LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
O advogado Marcos Restrepo, atual conselheiro adjunto do Departamento Jurídico do banco HSBC, foi um dos responsáveis por “desmascarar” o suposto esquema – deflagrado na Operação Ventríloco - que teria resultado no desvio de cerca de R$ 9,4 milhões da Assembleia Legislativa (AL-MT).
O valor, em tese, foi desviado do órgão entre fevereiro e abril do ano passado, a título de pagamento de créditos devidos ao banco.
Porém, ao invés de ser destinado ao HSBC, o valor foi pago ao advogado Joaquim Mielli Camargo, pivô, delator do esquema e representante regional do banco à época, que teria destinado metade do montante em contas indicadas pelo ex-deputado José Riva (PSD).
Trocas de e-mails listados no inquérito do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), mostraram que o advogado Joaquim Mielli, mesmo após já ter recebido os R$ 9,4 milhões da AL-MT, teria mentido a Marcos Restrepo sobre a negociação e só admitido a retenção de valores após Restrepo provar que já tinha conhecimento das transações.
Desconfiança iniciada
O núcleo jurídico do HSBC começou a desconfiar de possíveis irregularidades em relação aos créditos por causa do contato feito pelo advogado Júlio Cesar Rodrigues, apontado pelo Gaeco como o lobista que integrou o esquema de desvio.
Julio Cesar teria ficado insatisfeito com o valor recebido para colaborar com a fraude e, segundo o inquérito, enviou um email ao HSBC no dia 24 de outubro de 2014. Na mensagem, ele teria revelado que o então advogado do banco, Joaquim Camargo, já havia negociado os créditos extrajudicialmente e embolsado o valor, sem avisar a instituição bancária.
Quatro dias depois, uma das representantes da sede do banco, em Curitiba (PR), a advogada Verônica Batista, solicitou que a AL-MT encaminhasse o processo administrativo que havia culminado no pagamento dos R$ 9,4 milhões.
Já ciente da negociata, Marcos Restrepo pediu explicações a Joaquim Mielli, por email, que inicialmente negou ter feito acordo com a AL-MT.
Marcos Restrepo, no dia seguinte (30 de outubro) reafirmou o email anterior e deu prazo de 24 horas para que Joaquim Mielli devolvesse o dinheiro, sob pena de ser acionado na Justiça. Por sua vez, Mielli insistiu que não havia realizado qualquer transação.
Adiando o flagrante
Conforme o inquérito, Joaquim Camargo teria tentado marcar uma reunião com a direção do HSBC para o dia 12 de novembro, no intuito de resolver o caso pessoalmente.
Porém, no dia anterior à reunião, o suposto lobista Júlio Cesar Rodrigues enviou email ao setor jurídico do banco e solicitou o cancelamento da reunião para que o mesmo também pudesse participar.
Na mesma data, Joaquim Camargo foi notificado que a reunião seria cancelada e que o contrato do HSBC com ele havia sido rescindido.
Diante da negativa, ele enviou outro email a Marcos Restrepo em que confessou ter recebido os créditos da Assembleia. Contudo, Joaquim Mielli relatou que não havia recebido R$ 9,4 milhões, mas R$ 7,5 milhões.
Deste valor, ele afirmou que apenas depositaria R$ 2,2 milhões ao banco e o restante ficaria com ele a título de honorários advocatícios.
O caso foi posteriormente denunciado pelo banco à promotora de Justiça Márcia Borges Campos, que deu o encaminhamento às primeiras investigações sobre o caso, atualmente sob a responsabilidade do Gaeco.
O HSBC também denunciou a retenção de valores à Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT), que chegou a suspender preventivamente a carteira funcional de Joaquim Mielli. Na OAB-MT, ele ainda responde a processo ético que pode culminar em sua expulsão dos quadros da advocacia.
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