ALLAN PEREIRA
Da Redação
Um grupo de cristãos evangélicos estão descontentes com o uso de verba pública e emendas parlamentares de até R$ 340 mil para a 26ª Marcha Para Jesus, que vai ser realizada pelo Conselho de Pastores de Mato Grosso (Comec) no próximo final de semana, em Cuiabá.
Também criticam o caráter político-eleitoreiro que o evento, principalmente neste ano de eleições, adquiriu nos últimos meses.
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O empreendedor Isac Moita, um dos cristãos que representa o grupo de descontentes com o uso de verba pública na Marcha, chegou a fazer uma manifestação crítica nas redes sociais contra o a situação.
"Criticamos diariamente os políticos corruptos que usam dinheiro público para seus próprios interesses. Agora vamos fazer o mesmo? Não devemos nos igualarmos a eles, mas brilharmos a luz do mundo", escreve Isac em uma das postagens que está sendo compartilhada por evangélicos que compartilham de sua visão.
Ao MidiaJur, Isac afirmou que não vai participar da Marcha em protesto pelo uso de verba pública e critica a aplicação dos recursos para qualquer tipo de evento festivo dentro da igreja evangélica.
"Eles dizem ter procuração para falar em nome dos evangélicos, mas nem todo mundo concorda com essa destinação de recursos públicos. As igrejas deveriam ter levando isso com empresas privadas. Com o número de evangélicos que há, não é possível que haja gente interessada em patrocionar".
Conforme publicado pelo MidaJur, cinco deputados estaduais da Assembleia Legislativa destinaram emendas parlamentares de até R$ 340 mil para pagar cantores gospel que se apresentarão na Marcha. A destinação dos recursos ocorreu em meio a polêmica das contratações de artistas com dinheiro público, principalmente cantores sertanejo.
O evento também contaria com a participação do presidente Jair Bolsonaro (PL) e da primeira-dama Michele Bolsonaro, mas eles cancelaram o evento por conta de "choque de agenda".
A Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel) confirmou que os recursos das emendas vieram dos deputados estaduais Xuxu Dal Molin (União Brasil), Valmir Luiz Moretto (Republicanos), Ulisses Moraes (PTB) e Gilberto Cattani (PL).
Para a reportagem, os parlamentares defenderam a destinação das emendas como forma de ajudar na expressão da fé cristã dos evangélicos.
Marcha tem pretensões políticas para pedir voto
Ao lado de Isac, o membro do Observatório Social (órgão da sociedade civil que acompanha os gastos públicos) e também um cristão evangélico, Pedro Fin concorda com a posição do amigo e acrescenta que o evento tem mais pretensões políticas do que religiosas.
"Algumas igrejas são muito unidas a movimentos políticos. Embora os cristãos necessitem de verbas para suas atividades, os cristãos têm muitas outras pautas prioritárias do que a Marcha para Jesus. Temos uma situação de desigualdade social, fome e miséria e, nesse aspecto, o país está abandonado", diz Pedro.
Nas redes sociais, são inúmeras as fotos do presidente da Comec, pastor Fabio Senna, ao lado de políticos, como o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), presidente da Câmara Municipal, o vereador Juca do Guaraná Filho (MDB), além do próprio presidente Jair Bolsonaro.
Os dois acreditam que o uso das verbas e emendas não serão "almoço grátis" para os fiéis, ou seja, eles já leem que os políticos esperam como contrapartida o voto dos fiéis nas eleições.
No entanto, Isac e Pedro não são contra o evento em si da Marcha Para Jesus, mas criticam o uso de verbas públicas e o caráter político-eleitoreiro.
"Não somos contra a Marcha. O que nós acreditamos é que a proclamação do evangelho não será feita com verba de órgão público. Trabalho com pessoas em situação de rua e nunca recebi um centavo de verba pública. Acredito no evento em si para proclamar o evangelho, mas isso feito com dinheiro público é perigoso. Faz uma mistura nebulosa de Estado com Igreja".
Por isso, defendem que os recursos públicos sejam investidos em outros projetos da igreja evangélica desenvolvidos junto às pessoas carentes, como aulas de balé e esportes.
"Vai gastar dinheiro [para um evento] que vai durar seis horas. Semana que vem ninguém vai lembrar. Investir em um projeto social é um dinheiro que vai fazer diferença para uma criança e adolescente", avalia Isac.
Como membro do Observatório Social, Pedro diz também que vai cobrar a prestação de contas das despesas dos recursos públicos com a Marcha.
Marcha para Jesus
A Marcha contará com apresentações musicais de nomes conhecidos do gênero gospel, como André Valadão, Isadora Pompeo, Bruna Karla e Midan Lima.
A Comec espera um público de R$ 80 mil pessoas para a Marcha, que terá saída na avenida Mato Grosso e seguirá até o Parque de Exposições da Acrimat, na região do Porto.
O evento acontece no próximo sábado (18).
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