GAYLUSSAC DANTAS ARAÚJO
No próximo dia 29 completam-se 25 anos de minha colação de grau pela Faculdade de Direito da UFMT. Já são passados 25 anos do bacharelado e um pouco mais do exercício da advocacia. Digo isso porque já no terceiro ano de faculdade eu praticava materialmente todos os atos inerentes a um causídico: peticionava, fazia audiências, despachava petições com juízes estaduais e federais, desembargadores e procuradores da República, tudo de maneira destemida, para não dizer insistente ou até mesmo, para alguns, inconveniente.
Lembro-me de ter ouvido uma vez, no saguão do Tribunal de Justiça, um serventuário comentar com outro: “lá vem aquele advogado empombadinho”. Ao que respondi: “estagiário empombadinho, ainda não tenho a carteira”.
Uma das grandes revelações para minha vida aconteceu nesse período. Percebi com a advocacia que, quando se faz o que gosta, o gosto não é outro senão o de gozar de férias 365 dias por ano – twenty for seven.
Pude notar que, para um advogado com “d” mudo, não existe domingo nem feriado, não existe período diurno nem noturno. Tudo em seu ofício é prazer e satisfação. É dessa forma que sinto a advocacia desde o ano de 1997. O curioso é que me matriculei na faculdade, dois anos antes, com o propósito claro de ingressar, ao final do curso, na profissão que Rui Barbosa definia genialmente como a mais digna profissão que um ser humano pode exercer: a magistratura.
Acredito que isso tenha se dado por influência de Seu Araújo, meu saudoso pai, que, fazendo a análise do filho sisudo, metódico e inflexível, oferecia sempre o mesmo parecer: “já que Gaylussac gosta das coisas certas, precisa ser juiz”.
E realmente meu pai me conhecia. De todos os jargões jurídicos, nenhum me soa melhor do que o bom e velho “dura lex, sede lex”. Na Bíblia, também sempre me regozijei com passagens semelhantes ao evangelho de São Mateus (Mt 5,37), que diz: “Seja o vosso ‘sim’, sim, e o vosso ‘não’, não. O que passa disso vem do Maligno”.
Era, portanto, à magistratura que eu havia votado. A meta estava estabelecida, e eu sabia que era audaciosa, para não dizer pretenciosa: exercer a mais digna profissão; colocar-se na sociedade como aquele que detém a sabedoria e conhecimento necessários a julgar e decidir a vida de seus concidadãos. Estaria eu à altura de tão singular profissão? A propósito: seria a magistratura uma profissão? Não estaria mais para um sacerdócio?!
Todos esses questionamentos me atormentariam até o dia em que eu conheci a competência, a advocacia, e a competência na advocacia.
Em 1997 pude conhecer alguns dos maiores nomes da advocacia brasileira, trabalhar e aprender com eles, em escritórios nesta comarca de Cuiabá e também em Goiás, Brasília e São Paulo. Alguns já estão falecidos, outros aposentados ou exercendo a desembargadoria pelo quinto constitucional.
Aprendi com verdadeiros monstros da advocacia que não existem causas perdidas, e sim advogados perdidos. Presenciei clientes sofrendo terríveis dramas familiares, completamente desesperançados, serem salvos já com os oficiais de justiça à sua porta.
Algumas famílias com ordens de “despejo” de fazendas que já estavam em sua posse por décadas, ou até mesmo séculos.
Assisti também a pseudoadvogados rasgarem seus diplomas, jogarem suas carteiras no lixo e mudarem de profissão. Verdadeiros estelionatários, seguros de haverem amanhecido ricos, à custa de injustiça, e que não foram dormir sem antes assistir à falência de sua empresa criminosa.
Hoje, ao olhar para minha trajetória, sinto que fiz a escolha correta. Escolhi uma profissão sem a qual o mundo seria, certamente, mais injusto. Uma profissão, por assim dizer, socorrista, porque é justamente o advogado que, de boa vontade, ouve os anseios e as aflições de quem clama por justiça.
Cada cliente atendido, cada caso resolvido e cada direito protegido renova minha paixão pela profissão que aquele mesmo Rui Barbosa prometeu exercer até a morte.
Aos futuros advogados a sugestão que deixo, sem que me tenham pedido, é que jamais advoguem uma causa sobre a qual não tenham convicção.
Deixo também a lição de Chesterton que, se um dia meu pai tivesse lido, certamente teria reputado a mim: “O certo é certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é errado, mesmo que todos se enganem sobre ele”.
Gaylussac Dantas Araújo é advogado em Mato Grosso.
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