferência em sua conta, no valor de R$ 50 mil cada, em fevereiro de 2014. Os valores foram emitidos por Claudemir Pereira dos Santos, sócio da Santos Treinamento de 20/06/2006 a 09/03/2015.
“Homem de confiança”
O agora agricultor contou aos promotores de Justiça do Gaeco que atou na campanha eleitoral de Zé Domingos, em 2016, e a partir do ano seguinte foi convidado para trabalhar como assessor do político, “inicialmente para cuidar dos processos relacionados ao Incra”.
José da Graça disse que recebia salário de R$ 3,4 mil para trabalhar com o parlamentar.
“Tempos depois virei ‘homem de confiança’ do deputado José Domingos, acompanhando o deputado em suas viagens no interior do Estado e responsável pela administração de todos os gastos e despesas do deputado”, disse ele, que foi desligado dos quadros da Assembleia em março de 2006.
Ele contou que o cheque de R$ 50 mil oriundo de Claudemir Pereira foi entregue por José Domingos para depósito na conta do então assessor.
Segundo José da Graça, o mesmo ocorreu com a transferência bancária de R$ 50 mil, ocasião em que o deputado ligou pedindo seus dados bancários para fazer a transação.
“Esse dinheiro foi utilizado para o pagamento de contas/boletos do deputado José Domingos [...] José Domingos nunca comentou o motivo desses valores serem creditados em sua conta bancária”.
O ex-assessor relatou que em nenhum momento sacou os valores para repassar ao deputado, sendo que todo o montante foi usado para pagar as contas do político.
“Não tinha conhecimento da procedência desses valores movimentados em minha conta bancária”, concluiu.
Outro lado
A assessoria do deputado José Domingos disse que tentou buscar um posicionamento na manhã desta terça-feira, mas não conseguiu. Segundo a assessoria, o político está de repouso, pois passou recentemente por um procedimento cirúrgico.
Veja trecho do depoimento:
A operação
A operação Bereré foi desencadeada em fevereiro com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, em imóveis e escritórios, além da sede da empresa em Brasília.
São alvos da operação o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), o deputado estadual Mauro Savi (PSB), o ex-deputado federal Pedro Henry, servidores públicos, empresas e particulares.
A operação é desdobramento da delação premiada do ex-presidente do Detran, Teodoro Moreira Lopes, o "Dóia". Ele revelou esquemas de corrupção na autarquia, iniciados em 2009, e que renderia, ao menos, R$ 1 milhão por mês.
As empresas FDL Serviços de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação Ltda (que agora usa o nome de EIG Mercados Ltda.) e a Santos Treinamento Ltda teriam sido usadas para lavar dinheiro no esquema.
A EIG Mercados venceu uma licitação, em 2009, para prestar serviços de registro de financiamentos de contratos de veículos, por um período de vinte anos.
Até julho de 2015, a empresa ficava com 90% da arrecadação anual - estimada em R$ 25 milhões - e o órgão com 10%. Em julho de 2015, já na gestão Pedro Taques (PSDB), o Detran fez um termo aditivo ao contrato, passando a receber 50% da arrecadação.
Conforme as investigações, parte dos valores milionários pagos pelo Detran à FDL eram repassados para a empresa Santos Treinamento, que seria de fachada e atuaria apenas para “lavar” e distribuir a propina aos políticos. Dezenas de servidores e parentes de servidores do Poder Legislativo também teriam sido usados para lavar o dinheiro arrecadado por meio do esquema criminoso.
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