CORONEL FERNANDA
O debate sobre a instalação de câmeras em policiais militares vem ganhando força no Brasil. O Governo Federal tem insistido na implementação deste aparato nas forças de segurança, destinando somas milionárias para tal. Recentemente, o Ministério da Justiça e Segurança Pública anunciou o repasse de R$ 27,8 milhões para adquirir 2 mil câmeras para a Polícia Militar de São Paulo.
Embora a ideia de câmeras corporais possa parecer moderna e alinhada com boas práticas de outros países, ela desconsidera as reais necessidades das forças de segurança no Brasil, principalmente neste momento.
Enquanto parlamentar, cidadã e coronel, não posso deixar de apontar o que deveria ser prioridade: pessoas. O principal problema da segurança pública hoje é a falta de efetivo. Não há homens suficientes nas ruas para garantir a segurança da população e é mais do que urgente a reposição de efetivo, algo que não vemos o Governo Federal tratar com a devida seriedade e necessidade.
Além disso, os profissionais que hoje estão na ativa carecem de treinamento contínuo. Na prática, o treinamento para o uso de armas letais ocorre no início da carreira e, depois disso, é raro e insuficiente. Quando realizado, são poucas horas, o que é inaceitável, considerando o risco que esses homens e mulheres enfrentam diariamente. Investir em treinamento de armas letais, eu sei, é caro, mas indispensável.
Outro ponto negligenciado é o apoio psicológico aos nossos agentes de segurança. Nunca vimos tantos surtos de policiais como agora. É cada vez mais comum casos de depressão e até de suicídio entre esses profissionais, reflexo da falta de acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Como esperar que esses homens e mulheres consigam desempenhar suas funções sem o devido suporte emocional?
O Governo Federal, ao priorizar as câmeras corporais, está invertendo completamente as prioridades. Não adianta ter câmeras se faltam policiais nas ruas. Não adianta ter armas se não há quem as manuseie. Não adianta ter armamento se o profissional não está adequadamente treinado ou em condições psicológicas para agir.
A verdadeira modernização da segurança pública passa pela valorização do capital humano: mais efetivo, mais treinamento, mais cuidado com a saúde mental dos nossos agentes.
Câmeras corporais podem ser um recurso interessante no futuro, mas, neste momento, representam um desperdício de recursos que poderiam ser melhor aplicados em áreas críticas. A segurança pública precisa de investimentos urgentes em pessoas, não em tecnologia que, sozinha, não resolverá os problemas enfrentados por quem está na linha de frente.
É preciso que Governo Federal e os governos estaduais mudem o foco urgentemente. Cabe ao Governo Federal subsidiar e financiar os governos estaduais na garantia de melhoria da prestação de serviço dos policiais militares.
Hoje, o que precisamos é de efetivo, de treinamento, de apoio psicológico e precisamos, hoje e sempre, que todos os agentes de segurança pública de nosso país sejam valorizados e colocados em primeiro lugar. Sem isso, qualquer outro investimento será ineficaz. O Brasil precisa de segurança de verdade, não de soluções superficiais.
*Coronel Fernanda é deputada federal em Mato Grosso
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