CLÁUDIA AQUINO DE OLIVEIRA
Alguns fatos são tão surreais, que demandam um tempo para análise, maturação e conclusão acerca de seus efeitos e alcances.
Um desses fatos infelizmente ocorreu na quarta-feira dessa semana, por ocasião do julgamento pelo Pleno do STF, da ação proposta pela OAB que logrou estirpar a nefasta prática do financiamento privado de campanha nas eleições.
A OAB, figurante no topo do rol das instituições mais respeitadas do Brasil, provocou o STF a analisar e decidir, o que fez legitimada pelo art. 44, da Lei n. 8.906/94, bem assim pela respeitabilidade e credibilidade conquistadas por sua história de lutas em favor de um país melhor.
Naquela ocasião, o ministro Gilmar Mendes, irresignado com a combatividade da OAB, que então via garantido o seu direito à ampla manifestação em plenário, tentou cassar a voz da advocacia.
E como se não bastasse, por não ter sido bem sucedido em seu intento, comparou-se aos advogados invocando uma hierarquia inexistente e, inesperada e surrealmente, deixou o plenário daquele tribunal.
O ministro, agindo daquela forma, deu as costas à advocacia.
Desrespeitosamente, o ministro deu as costas à instituição e à profissão que são indispensáveis à administração da justiça e à tutela dos direitos cidadãos.
Deu de ombros a quem, naquele ato processual, exercia o munus público de defender os interesses mais legítimos da sociedade.
Sem perceber, portanto, fechou os olhos e tapou os ouvidos quando a sociedade queria ser vista e ouvida pela mais alta Corte de Justiça de um país sedento de mudanças.
O Senhor ministro, do alto de sua experiência, diferentemente da forma como se conduziu, deveria ter preservado a urbanidade entre as instituições, respeitando a Ordem, que ali se apresentava como parte.
A serenidade, sem deixar de lado a combatividade, o espírito de luta e a firmeza na defesa dos interesses daquele que se representa, deve ser a tônica da atuação daqueles que se dispõem a ocupar cargos de relevância.
Já é passada a época em que a voz alta, o dedo na cara ou em riste e os altos brados levavam a algum lugar.
As conquistas institucionais têm sido forjadas a partir de uma conduta inteligente e educada de seus líderes, sem prescindir da veemência, da atuação independente, corajosa e destemida.
Voltar ao passado é temerário.
Voltar ao passado é colocar em jogo conquistas importantes e caras à advocacia e à cidadania.
Não volte ao passado Senhor ministro.
Volte à cadeira, encare e ouça a cidadania.
Dê à cidadania olhos, ouvidos e atenção. Não lhe dê as costas.
Cláudia Aquino de Oliveira é advogada em Mato Grosso
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