ALLAN PEREIRA
Da Redação
O garimpo ilegal de ouro na terra indígena Sararé tem levado ao esvaizamento de aldeias do povo Nambiquara para o interior do território, segundo Soilo Urupe Chue, assessor e conselheiro na Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt).
Dentro da Sararé, existem áreas em que os próprios caciques e demais indígenas Nambiquara não podem circular por ameaças de morte por parte dos garimpeiros, fazendo com que eles se tornem praticamente refugiados dentro do próprio território.
"Não temos controle dentro do garimpo e não conseguimos entrar lá. Estava conversando com um cacique do nosso povo da região do Sararé que contou que está pensando em continuar na aldeia ou se vai mais ao fundo do território. Eles não têm mais aquela tranquilidade que se tinha e estão com medo", pontua.
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Estava conversando com um cacique do nosso povo da região do Sararé que contou que está pensando em continuar na aldeia ou se vai mais ao fundo do território. Eles não têm mais aquela tranquilidade que se tinha e estão com medo
Apesar de ser homologada pelo Governo Federal, a terra indígena Sararé tem sido alvo de ação de garimpeiros ilegais para extração de ouro. O território tem 67 mil hectares de extensão e está distribuído entre os municípios de Conquista D'Oeste, Nova Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade. A região tem sido alvo frequente de operações da Força Nacional e da Polícia Federal.
Segundo a Polícia Federal, o garimpo na região é comandado pela empresária Marlene de Jesus Araújo. Ela era a líder de uma associação criminosa, composta por filhos e outros membros de sua família, que comanda e financia a extração ilegal de ouro na terra indígena. Ela é conhecida como Rainha de Sararé e foi presa pela Polícia Federal em agosto de 2022.
O representante dos povos indígenas da região Oeste de Mato Grosso conta que a chegada dos garimpeiros criam uma tensão nas aldeias. Aos poucos, os indígenas começam a se retirar das aldeias para outras por medo de morrer. O movimento é reforçado por ameaças contra os povos originários da região.
Soilo aponta que, quando há as operações para combater a extração ilegal de ouro, o trabalho do garimpo dá uma amenizada. "O pessoal some, mas, depois que a fiscalização vai embora, volta em pouco tempo tudo de novo", denuncia.
Segundo Soilo, a chegada dos garimpeiros trouxe, além de contaminação para a água e do solo, uma divisão entre os próprios indígenas Nambiquara.
"Algumas lideranças vão conversar com eles [garimpeiros], ficam pensando que vão receber recurso com garimpo e ficam iludidos. Então, os caciques que não querem [o garimpo] começam a conflitar com aqueles que, digamos assim, com as pessoas que tem um diálogo ou quer servir [no garimpo]", destaca.
Allan Pereira/Midiajur
Soilo, que é da etnia no chiquitano, conta que garimpo ilegal na Sararé trouxe medo para povo Nambiquara
No Acampamento Terra Livre, no Centro Político da Capital, Soilo pediu em discurso uma maior fiscalização por parte do Estado nas terras indígenas.
"O garimpo só cresce dentro do território e tem levado a situações que nós não estávamos acostumados", conclui Soilo.
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