MIKHAIL FAVALESSA E LÁZARO THOR
Da Redação
Um áudio coletado em meio às investigações da Operação Hermes (Hg), da Polícia Federal e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mostra como era feita a venda e o envio de mercúrio ilegal para garimpos em Mato Grosso e outros Estados. A operação foi deflagrada na quinta-feira (1º).
Ouça o áudio ao final.
Foram cinco prisões preventivas, nove prisões temporárias e 49 mandados de busca e apreensão. No caso das temporárias, os alvos ficam cinco dias disponíveis para a Justiça. O autor do áudio, enviado por meio do WhatsApp a um possível cliente e anexado pela PF às investigações, não está identificado.
Foram decretadas as prisões preventivas de Arnoldo Silva Veggi, Edgar dos Santos Veggi, Ali Veggi Atala, Edilson Rodrigues de Campo e Patrike Noro de Castro. Estão presos temporariamente: André Ponciano Luiz, Anderson Ferreira de Farias, Marcelo de Queiroz Machado, Antonio Carlos Costa de Almeida, Nilson Pereira Gomes, Wagner Fernando Gonçalves, Félix Lopes Bress, Bruna Damasceno Veggi e Edy Veggi Soares.
O mercúrio seria contrabandeado de fora do país, em especial da Bolívia, e vendido internamente por meio créditos falsos de mercúrio registrados junto ao Ibama. O esquema seria coordenado, segundo a PF, pelo "Grupo Veggi", que leva o mesmo nome da família que teria os principais líderes do esquema.
Consigo entregar em todo o Brasil. Eu tenho cilindro a R$ 50 mil, eu cobro 50% no ato e 50% na entrega. Metade antes e metade depois, tá? É a única forma. Primeiro porque é um produto ilegal. Então o risco de eu rodar com ele e perder é um risco que existe. Claro que nunca me aconteceu isso, mas se acontecer sou eu que vou ter que arcar com o prejuízo
Os principais vendedores seriam Edgar dos Santos Veggi, Arnoldo Silva Veggi e Ali Veggi Atala. Arnoldo teria função operacional e política; Edgar seria o financeiro; Ali cuidaria da parte técnica por ser formado em Química; e Edilson Rodrigues de Campos atuaria na movimentação e parte operacional.
No áudio, o homem com um sotaque sulista indica conversar com um potencial cliente do esquema de venda de mercúrio. Em sua fala, o suspeito admite que sabia da ilegalidade de ação.
"Consigo entregar em todo o Brasil. Eu tenho cilindro a R$ 50 mil, eu cobro 50% no ato e 50% na entrega. Metade antes e metade depois, tá? É a única forma. Primeiro porque é um produto ilegal. Então o risco de eu rodar com ele e perder é um risco que existe. Claro que nunca me aconteceu isso, mas se acontecer sou eu que vou ter que arcar com o prejuízo", diz o homem.
Alguns dos principais suspeitos de comprar o mercúrio ilegal são Antonio Vieira da Silva, Marcelo Massaru Takahashi, Cristiana das Dores de Soza, Valdinei Mauro De Souza e Wagner Fernando Gonçalves, segundo as investigações da PF.
No áudio, o suspeito relata que "tem que ter uma logística para entregar", e que o material é transportado dentro de uma caixa de chumbo, o que evitaria contaminação. Na fala, ele indica que se trata de mercúrio "vermelho" e que o cliente nunca mais iria querer usar "o prata".
Os dois tipos de mercúrio são utilizados no garimpo de ouro, para "atrair" o material valioso misturado em meio ao rejeito da mineração. O homem revela que vende o mercúrio de 35,5 kg, lacrado, e afirma que os clientes podem testar a autenticidade do produto no momento da entrega.
"Vocês vão usar e não vão querer outra coisa. Porquê? É um produto assim que se tu for usar ele... vou te dizer uma coisa. Rejeito, por exemplo, tu bota ele dentro de um vidro, esses vidros de conserva de pepino, tira todo o conteúdo, lava, seca, e tu bota o material dentro de um vidro. Fecha ele, beleza. Aí tu vai passando pelo rejeito, ele funciona como um ímã, ele trabalha com nanopartículas. Ele é tão poderoso, tão forte, que dentro de 4cm, 5cm, ele atrai o ouro", garante.
E assevera: "uma garrafa dessa tu vai ter para a vida toda".
Ouça o áudio:
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