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JUSTIÇA Terça-feira, 18 de Outubro de 2022, 08:55 - A | A

18 de Outubro de 2022, 08h:55 - A | A

JUSTIÇA / VIÚVA NEGRA

Empresária é condenada a 18 anos de prisão por mandar matar o marido

Ana Cláudia Flor vai recorrer contra a sentença de dentro da prisão, onde está desde agosto de 2021

MIKHAIL FAVALESSA
Da Redação



A empresária Ana Cláudia Flor foi condenada a 18 anos de prisão por mandar matar o marido, o também empresário Toni Flor, em sentença dada em Júri Popular na madrugada desta terça-feira (18). A empresária, que está presa preventivamente desde agosto de 2021, teve negado o direito de recorrer em liberdade.

Toni foi executado em 11 de agosto de 2020 quando chegava a uma academia no bairro Santa Rosa. O assassino, Igor Espinosa, os intermediários, Wellington Honório Albino, Dieliton Mota da Silva e Ediane Aparecida da Cruz Silva, além de Sandro Lúcio dos Anjos da Cruz Silva, que teria dado falso testemunho, respondem a um processo separado.

Ana Cláudia Flor pagou R$ 60 mil a Igor e aos demais envolvidos, conforme admitido pela própria empresária. O Ministério Público Estadual (MPE) acusava Ana Cláudia de querer obter para si os bens do casal, que estaria próximo de uma separação após 15 anos de um casamento conturbado. O órgão chegou a comparar Ana Cláudia a uma "viúva negra".

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A defesa da empresária alegava que o crime foi cometido como resposta a agressões do marido, para evitar que Ana Cláudia fosse morta por Toni.

A juíza Mônica Catarina Perri Siqueira, da 1ª Vara Criminal de Cuiabá, avaliou que a motivação do crime não ficou completamente esclarecida após o Tribunal do Júri.

O Conselho de Sentença reconheceu a materialidade delitiva; reconheceu que terceira pessoa fez os disparos; reconheceu que Ana concorreu para prática do crime; não absolveu a acuasada, não reconheceu que ela agiu sob violenta emoção e logo após injusta provocação; não reconheceu "relevante valor moral"; não reconheceu "motivo torpe"; reconheceu que o crime foi cometido com recurso que dificultou a defesa da vítima; reconheceu que ela tinha conhecimento de como seria a execução.

Ana Flor informou ao executor, por meio da amiga Ediane, detalhes da rotina do marido, inclusive o local e horário em que Toni treinava Jiu Jitsu, chegando a mandar o endereço da academia.

No dia do crime, Igor ficou esperando Toni em frente ao local, surpreendendo o empresário com cinco tiros, sendo que dois atingiram a vítima. Toni foi hospitalizado e ligou para Ana Cláudia Flor, mas morreu no dia seguinte.

Conclui-se, pois, que a ré agiu de forma totalmente dissimulada, ardilosa, asquerosa, com extrema frieza e perversidade, notadamente pelo fato da vítima ser o pai das suas três filhas, configurando situação de grande reprovabilidade social

Ao se encontrar com Igor para fazer o pagamento, a esposa teria zombado que o executor "era ruim de tiro" porquê Toni não morreu imediatamente.

"Como foi a única a manter contato com a vítima já baleada, colimando atrapalhar e desvirtuar as investigações induziu os familiares a acreditarem que a vítima havia sido confundida com um policial que era parecido com Toni e possuía um carro da mesma marca e modelo", relatou a juíza.

A viúva organizou uma "Carreata da Saudade", e ficou um ano "chorando a morte da vítima" junto da mãe de Toni.

Na noite em que Igor foi preso, Ana Flor estava a procura de outro pistoleiro para matar o executor, de acordo com interceptaçõs telefônicas feitas com autorização judicial.

"Conclui-se, pois, que a ré agiu de forma totalmente dissimulada, ardilosa, asquerosa, com extrema frieza e perversidade, notadamente pelo fato da vítima ser o pai das suas três filhas, configurando situação de grande reprovabilidade social", afirmou a magistrada, que registrou a premeditação do crime.

Mônica Catarina Perri Siqueira pontuou que "apesar de o casal ter um relacionamento conturbado, na época do crime a vítima já havia manifestado o desejo de por fim ao casamento, de modo que uma separação amigável colocaria fim aos desentendimentos do casa".

A juíza apontou que a família foi desestruturada pelo crime, sendo que uma das filhas entrou em depressão. A pena-base foi estabelecida em 16 anos de prisão, com aumento de um sexto por "culpabilidade acentuada e consequências nefastas".

A magistrada não considerou atenuante de confissão. Ana Flor admitiu ter feito contato com o assassino, mas disse não ter dado a ordem para matar o marido, já que estaria se reconciliando com ele.

Como a empresária ficou presa preventivamente durante o processo, após a interceptação flagrar a busca por um novo assassino, a juíza entendeu que os motivos para decretação da prisão se mantiveram. Assim, não haveria motivo para dar liberdade a Ana Cláudia Flor enquanto apela da sentença.

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