CECÍLIA NOBRE
Da Redação
Além da denúncia de violência doméstica registrada pela personal trainer Débora Sander, de 43 anos, contra o ex-marido, Sanderson Ferreira de Castro Souza, na segunda-feira (19), o policial civil também passou por um inquérito policial, no ano de 2019, após coagir, difamar e perseguir a amiga, H.K.G.S., depois que ela aconselhou a falecida Daiane Tonetta Neitzke, de 26 anos, a terminar o relacionamento com o policial.
À época, H.K.G.S. registrou um boletim de ocorrência, onde detalha que vinha sofrendo perseguição por parte de Sanderson, via mensagens em grupos de WhatsApp.
A vítima disse que conhece o policial há 14 anos e que frequentava a casa dele, pois estava em um relacionamento com um dos amigos com quem Sanderson dividia a moradia. De acordo com o relato, H.K.G.S. disse que, em outubro de 2018, Daiane entrou em contato com ela, por mensagens, dizendo que estava sofrendo ameaças de Sanderson, com quem tinha um relacionamento amoroso e que não conseguia se separar dele, pois o mesmo não aceitava.
Diante da situação, H.K.G.S., disse que aconselhou Daiane a terminar o relacionamento e buscar ajuda em uma Delegacia de Polícia. Segundo a vítima, Sanderson teve acesso às mensagens trocadas entre elas, momento em que removeu H.K.G.S. de um grupo de WhatsApp. Pouco tempo depois, ela foi adicionada em outro grupo ao qual o policial também fazia parte, momento em que Sanderson começou a insultá-la.
“Tranqueira já falou hoje no grupo? Essa que eu não cito nome, que todo mundo sabe quem é e odeia porque é biscatinha, macumbeira, desgraçada, golpista, analfabeta”, diz trecho das ofensas direcionadas a vítima escritas por Sanderson.
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A mulher disse ainda que sempre que interagia no referido grupo, o policial começava a ofendê-la e mesmo sem citar seu nome, todos os membros da plataforma sabiam que ele estava falando dela.
Em agosto de 2019, H.K.G.S. estava em um bar, com outros amigos, e depois foram até a casa de Sanderson, onde um dos colegas morava, e ficaram no local bebendo. Segundo ela, em nenhum momento o policial saiu de seu quarto, sendo que ela foi embora por volta das 5h25.
Alguns dias depois, a vítima disse que Sanderson a atacou novamente no grupo enviando o seguinte áudio: “Tem tranqueira que veio aqui em casa sabendo que eu não gosto dela dar o golpe, pois queria beber na beira da piscina, Deus me livre essa macumbeira desgraçada vir aqui em casapra colocar mal olhado, sabe que não gosto dela e veio aqui em casa foder em cima da mesa e eu tenho um vídeo massa, essa minha sacada aqui é boa para filmar tudo que acontece na beira da piscina”.
Depois disso, diversos membros do grupo procuraram a vítima e disseram para que ela desconsiderasse as ofensas de Sanderson, pois o mesmo estava “fazendo pirraça”, após descobrir que ela havia aconselhado Daiane a terminar com ele. Conforme os dias passavam, Sanderson continuava a ofender H.K.G.S. e outras mulheres.
Em um desses momentos as vítimas se mostraram incomodadas com a situação e se pronunciaram no grupo, pedindo que o policial parasse de difamá-las. Depois disso, ela e outra integrante do grupo foram até uma delegacia e cada uma registrou um boletim de ocorrência contra o policial. À época, ambas solicitaram medidas protetivas, tendo H.K.G.S. destacado que sentia muito medo de Sanderson pois o mesmo estaria “descontrolado”, somado ao fato de ser policial civil, andar armado e beber excessivamente.
Policial negou tudo
Intimado a prestar esclarecimentos, Sanders alegou que “bebe socialmente”, que nunca falou diretamente com H.K.G.S. e que apenas deu sua “opinião com relação a umbanda”, dizendo que não acreditava na religião e que macumba “só pega em quem acredita”.
Quanto às ofensas proferidas no grupo de WhatsApp, o policial disse que falou de maneira geral e que H.K.G.S. tomou sua “opinião” como se fosse direcionada a ela.
Sobre ter realizado filmagens íntimas da vítima com um de seus colegas, em sua casa, Sanderson também negou e disse que no dia em que o grupo foi até sua casa ele não estava lá e o caso citado no WhatsApp era direcionado a outras pessoas e não a H.K.G.S.
MP pede extinção de punibilidade
Em abril de 2021, o Ministério Público Estadual (MPE), por meio da promotora de Justiça, Elisamara Sigles Vodonós Portela, apontou que os delitos de calúnia, injúria e difamação, tratam-se de crimes de ação de iniciativa privada e devido ao longo lapso temporal sem que a vítima tenha se manifestado, houve decadência no direito de queixa, deixando transcorrer o prazo para ingressar com a competente queixa-crime.
“Assim, tendo em vista a decadência do direito de apresentar a queixa crime pelos delitos de injúria, calúnia e difamação, o Ministério Público requer seja julgada extinta a punibilidade, nos termos dos arts. 107, IV e 109,VI, ambos do Código Penal, procedendo-se ao arquivamento do inquérito policial”, apontou o MPE.
Diante disso, em maio do mesmo ano, o juiz Jeverson Luiz Quintieri, da 2ª Vara Especializada em Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, acolheu o parecer do Ministério Público e arquivou o processo.
Suposto suicídio de companheira
Em 2020, a então namorada do policial, Daiane Tonetta Neitzke, de 26 anos, tirou a própria vida com a arma de Sanderson, em um suposto caso de suicídio que foi contestado pela família da vítima.
Segundo informações da Polícia Militar, na noite de 4 de maio daquele ano, a equipe recebeu a denúncia de que um homem mantinha sua esposa refém. Ao chegar no local, os PMs encontraram a mulher sem vida.
O irmão de Daiane, Anderson Tonetta, afirmou na época que a jovem era diariamente vista com hematomas roxos pelo corpo e, por isso, a família não aprovava o relacionamento com o policial civil que, até então, era lotado na Polinter.
Anderson também alegou que a convivência do casal era conturbada e que o investigador não permitia que a irmã tivesse contato com algumas pessoas.
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