LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Anotações contidas em agenda que pertence ao advogado Júio César Rodrigues, réu da Operação Ventríloquo, diziam para “ferrar” com o ex-deputado José Riva, com o deputado Romoaldo Júnior, com o banco HSBC, com “sua OAB”, e com pessoas identificadas apenas como “procurador do Estado e procurador da Assembleia”.
A agenda foi apreendida durante a prisão do advogado, efetuada em São Paulo, em agosto do ano passado. Atualmente, ele está recolhido no Centro de Custódia da Capital.
Ele é apontado como “lobista” do suposto esquema investigado na ação, que teria desviado R$ 9,4 milhões da Assembleia Legislativa, por meio da concessão indevida de créditos ao então advogado do HSBC, Joaquim Mielli. No total, Julio César teria recebido R$ 340 mil na tratativa.
Há possibilidade de que a anotação “HSBC” e “sua OAB” se refira ao advogado Joaquim Mielli, que recentemente teve seu registro profissional na OAB suspenso pelo prazo de 1 ano, por ter se apropriado dos créditos devidos pela Assembleia ao banco.
Já a anotação “procurador da Assembleia”, em tese, pode fazer alusão ao ex-procurador da Assembleia Anderson Flávio Godoi, também réu na ação e autor do parecer que opinou pela liberação dos créditos.
A juntada da agenda no processo levou a defesa de José Riva, apontado como líder do alegado esquema, a requerer uma perícia para averiguar se o autor das anotações é ou não o advogado Julio Cesar Rodrigues.
“Nesses termos, levantam-se dúvidas, quiçá a indevida antecipação da tese defensiva: quem teria o interesse de “ferrar” com o requerido? Ou seja, por que motivo o corréu Julio César teria uma notação desse tipo? Elas pertenciam efetivamente a ele ou a outra pessoa?”, questionaram os advogados Rodrigo Mudrovitsch, George Alves, Felipe Carvalho e Luis Pereira Filho.
Outra anotação colocada sob suspeita pela defesa de José Riva faria alusão à distribuição dos valores supostamente desviados.
“Por esses motivos, é imperiosa a realização de perícia grafotécnica nos documentos [...], único meio hábil de comprovar a autoria de tais anotações que, muito além de revelar quem tinha o interesse de “ferrar” com o requerido, pode demonstrar quem, supostamente, coordenou o hipotético repasse de valores”, disse a defesa, em pedido feito à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
Além da perícia, a defesa pediu que todas as testemunhas arroladas na ação – inclusive o delator Joaquim Mielli – prestem novo depoimento para esclarecer os dados contidos na agenda do advogado.
Também foi solicitado que a juíza oficie o Ministério Público a esclarecer o porquê de as anotações contidas na agenda só terem sido juntadas na ação seis meses após ela ter sido proposta, “revelando-os somente após esse I. Juízo ter determinado o interrogatório antecipado do corréu Julio César e Anderson Godoi, às vésperas da conclusão da instrução processual”.
“É de se causar estranheza o teor de tais anotações, que externam, expressamente, o desejo de prejudicar a pessoa do requerido [Riva]”, disse a defesa.
Suposta extorsão a Romoaldo
Além da anotação da agenda, as investigações da Ventríloquo apontam que o advogado Julio Cesar Rodrigues teria tentado extorquir o deputado Romoaldo Junior, em julho do ano passado.
O suposto crime teria ocorrido por meio de mensagens enviadas ao irmão do parlamentar, Juliano Jorge Boraczynski, cujo teor dizia: “Tenho seu mano gravado várias vezes... Quero um milhão para segurar a bronca toda.. Vocês têm três dias”.
A alegada tentativa de extorsão do deputado estadual, assim como a alegação de que não foi o autor da mensagem de texto, fez com que, em audiência realizada no dia 11 de dezembro de 2015, a juíza Selma Arruda decidisse pela permanência da prisão preventiva de Júlio Cesar.
“O motivo principal da minha decisão é, exatamente, a constatação da sua periculosidade e da sua capacidade de usar de ardis, para conseguir os seus objetivos escusos. Essa constatação não é absoluta, pois ainda não estou sentenciando. Quando decretei a prisão, foi para garantir a segurança processual e a ordem pública. Agora, eu mantive não mais pela necessidade de garantia as instruções, mas fundada no meu entendimento, de que, se tratando do senhor, é muito perigoso substituir a prisão preventiva por uma medida cautelar”, afirmou ela.
Além de Julio César Rodrigues e José Riva, são réus da ação penal o ex-secretário de Finanças da Assembleia Legislativa, Luiz Pommot, e o ex-procurador jurídico do órgão, Anderson Flávio Godoy.
Também correm investigações no Tribunal de Justiça de Mato Grosso contra deputados citados na operação, incluindo Romoaldo Junior, uma vez que ele ocupava a Mesa Diretora da Assembleia quando o pagamento foi liberado.
O parlamentar, em depoimento ao Gaeco em maio de 2015, negou qualquer envolvimento e ressaltou que toda a negociação sobre o pagamento havia sido feita por Riva - que estava afastado da presidência por ordem judicial.
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