THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO
O advogado Julio César Rodrigues, lobista e novo delator da Operação Ventríloquo, entregou para Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) um vídeo de uma discussão que teve com o chefe de gabinete do deputado estadual Romoaldo Junior (PMDB), Francivaldo Mendes Pacheco, motivada pela “divisão” da propina.
Francisvaldo Mendes, o "Dico", foi preso pelo Gaeco na tarde de quarta-feira (5), na deflagração da segunda fase da operação, denominada Filhos de Gepeto.
A ação apura suposto esquema que teria desviado R$ 9,4 milhões da Assembleia Legislativa, por meio de pagamentos indevidos ao então advogado do HSBC e delator dos crimes, Joaquim Fábio Mielli Camargo. Os pagamentos eram referentes a uma dívida do Legislativo com o antigo Seguro Saúde Bamerindus. Do valor total pago, segundo o Gaeco, a maior parte voltou para os membros do suposto esquema.
No vídeo (veja abaixo), Francisvaldo cobra a porcentagem da propina para ele e o deputado Romoaldo. A reunião ocorreu no dia 29 de abril de 2014 no gabinete do parlamentar. No local também estava presente o advogado Joaquim Mielli, que agora pode ter a delação anulada por tentar ocultar a participação do deputado.
Conforme o Ministério Público Estadual, ao final das tratativas, o parlamentar faturou R$ 500 mil. Já o chefe de gabinete ficou com R$ R$ 301,9 mil.
No vídeo, Julio César reclama dos valores a mais que o combinado que Romoaldo e ele estariam a exigir.
O advogado também afirma, no vídeo, que o negócio ilegal foi solucionado pelo então deputado José Riva, e que iria entregar a propina para ele.
Julio César – Eu fechei o negócio com o Riva.
Francisvaldo – Toda vez que foi ouvido pelo Riva foi através do Romoaldo.
Julio César – Que, o cacete cara. Você está querendo pegar uma carona.
Nesse momento Francisvaldo tenta se explicar, mas Julio interrompe.
Julio César – Dá licença, deixa eu terminar. Aí eu comecei a negociar com o Riva a porcentagem.
Francisvaldo – Você sozinho?
Julio César – É, eu que negociei a porcentagem com o Riva. A sua fase passou amigo, a sua fase passou aí eu fechei o negócio com o Riva. Fechei 45%.
Francisvaldo – O problema é o seguinte.
Julio César – Não tem problema, ai eu fechei com o Riva 45, certo.
Francisvaldo – Aí você fechou o que com Romoaldo?
Julio César – Aí o negócio começou a demorar e o Romoaldo falou assim, se não dá para 350 me dá 250, aí conseguiu abaixar. Aí foi para 100.
Francisvaldo – Quem foi que conseguiu baixar? Você?
Julio César – Você abaixou o que?
Francisvaldo – Quem que levou mais dinheiro nessa porrada toda?
Julio César – Romoaldo cara.
Francisvaldo – Esse meu caralho. O Julio fala comigo que eu não sou moleque. E outra você combinou uma coisa no negócio e você quer voltar atrás.
Julio César – Eu combinei pra você resolver e você não resolveu porra nenhuma e o Romoaldo também não resolveu porra nenhuma. Eu dei na sua mão para você resolver. E quem manda aí é Riva.
Francisvaldo – Também não é assim, não é assim não cara, as coisas não é assim.
Julio César – Como não é?
Francisvaldo – Você fez compromisso. Quem assinou foi o Romoaldo.
Julio Cesar – Você resolveu? O que você resolveu?
Francisvaldo – Resolvi, fiquei correndo atrás.
Julio César - Que você correu atrás bicho, tomei chá de cadeira de quatro horas.
Joaquim Mielli – Era essa situação que eu não gostaria que chegasse.
Julio César – Mas a verdade tem que ser colocada. Quer dizer que agora eu vou ficar chupando dedo?
Francisvaldo – Cara eu não sei como é que fica foi você que prometeu.
Julio César – Pra você resolver, mas você não resolveu.
Francivaldo – Para cara. Resolvi tudo.
Julio César – Puta que pariu. Você é muito liso. Quem resolveu foi Riva. Você não conseguiu nem se acertar com o Márcio (Pommot) - então secretário de geral da Assembleia.
Mielli – Essa discussão de vocês não vai levar a nada.
Julio César – Vocês são loucos, vocês são loucos. Esse negócio. Vocês insistirem vou complicar a vida de vocês.
Francisvaldo – Vai fuder. Você tá ameaçando?
Julio César – Eu não ameaço, não to ameaçando. Eu vou acertar com Riva, essa última parcela, você pode voltar lá e falar para o Romoaldo, eu vou pagar para o Riva. Se o Riva falar para mim que é para pagar para fulano, que dá para pagar para tiazinha da esquina, eu pago.
Francisvaldo – Beleza, ele (Romoaldo) vai te ligar e você resolve com ele.
Julio César – Romoaldo levou mais de não sei quanto ai, falaram na minha cara.
Francisvaldo – Bicho você quer ganhar, você tem o direito de ganhar o que você quiser, eu nem sei o quanto você tá ganhando Julio, problema seu.
Julio César – Você quer saber o que, o que você quer saber da minha vida, que quer saber do meu negócio porra. Eu sei que vocês levaram o meu.
Francivaldo – Porque você promete.
Julio César – Prometi para você resolver cara, mas você não resolveu cara, será que sua cabeça não entende? Ou você é xarope?.
Francisvaldo – Não vou discutir com você aqui dentro do gabinete.
Julio César – Verdade é verdade. Eu vou pagar para o Riva.
A nova denúncia
Na nova denúncia, o MPE afirma que no período compreendido entre os anos de 2013 e 2014, os acusados, bem como outros agentes e Parlamentares Estaduais, "constituíram uma organização criminosa estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o fito de saquear os cofres públicos, notadamente os recursos públicos da Assembleia Legislativa".
Os promotores esclareceram que os "investigados teriam ocultado e dissimulado a natureza e a origem dos valores provenientes de infração penal (lavagem de capitais)".
Com relação aos parlamentares, as investigações estão em andamento no Tribunal de Justiça, em razão do foro por prerrogativa de função.
O MPE também disse na denúncia que, logo após a deflagração da primeira fase da Operação Ventríloquo, em julho de 2015, já sabendo que tinha sido expedido em seu desfavor mandado de prisão preventiva, Julio Cesar tentou extorquir Romoaldo Júnior a lhe entregar a quantia de R$ 1 milhão, mediante ameaça de entregar à Justiça o áudio de uma conversa mantida entre ambos.
Segundo o apurado, no dia 7 de julho de 2015, por volta das 14 horas, Julio Cesar encaminhou um SMS de seu celular para o telefone do irmão de Romoaldo, Juliano Jorge Boraczynki, exigindo a entrega de dinheiro, sob pena de entregar o áudio ao Gaeco.
Conforme a denúncia, a mensagem encaminhada foi a seguinte: “Tenho seu mano gravado várias vezes...Quero um milhão para segurar a bronca toda..Vocês têm 3 dias”. Logo em seguida encaminhou outra com os seguintes dizeres: “Sim ou não?”.
De acordo com os integrantes do Gaeco, as razões apontadas para embasar o pedido de prisão preventiva de Francisvaldo também se aplicam a Romoaldo e Mielli, já que o "falseamento da verdade com vistas a prejudicar as investigações se deu em conluio e conjugação de esforços dos acima nominados".
No entanto, com relação a Mielli, segundo o Gaeco, é necessário que ocorra o "reconhecimento judicial de causa rescisória da colaboração premiada (já requerido pelo Gaeco e Naco)".
Já em relação a Romoaldo, cuja investigação corre em segunda instância, por força de foro por prerrogativa de função, a legislação proíbe a decretação de prisão preventiva de parlamentar estadual, motivo pelo qual os promotores pediram apenas a decretação da prisão preventiva de seu chefe de gabinete.
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