ALLAN PEREIRA E LÁZARO THOR
Da Redação
Uma investigadora de Mato Grosso é investigada pela Corregedoria-Geral da Polícia Judiciária Civil por suposta prática de corrupção passiva e violação do sigilo funcional.
De acordo com o inquérito ao qual o MidiaJur teve acesso, a servidora teria prestado informações e ajudado os réus no caso do homicídio do policial militar da reserva Noel Marques da Silva, que ocorreu em agosto de 2020. As investigações apontam que ela teria recebido até R$ 2 mil pelos serviços prestados. Os réus também estão envolvidos na morte do filho do militar, Noel Marques da Silva Júnior, assassinado sete meses depois do pai, por cobrar da polícia a resolução do caso.
Segundo o inquérito da Corregedoria, a indicação de um suposto envolvimento da investigadora veio durante a apuração da morte do militar Noel, que teve a morte encomendada pela esposa Tatiane Borralho Oliveira Silva para ficar com a aposentadoria da vítima.
Participaram ainda da ação criminosa, segundo a Polícia Civil, a mãe e o amante de Tatiane – Ana Lopes Borralho Filho de Oliveira e Cleyton Cosme de Figueiredo, respectivamente. A mulher teria incentivado a filha a encomendar a morte, que foi executada por Cleyton. Todos estão presos atualmente.
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A partir de interceptações telefônicas e perícia nos celulares dos réus, a Corregedoria recebeu provas que levaram a Polícia Civil e o Ministério Público a suspeita de que a servidora tentou atrapalhar as investigações e causar embraço ao trabalho realizado pelos próprios colegas na Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).
O compartilhamento de provas do caso do homicídio de Noel foi autorizado pela juíza Mônica Catarina Perri Siqueira, da 12ª Vara Criminal de Cuiabá, em uma medida cautelar que tramitou de forma sigilosa. Na decisão, a magistrada cita na integra seis constatações encontradas pelos demais investigadores da Polícia Civil.
Conforme a primeira constatação, após 11 dias do assassinato de Noel, Ana Lopes procura ajuda com a investigadora, que lhe orienta sobre como deve alterar as informações do boletim de ocorrência já registrado e sugere acionar a Corregedoria, caso seja recusado.
A segunda constatação aponta que a investigadora teria avisado ainda a Ana Lopes sobre a oitiva com a filha um dia antes da data designado pelo delegado responsável pela investigação e sugere que mãe acompanhe Tatiane junto com uma advogada.
Na terceira constatação, é indicado a discussão entre Tatiane e sua advogada sobre a impossibilidade de arcar com R$ 1 mil pela ajuda recebida da investigadora e pede informações de conta bancária dela para transferir R$ 500.
Duas constatações apontam transferências bancárias realizadas nos dias 26 de fevereiro, 28 de março, 30 de abril e 30 de maio, todos do ano de 2021, de Tatiane para a investigadora. No total, a servidora recebeu até R$ 2.180 da ré, sendo R$ 1500 do "negócio" e R$ 180 da compra de uma roupa. No último depósito, ela confirma o recebimento da quantia.
Já na sexta e última constatação, Tatiane pede à investigadora o contato da advogada, após ser intimada para comparecer a DHPP no dia 01º de junho de 2021.
A servidora teria avisado que a oitiva seria sobre o assassinato do enteado Noel Marques da Silva Júnior, que fora morto a mando do amante Cleyton. A morte de Noel Júnior, filho do PM da reserva, teria sido encomendada por conta da cobrança à polícia para a elucidação do caso.
Os investigadores da Corregedoria encontraram ainda que a investigadora e a advogada de Tatiane são amigas no Facebook.
Presa por improbidade - A investigadora também já chegou a ficar uma semana presa, em 2013, no âmbito da Operação Abadom. Na ocasião, o marido da servidora, também um delegado da Polícia Civil, também foi preso. Eles são acusados de supostamente proteger uma quadrilha de traficante de drogas que atuava em Várzea Grande.
As investigações da Polícia Civil, que revelou as supostas infrações e levaram a deflagração da Operação Abadom, culminaram com uma ação de improbidade administrativa em tramite na Vara de Ações Coletivas do Fórum de Cuiabá. Os dois chegaram a ser afastados das funções na Polícia Civil, mas puderam retornar apenas para funções administrativas no ano de 2019. A denúncia do Ministério Público foi aceita em 2013, mas o caso ainda não teve decisão até o presente momento.
Outro lado - Procurado pelo MidiaJur, a Corregedoria-Geral da Polícia Civil confirmou a investigação contra a investigadora, informou que o apuração está em sigilo, que ela deve responder judicialmente sobre a suposta ajuda aos investigados do homicídio do PM Noel Marques e que ela já responde a dois Processos Administrativos e Disciplinares (PAD) que estão na fase final.
Veja a nota na íntegra:
A Corregedoria-Geral da Polícia Civil confirma o inquérito policial instaurado contra a investigadora. O procedimento está em sigilo, não sendo possível passar mais informações sobre as investigações.
Após a finalização do inquérito policial o procedimento é encaminhado para o Ministério Público e Poder Judiciário que tomará as providências cabíveis de acordo com os fatos apurados. Ao final do inquérito policial, uma cópia do procedimento permanece na Corregedoria para análise de provas no âmbito administrativo e disciplinar.
A investigadora responde a dois Processos Administrativos e Disciplinares (PAD) na Corregedoria que estão na fase final.
A servidora estava lotada na Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e foi removida da unidade, estando atualmente lotada na 2ª Delegacia de Polícia de Cuiabá.
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