CAMILA RIBEIRO E LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
O deputado estadual Baiano Filho (PSDB) não foi localizado por oficiais de Justiça e, portanto, não compareceu à oitiva relativa à Operação Bereré, marcada para a manhã desta terça-feira (3).
O depoimento do parlamentar estava previsto para ocorrer às 10 horas de hoje, na sede do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
Conforme o Gaeco, há quatro dias os oficiais tentam localizar o paradeiro do deputado. Ele não foi encontrado em sua residência, tampouco em seu gabinete na Assembleia Legislativa.
A operação Bereré apura um esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 27,7 milhões, que operou de 2009 a 2015.
Também seria ouvido na manhã desta terça o advogado Antonio Costa, mas a oitiva foi redesignada para data não especificada.
Baiano não foi alvo da 1ª fase da operação, deflagrada no mês passado, mas passou a ser investigado por determinação do desembargador José Zuquim Nogueira.
O esquema apurado na Bereré aponta que parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Os crimes foram revelados na delação do ex-presidente do Detran-MT, Teodoro Lopes, o “Dóia”, e nas delações do ex-governador Silval Barbosa e de seu irmão, Antonio Barbosa.
Citado na investigação
As suspeitas contra Baiano Filho surgiram após dois de seus assessores, em depoimento, terem revelado que os depósitos e cheques recebidos do ex-sócio da Santos Treinamento, Claudemir Pereira, teriam sido sacados e usados para pagar despesas do deputado e do gabinete.
Claudemir Pereira foi um dos sócios da Santos Treinamento até 2015, e é apontado pelo MPE como um dos responsáveis por lavar o dinheiro da propina arrecadada pelo grupo.
O assessor Luiz Otávio Souza disse que na condição de chefe de gabinete era praxe o uso de sua conta pessoal para pagar as despesas do deputado Baiano Filho no gabinete.
“Todo mês é depositado na minha conta e esse valor varia de acordo com o mês, sendo que normalmente o deputado faz transferência da conta dele para a minha conta pela conta do banco do Brasil”.
Luiz Souza relatou que os três cheques que recebeu nos dias 13 e 14 de outubro de 2014, de R$ 10 mil cada, emitidos por Claudemir Pereira, foram usados para pagar as contas do gabinete do deputado.
“Eu verifiquei em meus extratos bancários que logo após os depósitos do cheque, paguei as contas do gabinete do deputado Baiano Filho, e não me recordo se eu mesmo depositei em minha conta ou quem fez o deposito em minha conta, mas sei que o dinheiro foi utilizado para pagar as contas do gabinete do deputado Baiano Filho, tendo tais cheques sido creditados na minha conta ou depositado por alguém a pedido do deputado”.
Versão semelhante foi dada pelo assessor parlamentar Wilson Medrado, que é subordinado de Luiz Souza. Ele contou que sempre assessorou o político e que já recebeu valores em suas contas bancárias ou efetuou saques em dinheiro ou de cheques de terceiros, “tudo a pedido do chefe de gabinete que distribui os serviços”.
Quanto ao cheque de R$ 5 mil depositado por Claudemir Pereira em sua conta, em novembro de 2014, Wilson alegou que acredita ter sido igualmente usado para despesas de gabinete.
“Tal cheque acredito que eu tenha efetuado saque em razão do trabalho que desempenho, pois faço trabalhos externos no gabinete do deputado Baiano Filho, e já efetuei serviços externos bancários a pedido do chefe de gabinete Luiz Otávio Borges de Souza. Presto o serviço de office boy no gabinete do deputado Baiano Filho algumas vezes. Nesses casos, quando saco cheques, a pedido do gabinete do deputado, pago as contas do gabinete, outras vezes saco os cheques e entrego em dinheiro para o chefe de gabinete Luiz Otávio”, disse.
A operação
A operação Bereré foi desencadeada em fevereiro com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, em imóveis e escritórios, além da sede da empresa em Brasília.
Foram alvos da operação o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), o deputado estadual Mauro Savi (PSB), o ex-deputado federal Pedro Henry, servidores públicos, empresas e particulares.
A EIG Mercados venceu uma licitação, em 2009, para prestar serviços de registro de financiamentos de contratos de veículos, por um período de vinte anos.
Até julho de 2015, a empresa ficava com 90% da arrecadação anual - estimada em R$ 25 milhões - e o órgão com 10%. Em julho de 2015, já na gestão Pedro Taques (PSDB), o Detran fez um termo aditivo ao contrato, passando a receber 50% da arrecadação.
Conforme as investigações, parte dos valores milionários recebidos pela antiga FDL eram repassados para a empresa Santos Treinamento, que seria de fachada e atuaria apenas para “lavar” e distribuir a propina aos políticos.
Dezenas de servidores e parentes de servidores do Poder Legislativo também teriam sido usados para lavar o dinheiro arrecadado por meio do esquema criminoso.
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