LÁZARO THOR e CECÍLIA NOBRE
Da Redação
O ex-prefeito de Reserva do Cabaçal, Tarcísio Ferrari, e o empresário Jussemar Rebuli Pinto foram investigados pela Polícia Judiciário Civil e apontados como possíveis envolvidos na morte do advogado e empresário Francisco Assis da Silva, em São José dos Quatro Marcos.
As investigações da Polícia Civil levaram a prisão, em março de 2022, dos dois executores do crime. Na época, foi deflagrada a Operação Fassil, em que foram presos Jonas Dias Ferreira e Antônio Donizette da Silva, além do próprio Jussemar Rebuli Pinto, preso no dia 11 de março por suspeitas de ser o mandante do crime.
Segundo a Polícia Civil, Jussemar teria contratado Jonas e Antônio para matar Francisco Assis da Silva que levava vantagens em disputas de licitações com prefeituras na região oeste de Mato Grosso. Em um dos relatórios elaborados pela polícia, as empresas de Jussemar e Francisco são apontadas como concorrentes diretas em licitações da região. Enquanto Jussemar tinha 6 contratos com prefeituras, Francisco havia angariado 8 contratações naquele período.
Leia mais:
Juíza dá prazo de 5 dias para decidir se solta vice-prefeito
TJ solta empresário suspeito de fraudar concurso público
Francisco foi assassinado em frente do seu local de trabalho, por dois pistoleiros identificados como Jonas Dias Ferreira e Antônio Donizete da Silva no dia 11 de outubro de 2021, em São José dos Quatro Marcos.
A polícia verificou que uma terceira pessoa identificada como H.A.C. transferiu valores que totalizaram R$ 10 mil para a conta da mulher de um dos dois executores. Depois do crime, o irmão de Jussemar transferiu outros R$ 15 mil para a mesma destinatária.
As investigações da polícia chegaram a conclusão que Jussemar, logo após a morte de Francisco, passou a assediar familiares da vítima, além de prefeitos, presidentes de câmaras municipais e de fundos de previência para rescindir contratos com as empresas da vítima.
"Nos últimos 2 anos [antes do assassinato] intensificou-se as trocas de ameaças 'veladas' com disputas acirradas de licitações, chegando ao cúmulo de 'zerarem' uma proposta pela locação de software para prefeitura de Porto Espiridião", diz trecho da investigação.
Citação ao ex-prefeito
Segundo as investigações da Polícia Civil, Jussemar possui íntima ligação com o ex-prefeito de Reserva do Cabaçal. O empresário seria sócio do filho do ex-prefeito na empresa V.F. Empreendimentos, segundo a polícia.
De acordo com a polícia, o grupo de Tarcísio e Jussemar estavam em lados opostos politicamente do grupo formado por Francisco.
Na eleição à prefeitura de Reserva do Cabaçal, o candidato eleito era do grupo apoiado por Francisco, Jonas Campos, que derrotou Neguinho, apoiado pelo então prefeito Tarcísio.
Francisco, inclusive, foi autor de ação eleitoral que contestou a vitória de um aliado de Tarcísio. Na época, Tarcísio foi vice de Jairo Manfroi que venceu as eleições com 57% dos votos. A inicial montada por Francisco, vítima do homicídio, alegou abuso de poder econômico e captação ilícita de voto, o que resultou na cassação da chapa em outubro de 2014.
Na atual administração, do prefeito Jonas Campos (PP), o contrato da empresa de Jussemar foi rescindido e a prefeitura do município fechou contrato com a empresa de Francisco Assis.
Apesar da dificuldade da colheita de provas, a Polícia Civil indicou a possível participação do ex-prefeito no crime.
"Somadas as provas e/ou fortes indícios enumerados nos relatórios apontados no inicial deste, ficou fortemente
evidenciado que Jussemar Rebuli Pinto, por sérias disputas comerciais e grande prejuízo financeiro, contratou os executores de Francisco Assis da Silva. Assim como, possivelmente, Tarcísio Ferrari, tenha alguma participação.", diz trecho do relatório elaborado pela polícia em dezembro de 2021.
Investigações sobre fraude em concurso
A Operação Ápate cumpriu 84 ordens judiciais, entre mandados de prisão, de busca e apreensão, afastamento de sigilo bancário, suspensão de função pública, suspensão de atividade econômica, medidas cautelares de monitoramento eletrônico e bloqueio de bens no valor de R$ 1,6 milhão.
Os mandados de buscas aconteceram nas cidades de Glória d’Oeste, São José dos Quatro Marcos, Indiavaí, Araputanga, Rio Branco, Porto Esperidião, Lambari d’Oeste, Cuiabá e Mirassol d’Oeste.
As investigações apontaram que no dia 21 de janeiro de 2022, antes mesmo da aplicação das provas do concurso, o operador do esquema, já tinha uma relação com os nomes de 35 aprovados. Mas as provas só seriam realizadas um mês depois, em 27 de fevereiro.
Planejamento do esquema
J.R.P., foi apontado como operador do esquema, era responsável por intermediar a compra do gabarito, entre candidatos e o dono da empresa responsável pela realização do concurso. Ele é proprietário de uma empresa que presta serviços para prefeituras na região Oeste do estado.
Outras pessoas envolvidas no esquema foram identificadas pela Polícia Civil, entre elas a chefe de gabinete da prefeitura e o vice-prefeito de Porto Esperidião. A investigação apontou que a mulher usou recurso público para pagar pela vaga no concurso para um familiar. Já o gestor público auxiliou o operador da fraude a fazer a troca dos gabaritos das provas do concurso.
A Justiça decretou as prisões preventivas do operador do esquema, do proprietário da empresa realizadora do concurso e da chefe de gabinete e do vice-prefeito de Porto Esperidião. A mulher também teve a suspensão do cargo determinada judicialmente.
Todas as pessoas responsáveis pela compra das 35 vagas aos cargos do concurso foram identificadas na investigação da Polícia Civil e também responderão criminalmente.
Outro lado
O Midiajur entrou em contato com a defesa do ex-prefeito Tarcísio Ferrari na última sexta-feira (30) pedindo posicionamento sobre as informações que constam no inquérito da Polícia Civil, mas não houve manifestação. O espaço segue aberto.
Quer receber notícias no seu celular? Participe do nosso grupo do WhatsApp clicando aqui .
Tem alguma denúncia para ser feita? Salve o número e entre em contato com o canal de denúncias do Midiajur pelo WhatsApp: (65) 993414107. A reportagem garante o sigilo da fonte.