DA REDAÇÃO
Se com uma única decisão, a sua cidade pudesse investir em sustentabilidade, saúde e conforto no curto prazo e economia de recursos no longo prazo, você aceitaria? Se sim, uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) pode ser o caminho, pois analisou a viabilidade técnica e econômica para a implantação de ônibus elétricos em Cuiabá e concluiu que não só é possível, como pode ter um retorno do investimento em menos de 8 anos.
Realizada pela estudante de Engenharia Elétrica (agora formada), Brenda Montes Cardoso Farah, como trabalho de conclusão de curso oriundo de um projeto de pesquisa da qual fez parte durante a graduação, a pesquisa contou com um levantamento de dados sobre a frota e linhas que serão utilizadas no BRT (Bus Rapid Transit) após sua conclusão; especificações e dimensionamento das capacidades dos modelos elétricos já utilizados em outras cidades; demandas de infraestrutura necessárias para a nova frota; e, principalmente, comparação de custos em relação ao uso dos atuais ônibus à Diesel.
De acordo com Brenda, o que motivou sua pesquisa foi a importância da mobilidade elétrica urbana atualmente, principalmente no contexto de mudanças climáticas e da urgência na redução de emissões de gases do efeito estufa.
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“Falando também do ponto de vista de uma usuária de transporte público diariamente, ter a opção de usufruir de uma tecnologia superior durante o trajeto, com menos poluição, menos barulho e modelos mais modernos, é algo que afeta a nossa qualidade de vida”, completou.
O artigo deixa claro que o investimento em ônibus elétricos não é barato. Em seu levantamento, Brenda viu que a aquisição de um modelo articulado a diesel custaria aproximadamente R$1,8 milhões de reais (Volvo 21m), menos da metade se comparado com o custo de um modelo elétrico (BYD D11A 23m) e da infraestrutura de recarga necessária para o mesmo, R$3,42 milhões e R$250 mil, respectivamente.
Entretanto, a longo prazo, a história é outra. A redução de custos com combustível fóssil, comparado com os gastos em energia elétrica, é tamanha, que o retorno do investimento pôde ser estimado em 7 anos.
“Os resultados indicam que em 4 das 5 linhas do BRT, os ônibus poderiam atender o número de viagens diárias sem a necessidade de recarga durante o dia, permitindo aproveitar o custo da energia mais baixo e totalizando um gasto de R$350 mil por mês para uma frota de 50 ônibus. A mesma frota, de Diesel, por outro lado, teria um custo de quase R$1,5 milhões para realizar o mesmo trabalho”, apontou.
E a pesquisa ainda considerou o aumento do custo da energia elétrica ao longo do dia, demonstrando que mesmo nas piores condições de carregamento (duas cargas de 6h por dia, sendo metade com o valor mais alto da tarifa), ainda seria possível ver uma economia mensal superior à de R$500 mil com a mudança, conforme o gráfico abaixo:
Reprodução
Isso sem contar a possibilidade de ampliar a economia com a incorporação de placas fotovoltaicas no carregamento da frota, removendo mais de 60% dos custos com energia elétrica no processo.
Ainda assim, a pesquisadora alerta para a necessidade de outras adaptações cujos custos não foram contabilizados. “Esses ônibus precisam de uma garagem maior, devido à infraestrutura de recarga. Também de mão de obra especializada, tanto para a manutenção quanto para a operação, uma vez que não se dirige um ônibus elétrico da mesma maneira que um convencional. E, ainda, seria necessário um estudo da rede de distribuição de energia no local destinado à garagem, com a possibilidade de implantação de uma subestação ou da substituição do transformador, devido ao aumento de demanda de energia elétrica no local”, completou.
Mas a questão vai bem além do dinheiro.“Existem tantos esforços sendo tomados por países afora para redução de emissão de CO2 e o Brasil segue atrasado, com recordes de temperatura sendo quebrados por cada onda de calor que passa”.
De acordo com Brenda, a substituição de cada ônibus do BRT a diesel pelo elétrico significa uma redução de quase 8 mil toneladas de CO2 por ano, totalizando em quase 400 mil toneladas do gás que deixariam de ser emitidas na atmosfera pela frota.
“Não é um ônibus que vai salvar o mundo, mas é um ônibus que pode ser o pontapé inicial, que pode inserir este tópico em discussão nos municípios, nas cidades, que pode incentivar a população na adoção deste tipo de tecnologia, e que possamos cada vez mais caminhar para opções que ajudem a mitigar a catástrofe climática”, concluiu.
Brenda Farah é formada pela UFMT em Engenharia Elétrica; a pesquisa foi financiada pela FAPEMAT no edital nº. 05/2022 Mulheres e meninas na computação, engenharias, ciências exatas e da terra(FAPEMAT.0000428/2022), a qual também foi premiada no Congresso Nacional sobre Mobilidade Elétrica (C-MOVE 2023) em Brasília, junto das colegas Amanda Perussi e Bianca Inocência, e desenvolveu o trabalho sob supervisão da professora Camila Fantin e do professor Jackson Bonaldo. Atualmente Brenda compõe a equipe de engenharia da empresa CCR Montagens Industriais em Cuiabá-MT.
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