LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
O empresário Dalmi Fernandes Defanti Junior, dono da Gráfica Print, relatou à Polícia Federal que devolveu R$ 440 mil para mensageiros da campanha de Pedro Taques ao Governo do Estado, em 2014.
A devolução faria parte de um suposto esquema de caixa 2, delatado pelo empresário Alan Malouf, em 2018.
O depoimento de Dalmi, feito em fevereiro de 2020, consta em inquérito em andamento na Justiça Eleitoral, cujo sigilo foi levantado na semana passada pelo juiz Jorge Alexandre Martins Ferreira, da 51ª Zona Eleitoral de Cuiabá.
Segundo o empresário, os R$ 440 mil foram foram fracionados em vários saques, com valores e datas diferentes, e entregues a mensageiros de Taques.
Os pagamentos foram feitos, de acordo com o depoimento, em novembro de 2014, com Taques já eleito ao cargo de governador.
"Após a realização dos saques (no valor total de R$ 440 mil), entregava tais quantias em espécie para mensageiros enviados pela direção da campanha; os valores eram entregues na sala do financeiro da empresa Gráfica Print”, relatou o empresário.
Conversa na sacada
De acordo com Defanti, o primeiro contato com o grupo ocorreu em abril de 2014, quando Alan Malouf o procurou para pedir doação para a campanha de Taques, ajuda que seria prestada por meio de fornecimento de materiais gráficos.
Segundo ele, um mês depois houve uma nova reunião com Malouf e Taques, na sacada do apartamento deste último, no bairro Santa Rosa.
"Nesta ocasião, Alan Malouf reforçou a solicitação de ajuda (doação) para a campanha eleitoral de Pedro Taques através do fornecimento de materiais gráficos; que não foram tratados valores da possível doação nesta oportunidade; que Pedro Taques agradeceu a ajuda que seria realizada pelo declarante, visto a importância do material gráfico para a campanha eleitoral", disse Dalmi, no depoimento à PF.
O empresário disse que afirmou a Taques que gostaria que as licitações do futuro governo não tivessem interferências políticas; e Taques respondeu que na sua gestão não haveriam direcionamentos - e nem vantagens para qualquer pessoa, sendo todos tratados de forma igualitária, na forma da lei.
"Desta forma, o declarante acreditou que este seria um governo sério e honesto; e que assim, sentiu-se atraído em contribuir para esse novo momento para o Estado de Mato Grosso", diz o depoimento.
Segundo o empresário, ficou acordado com Alan e Taques que tais doações seriam realizadas de forma oficial, ou seja, declaradas na prestação de contas oficial da campanha.
Fac-símile de trecho do depoimento à PF:
"Que posteriormente a essa reunião, Alan Malouf solicitou uma doação de aproximadamente R$ 2.000. 000, 00 (dois milhões de reais) no valor de mercado, tendo o declarante não apresentado objeção (concordância tácita), desde que mediante o recebimento do termo de doação eleitoral, com emissão de notas fiscais somente o custo do serviço (sem a margem de lucro utilizada no mercado)".
O acordo foi honrado durante a campanha eleitoral até o dia 26 de agosto, quando houve um pagamento da primeira nota fiscal, o que teria sido questionado por Defanti, uma vez que ao final deveria ser emitido um recibo de doação eleitoral.
“A resposta obtida foi de que ao final da campanha seria feito o acerto, uma vez que a estimativa do comitê era de que os produtos/serviços gráficos necessários superariam o limite máximo aceitado pelo declarante”, relatou.
No entanto, ao solicitar os recibos no final da campanha referente à parcela que não superasse o valor de R$ 2 milhões, no final de outubro, após a eleição, o empresário afirmou ter sido procurado por uma pessoa do comitê da campanha de Taques, que sugeriu ser melhor que a gráfica não aparecesse como doadora oficial da campanha.
“Esta sugestão era contrária ao combinado anteriormente, qual seja, a emissão de recibos de doações eleitorais, inclusive para fins de abatimento de imposto na empresa Gráfica Print”, diz trecho do depoimento.
"Ex-membro do MP"
De acordo com o empresário, a proposta da direção da campanha era de que a gráfica figurasse como prestadora de serviço, constando como despesa de campanha.
O comitê eleitoral de Taques então faria o depósito integral dos valores constantes nas notas ficais emitidas e o declarante devolveria a parte referente às doações.
“Inicialmente o declarante resistiu, mas sentiu-se coagido a agir dessa forma por se tratar de ex-membro do Ministério Público, atual senador e governador já eleito; que diante da impossibilidade de ‘voltar atrás’, agiu conforme exigido pela coordenação da campanha”, destaca o depoimento.
Conforme Defanti, entre o fim de outubro e o início de novembro de 2014, o comitê eleitoral de Taques depositou os valores na conta da Gráfica Print, sendo sacado por ele a quantia de aproximadamente R$ 440 mil.
Defanti disse ainda não se lembrar de quem foram os responsáveis por buscar os valores, mas que se disponibilizava a buscar em seus registros possíveis documentos que comprovem os saques.
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