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GERAL Domingo, 18 de Fevereiro de 2024, 08:00 - A | A

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GERAL / VIOLÊNCIA SEXUAL

MT é o quarto maior em estupros no país; meninas de 13 anos são principais vítimas

Tabu, medo e vergonha dificultam as denúncias e contribuem para o silenciamento sobre os crimes

LETICIA PEREIRA
Da Redação



Mato Grosso foi o quarto estado com maior taxa de estupros do país em 2023. Os dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública mostram que a quantidade de crimes registrados aumentou 12,4% em relação a 2022, com uma média de 7 vítimas por dia.

Ainda que o índice seja alto, a professora Nealla Machado, especialista em gênero e comunicação, esclarece que o número de casos reais pode ser ainda maior. Segundo ela, muitas vítimas têm medo e vergonha de denunciar o que gera uma subnotificação dos crimes.

“A gente sabe que muitas mulheres sofrem estupro e não denunciam, não falam para ninguém. Muitas não querem desonrar as famílias e se calam por causa do tabu”, disse.

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A estudiosa esclareceu que, diferente do imaginário popular, a maioria dos casos de estupro são praticados por pessoas próximas. “A gente pensa em uma mulher que está andando sozinha na rua e é atacada por um desconhecido, mas a maioria das mulheres são estupradas no ambiente familiar, dentro de casa e, normalmente, não são adultas”, explicou.

Pesquisas divulgadas em 2023 confirmam que a maioria das vítimas são mulheres na idade entre a infância e adolescência, geralmente abusadas por homens da família ou conhecidos.

Os dados do MJSP apontam que das 77.940 pessoas que sofreram estupro no Brasil, em 2023, 67.717 eram mulheres. O número equivale a 86,8% do total e exibe que as mulheres são as principais vítimas desse tipo de crime.

Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no ano passado, expôs a recorrência do crime de acordo com a faixa etária das vítimas. A pesquisa relacionou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sistema de Informação e Agravos de Notificação (Sinan), relativos aos anos de 2009 a 2019, e descobriu que a maioria dos casos acontecem com meninas entre 13 e 16 anos de idade.


estupros por idade da vítima ipea sinan

 

De acordo com um boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado em 2023, os casos de violência sexual contra adolescentes de 10 a 19 anos foram cometidos por familiares ou pessoas próximas em 58,4% das vezes. Já contra as crianças de 0 a 9 anos, o percentual sobe para 68%. Os números também consideram outros tipos de violência sexual, como exploração e pornografia.

A delegada Jannira Campos, coordenadora de Enfrentamento à Violência Contra Mulher e Vulneráveis da Polícia Civil, confirma que os autores dos crimes são, na maioria das vezes, homens da família ou conhecidos das vítimas, o que dificulta as denúncias por causa de aspectos culturais. “É uma relação, sim, de poder, porque é o homem o principal abusador. É o homem pai, é o homem avô, é o homem padrasto, é o homem primo, é o homem tio, é o vizinho”, elencou.

Para além da relação familiar, outro fator que as duas especialistas observam que desmotiva as vítimas a denunciarem é o julgamento social e a posição acusadora de quem deveria defendê-las. Ambas citaram o caso da modelo Mariana Ferrer, que teria sido violada pelo empresário André de Camargo Aranha e que foi humilhada durante depoimento no julgamento do acusado.

“Esse 'boom' de denúncias significa o que? Que estão acontecendo mais crimes? Não, eles sempre aconteceram, a diferença é que hoje estão denunciando, saindo do anonimato e promovendo a quebra do silêncio”, argumentou.

“A forma como o advogado a tratou, as perguntas que ele fez, a omissão do magistrado em não ter interferido, toda essa forma de conduzir um inquérito também desestimula a mulher a denunciar”, explicou Jannira.

O constrangimento de Ferrer motivou a criação da Lei 14.245, que prevê punição para quem atenta contra a dignidade de vítimas de violência sexual e de testemunhas durante julgamentos.

A delegada argumentou que essa e outras leis criadas no Brasil para promover a segurança e dignidade da mulher significam um progresso social e que o alto número de ocorrências apresentado pelo MJSP representa um avanço na quantidade de denúncias em Mato Grosso e não é, necessariamente, negativo.

“Esse 'boom' de denúncias significa o que? Que estão acontecendo mais crimes? Não, eles sempre aconteceram, a diferença é que hoje estão denunciando, saindo do anonimato e promovendo a quebra do silêncio”, argumentou.

A legislação que promove a punição não é a única ferramenta que pode mudar esse jogo. Para a delegada, a educação é um fator importante no processo de conscientização da sociedade sobre o respeito às mulheres e à infância.

Segundo ela, a educação sexual nas escolas, desde que bem orientada, seria uma medida eficaz para prevenir novos crimes. “A gente não quer sexualizar as crianças, o que a gente quer é conscientizar e dizer para essa criança que o seu corpo tem que ser protegido”, defendeu.

Nealla também destacou a educação como ferramenta de mudança, e sugeriu a reabilitação de condenados por estupro, como acontece com agressores condenados pela Lei Maria da Penha, para evitar que os abusadores voltem a cometer o crime depois de cumprir a pena.

“Fazer esse predador sexual entender que o que ele está fazendo é errado, que existe uma série de problemáticas em relação a isso, é o caminho”, concluiu.

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