LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
A advogada que representa a Adufmat (Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso), Ioni Ferreira Castro, presa na Delegacia Cisc planalto, na tarde de quarta-feira (06), após tentar verificar a situação dos estudantes detidos durante manifestação na Avenida Fernando Corrêa, relatou ao MidiaJur as violações e abusos sofridos enquanto advogada e cidadã no exercício de sua atividade profissional.
Ioni contou que se dirigiu à delegacia para acompanhar junto aos estudantes a confecção do boletim de ocorrência, mas foi impedida por um PM, que, assim como os demais policiais que atuaram na manifestação, estava sem o crachá de identificação.
“Me apresentei como advogada da Adufmat e o PM falou: ‘cala a boca, porque aqui você não manda em nada, advogado não manda nada, não é nada aqui’. E bateu a porta na minha cara”, relatou.
Suposto abuso
Depois da primeira tentativa, a advogada viu que um rapaz havia saído da sala e, no intuito de saber se era ou não um dos estudantes detidos, bateu novamente na porta e, dessa vez, teria sido respondida com violência e detenção.
“Na mesma sala onde estavam os alunos, haviam fugitivos de assalto e um traficante, mas os bandidos não estavam algemados, porém os estudantes estavam. O policial novamente não quis me dar qualquer informação e tentou bater a porta, mas coloquei o pé para impedi-lo. Ele então me puxou para dentro, me jogou contra a mesa e me mandou calar boca, desferindo golpes contra a porta”, conta Ioni.
“Você está presa por desacato à autoridade e lesão ao patrimônio público”, teria dito o policial.
O advogado que a acompanhava, Marco Antônio, ao testemunhar o abuso também bateu na porta e, segundo Ioni, o policial teria quebrado a porta de vez e dado voz de prisão à Marco sob a mesma alegação.
“Nós somos a prova viva da ignorância desses policiais. Estamos nas mãos deles, que não tem consciência de até onde podem ir e agem com a maior brutalidade possível”, criticou Ioni.
Ela ainda complementou que após ser detida e ter seus pertences apreendidos, como bolsa, anéis e jóias, foi surpreendida com a truculência do policial ao solicitar seus documentos.
“Ele então me perguntou se eu queria lavrar um termo e me solicitou os documentos. Eu disse que os documentos estavam na bolsa, fora do meu alcance, aí ele falou: então quer dizer que a senhora anda por aí sem os documentos?”, disse ela.
Ela conclui afirmando que, no Boletim de Ocorrência, o policial registrou que ela teria quebrado a porta, o que seria até inviável pelo seu porte físico.
Apoio da Ordem
O presidente da Ordem, Maurício Aude esteve no Cisc Planalto, junto com uma comitiva de 10 membros da ordem, entre eles o presidente do TDP (Tribunal de Defesa das Prerrogativas), Luiz da Penha.
Eles se reuniram com um delegado da Polícia Civil e um capitão da PM para tentar resolver a situação, pois os advogados não podem ser cerceados de acompanhar um boletim de ocorrência, prerrogativa assegurada na Lei Federal 8.906/94.
“Infelizmente, há casos de alguns policiais que usam da truculência para agir. Os estudantes estavam amparados pela Constituição Federal que dá o direito a qualquer cidadão de se manifestar livremente. Esta é a base da democracia, da qual a OAB/MT é fiadora e defensora. É lamentável que fatos como esse, de agressão de estudantes e prisão de advogados, tenham ocorrido”, lamentou Aude.
Providências
Na tarde desta quinta-feira (07), a OAB-MT, que já divulgou nota de repúdio contra as atitudes dos policiais, vai se reunir com os advogados e estudantes envolvidos e agredidos na manifestação para colher depoimentos e decidir sobre as melhores medidas a serem tomadas, visando punir os responsáveis judicialmente.
Entenda o caso
Cerca de 50 universitários fecharam uma pista da Avenida Fernando Corrêa da Costa, sentido Coxipó-Centro, para protestar contra o fechamento de vagas nas casas de estudantes mantidas pela UFMT, no bairro Boa Esperança.
Devido ao longo congestionamento que se formou local, a Polícia Militar foi acionada. Após o envio da polícia, a ROTAM chegou para reforço e, de acordo com depoimentos e vídeos feitos pelos manifestantes, diversos estudantes foram agredidos e atingidos por balas de borracha à queima-roupa.
A coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMT, Raíza Moraes, 21, afirmou que “muitos alunos foram atingidos por balas de borracha no rosto, perna, tórax e virilha”.
Uma equipe da UFMT enviou um carro ao local para socorrer os estudantes. Aqueles que tiveram ferimentos mais graves foram encaminhados ao Pronto-Socorro de Cuiabá.
O outro lado
A PM nega que tenha agido com violência gratuita contra estudantes ou advogados e que apenas reagiu ao confronto iniciado pelos manifestantes. A Corregedoria da Polícia Militar afirmou que está investigando a conduta dos policiais envolvidos no caso.
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