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D, hoje com 31 anos, conta que tinha por volta de 13 a 15 quando, no chuveiro depois das aulas de educação física, foi percebendo que algo invariavelmente diferenciava seu corpo daquele de seus colegas nos momentos finais da puberdade: seu pênis, de tamanho pequeno, não se desenvolveu da mesma forma que os demais. “Desde que eu era novo, conseguia notar que ele era diferente, mas fui entender melhor na pré-adolescência que ele não cresceria”, diz em conversa com a GQ Brasil.
D (que optou por não se identificar para essa matéria) é um exemplo de um quadro considerado raro: o jovem nasceu com um micropênis, situação que acomete cerca de apenas 6 entre 1000 homens no mundo. "O micropênis é aquele em que não houve nenhum evento externo para torná-lo menor. É assim desde o nascimento. A conformação do pênis é normal, mas ela é insuficiente", resume o Dr. Ubirajara Barroso Jr., urologista chefe da divisão de cirurgia urológica reconstrutora e urologia pediátrica do Hospital da Universidade Federal da Bahia.
Hoje, o pênis de D tem cerca de 2,5 cm de comprimento quando ereto. Embora seja capaz de uma ereção normal, outros detalhes de sua vida sexual são distintos de outros homens de sua idade: sem conseguir cercá-lo com a mão, por exemplo, D. se masturba esfregando o pênis com vaselina, às vezes com a ajuda de um travesseiro ou colchão, segundo conta em recente discussão no Reddit.
Ele teve dois relacionamentos amorosos, o primeiro aos 21 anos de idade e um segundo algum tempo depois. “O primeiro acabou muito mal, foi ela quem terminou”, lembra, citando o sexo como fator determinante da ruptura. “Já no segundo, (minha parceira) ficou surpresa quando descobriu, mas também aliviada. Ela ainda não estava pronta para transar”, conclui. A necessidade de manter um relacionamento à distância (já que ambos moravam longe um do outro) foi o que acabou separando-os.
Em todo caso, D conta que nunca transou com suas parceiras, ainda que alimente um desejo sexual normal. “O tesão existe, e é claro que é frustrante ainda ser virgem aos 31”, diz. Impactos do quadro são de natureza mais psicológica - esse membro que nasce pequeno não necessariamente acompanha problemas hormonais ou impotência.
O que é?
Embora possa ter raízes em distúrbios hormonais ou congênitos (durante a formação do feto), nem sempre esses fatores explicam o pênis muito diminuto. “[Ele] é comum em síndromes como Klinefelter”, explica D, referindo-se à condição genética que pode provocar alterações no corpo de meninos, como testículos e pênis menores, assim como dificuldade de aprendizagem. Mas esse não é o caso de D, que não tem nenhuma outra condição.
A literatura médica não define uma régua exata para o que é ou deixa de ser um micropênis, optando pela definição geral de 2,5 desvios padrão da média da população (o desvio padrão é um termo estatístico, que, entre outras funções, define o quanto um certo caso se distancia da maioria). O mesmo conceito amplo é empregado para quadros de macropênis, aqueles que são 2,5 desvios padrão maiores que a média.
Se o brasileiro padrão tem um pênis de cerca de 12 centímetros quando ereto, um micropênis pode ser aquele com algo em torno de 4 centímetros. Mas ambos os números podem variar dependendo da escala usada e do perfil da população local. “O conceito mais correto é aquele em que o pênis é tão pequeno que há uma dificuldade real na penetração", diz Barroso.
O micropênis é corriqueiramente confundido com o que especialistas chamam de síndrome do pênis pequeno. É o nome dado àquela impressão de que o genital seria insuficiente quando, na verdade, está dentro de um desvio padrão saudável. Não é algo radical como o caso vivido por D, para o qual especialistas geralmente aconselham procedimento cirúrgico.
A cirurgia é uma reconstrução do falo, mobilizando os corpos cavernosos sob a pele, responsáveis pelo fluxo de sangue ao pênis que causa a ereção, e realizando o enxerto de pele e outros tecidos de outras partes do corpo.
Apesar de ter optado por conviver com o micropênis, D ainda o encara com constrangimento. Embora já tenha discutido o tema com outros internautas em redes sociais, através de um perfil sem seu nome ou rosto, a maior parte de seu círculo social desconhece a situação.
Você já disse que hoje em dia se sente confortável para tomar banho no vestiário depois da academia. Mas nem sempre foi assim, correto?
“Isso. Acho que para crianças e adolescentes é sempre diferente. Eles mexem com quem se difere deles de alguma forma, e na adolescência a gente é muito autoconsicente e sofremos com todo tipo de vergonha conforme crescemos. É um desenvolvimento normal, que o micropênis só piora.”
É um desafio não fazer do micropênis uma falha de personalidade, poder conviver com ele?
"Quando era mais jovem, sentia que ter um micropênis era sim parte da minha personalidade. Hoje em dia, vejo apenas como uma parte do meu corpo, que traz algumas consequências."
O que promoveu essa mudança?
"Simplesmente amadurecer, eu acho. Não é tão diferente de outros adultos. Quando você é jovem seus amigos começam a experimentar o sexo, você tem todos aqueles hormônios, e tudo isso parece a coisa mais importante do mundo. Mas aí você cresce, estuda, consegue um emprego, ganha seu dinheiro, contas a pagar - mas ao mesmo tempo uma grana pra se divertir, viajar ou fazer o que bem quiser."
"Ao mesmo tempo, a gente para de falar tanto sobre sexo, ele perde a novidade. A insegurança da juventude é trocada por uma perspectiva mais madura da vida. É apenas uma progressão natural. O tesão existe, e é claro que é frustrante ainda ser virgem aos 31."
Você se sente confortável para falar desse assunto com amigos e familiares?
"Não muito, mas tenho uma amiga lésbica que sabe, e é fácil conversar com ela a respeito. No começo da amizade, contei que eu me preocupava com o tamanho, mas não sobre ter um micropênis. Ela percebeu quando estávamos nos trocando após mergulharmos em uma piscina de águas termais. Fora ela, alguns dos meus amigos mais próximos também sabem."
Você também disse há alguns meses em uma resposta no Reddit que estava trabalhando um pouco mais na sua vida amorosa. Como vai esse projeto?
"Não houve muito progresso até o momento. Ainda sou virgem, mas isso não é meu foco. Só quero socializar mais, me colocar no mundo e ver o que acontece."
O que espera da sua primeira vez?
"Bem, espero que minha primeira vez seja agradável, mas para ser bem honesto, dado minhas tentativas passadas com o sexo, imagino que vá ser ruim e desconfortável."
Você já pensou em se submeter à cirurgia?
"Sim, e mesmo que (os médicos) me disseram ser possível, nas duas ocasiões também falaram que, no meu caso, os benefícios talvez não superem os riscos envolvidos. Não sei bem os termos técnicos, mas eles acreditam que é difícil operar na minha situação."
"Fui atrás disso uma vez quando adolescente e de novo lá para o fim dos meus 20 anos. A ideia de entrar nos meus 30 ainda virgem me motivou a procurar opções e, além disso, bastante tempo tinha passado desde a última consulta."
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