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OPINIÃO Segunda-feira, 24 de Setembro de 2018, 10:15 - A | A

24 de Setembro de 2018, 10h:15 - A | A

OPINIÃO / LUIZ HENRIQUE LIMA

Uma boa leitura

Até na cela de uma prisão, uma boa leitura liberta o pensamento e desacorrenta a alma

LUIZ HENRIQUE LIMA



Há poucos prazeres que se pode desfrutar sem restrições em todas as fases da vida, desde a infância à velhice. Um desses é a leitura de bons livros.

Claro que o tempo faz evoluir as preferências. O menino que devorava gibis tornou-se o adolescente vidrado em aventuras, romances policiais e de espionagem ou ficção científica. O estudante mergulhado nos grandes clássicos hoje é o profissional interessado na inovação tecnológica. O professor que sempre procurava aprimorar seu conhecimento especializado converteu-se no aposentado que se deleita com os temas mais variados. Todavia, um traço que sempre permanece é a curiosidade e o desejo de mergulhar por algumas horas em universos de fantasia ou de aprendizados.

Diferentemente de outros prazeres, a leitura pode ser praticada em qualquer ambiente. Em dias de sol ou debaixo de tempestades. No frio ou no calor. De dia ou de noite. Sozinho ou acompanhado. Em casa, na escola, no trabalho ou no transporte (exceto se estiver dirigindo ...). Doente ou em boa forma física. Em momentos de tristeza ou de alegria. Nas horas de cansaço, um bom livro relaxa; ao iniciar-se um novo desafio, um bom livro inspira e motiva.

Fascistas e ditadores em geral não gostam de leitura. Censuram livros, perseguem autores, proíbem jornais, incendeiam bibliotecas

Até na cela de uma prisão, uma boa leitura liberta o pensamento e desacorrenta a alma.

Fascistas e ditadores em geral não gostam de leitura. Censuram livros, perseguem autores, proíbem jornais, incendeiam bibliotecas. Todo questionamento é uma ameaça. Há pouco tempo, em Angola um artista popular foi aprisionado por participar de um grupo de leitura do livro “Da Democracia à Liberdade”. Na corrupta ditadura militar brasileira - que muitos teimam em esquecer ou minimizar, embora haja até quem tenha perdido a vergonha de pedir a sua restauração - era permanente a censura à imprensa e implacável a perseguição a jornalistas, escritores e professores.

Toda essa digressão foi motivada pela vontade de comunicar a existência de uma ótima leitura disponível. Trata-se do livro “Uma certa ideia do Brasil: entre passado e futuro”, do economista e professor Pedro Malan (Editora Intrínseca), reunindo artigos de opinião publicados entre 2003 e 2018.

A leitura dessa coletânea é essencial para a compreensão dos grandes temas da política econômica nesse período, bem como dos grandes desafios que o país tem diante de si. Combinando erudição e leveza, com a precisão de acadêmico e a didática elegante de um exímio conhecedor da economia brasileira, o autor nos descreve sua visão sobre a trajetória recentemente percorrida, com seus acertos, equívocos e impasses. Com paciência e sutileza, nos guia pelos complexos meandros dos processos decisórios, nos quais, frequentemente, interesses corporativos ou partidários de curto prazo prevalecem sobre objetivos nacionais estratégicos. Revela como importantes conquistas da nossa democracia, a exemplo da derrota da hiperinflação e a Lei de Responsabilidade Fiscal, sofrem constantes ameaças de setores que ao longo da história desenvolveram uma irrefreável adicção à gastança, mesmo com o sacrifício das gerações futuras.

O livro de Pedro Malan é também, para quem tem olhos de ver, de ler e compreender (Mateus, 13:1-17), um eficiente antídoto contra os extremismos que envenenam o debate público em nosso país.  Nele, as análises não são simplistas e as críticas não são sectárias. Ao contrário, surgem como um apelo ao equilíbrio e ao debate civilizado entre alternativas que busquem a promoção de justiça social num cenário de desenvolvimento sustentável e democracia.

Mais que uma boa leitura, trata-se de uma leitura necessária e esclarecedora, enquanto ainda há tempo de evitar retrocessos de várias origens.

LUIZ HENRIQUE LIMA é conselheiro substituto do TCE-MT.

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