DA REDAÇÃO
Em entrevista ao MidiaJur, a vice-presidente da Ordem Dos Advogados - Seccional de Mato Grosso (OAB-MT), Gisela Cardoso, declarou que, apesar de não ser algo pensado de antemão, vê a cotação de seu nome para a presidência da instituição como fruto de lutas travadas em favor do setor.
O Dia do Advogado é celebrado em 11 de agosto em homenagem à criação dos primeiros cursos de Direito no Brasil, em 1827. Em Mato Grosso, a primeira Escola Livre de Direito de Cuiabá foi fundada em 1934. É também deste período a criação da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT).
Oitenta e oito anos depois, a OAB-MT é uma das instituições mais sólidas do Estado e chega em 2021 com desafios. Devido à pandemia do novo coronavírus, a Ordem teve que lidar com fóruns fechados, ações e processos suspensos, além de lutas já cotidianas como frisa Gisela.
Em seu segundo ano como organizadora do OAB Leads, ao lado de toda a diretoria, além da Caixa de Assistência dos Advogados (CAA-MT) e da Escola Superior da Advocacia (ESA-MT), Gisela, aponta as lutas diárias, conquistas e também sobre o futuro da advocacia de Mato Grosso, que segundo ela é um exemplo para o país.
A vice-presidente também comenta sobre seu nome estar sendo destacado para a disputa a presidência da OAB-MT.
Confira os principais trechos:
MidiaJur - Existe um crescimento significativo na participação feminina no mercado de trabalho e na advocacia não tem sido diferente, tanto que a própria OAB-MT divulgou neste ano que o número de advogadas inscritas na OAB-MT ultrapassou o total de homens inscritos. Como a senhora vê este cenário?
Gisela Cardoso - Historicamente o curso de Direito sempre foi ocupado por homens na maioria. Aos poucos, fomos conquistando nossos espaços sociais e no mercado de trabalho. Assim, não seria diferente com as inscrições na Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso. Hoje, pela primeira vez e seguindo uma tendência nacional, a OAB-MT conta com 10.620 inscritas e 10.106 inscritos.
É importante notar que onde existe uma maior representatividade, existe mais igualdade e uma possibilidade ainda maior de que cada vez mais pessoas se sentirem acolhidas e com seus direitos garantidos. Jamais devemos ver esses números como uma competição. Muito pelo contrário: são os primeiros sinais de que estamos no caminho certo.
MidiaJur - Mas neste contexto, tem havido igualdade dentro da OAB-MT?
Gisela Cardoso - Certamente que sim e posso dizer que um dos maiores avanços da nossa advocacia brasileira foi a aprovação da paridade, por meio do Conselho Federal da OAB. Ou seja, a partir das eleições deste ano, é preciso que haja igualdade de gênero nas chapas: elas só serão registradas se alcançarem a cota de 50% de participantes do gênero feminino, tanto para titulares como para suplentes.
MidiaJur - Ainda falando sobre a participação feminina, porque escolheu Direito? Era um sonho de criança?
Gisela Cardoso - Eu brinco que quando eu era menina tinha três sonhos: ser professora, e fui; ser bancária, eu fui; e advogada. Eu sempre me inspirei muito naqueles filmes de advogados, na defesa, aquilo sempre me enchia os olhos, de ter um profissional defendendo as pessoas, falando por elas. Sempre achei a advocacia muito bonita, já que enseja essa questão da defesa. Também vi problemas financeiros na minha família, que culminaram em demandas judiciais, quando era mais jovem que me fizeram pensar ainda mais forte nesse desejo de defender, de “eu posso fazer a diferença na vida de alguém, uma defesa que vai mudar a vida daquela pessoa”.
E aconteceu. A advocacia, além de ser uma profissão que eu vejo com muita admiração pela posição que o advogado tem de representar o direito de uma pessoa, tem esse lado de buscar uma defesa para quem não pode se defender naquele momento.
Quando uma pessoa te dá uma procuração, ela está te dando o poder de você falar em nome dela. Olha o quanto isso é importante. “Eu não posso falar sozinho, então defenda meu direito, fale por mim”, diz o cliente. E às vezes os direitos elementares: a liberdade, a família, o patrimônio, a vida. Então ser advogado é algo muito grandioso e muitas vezes as pessoas esquecem ou não veem na figura do advogado tudo isso.
MidiaJur - Neste mês é comemorado o Dia da Advocacia ou Mês do Advogado e a OAB-MT está realizando uma nova edição do OAB Leads, evento online realizado durante todo o mês de agosto. No ano passado, a seccional foi a primeira do Brasil a realizar programações durante o período de distanciamento social, agora, realiza mais uma edição. Qual é a importância desta programação, qual é o balanço que a senhora faz desse evento?
Gisela Cardoso - No ano passado tivemos fechamentos de fóruns, suspensões de prazos e colegas de profissão que enfrentaram inúmeras dificuldades, inclusive de ordem financeira. Vivemos momentos incertos, fomos nos adaptando ao “novo normal" e em meio a um contexto complexo, nos desafiamos. Por meio do OAB Leads mantivemos nossos objetivos assegurados: capacitarmos nossos advogados e reconhecermos o papel fundamental que exercem na sociedade brasileira.
Nossa meta foi mais do que alcançada. Fizemos um dos agostos mais ativos de todos os tempos no Estado. Foram mais de 150 horas de atividades divididas em simpósios, seminários, debates, painéis, grupos de estudo, eventos culturais e campanha de valorização da advocacia. Então chegamos em 2021 com o desafio de fazer ainda mais e melhor.
No dia 02 de agosto, começamos a segunda edição do OAB Leads e dessa vez vamos falar da “A advocacia do futuro é agora”. Contaremos com 35 eventos e mais de 300 palestrantes, números bastante superiores aos de 2020 e toda esta programação será realizada de forma gratuita em nossas plataformas virtuais.
A intenção da OAB-MT segue a mesma: enquanto diretoria, estamos focados na contínua valorização da classe e capacitação de cada um dos profissionais que atuam em nosso Estado. A OAB-MT foi a pioneira neste tipo de evento. Mato Grosso, aliás, tem sido forte protagonista e exemplo da advocacia no país.
MidiaJur - A senhora é vista como a principal candidata à presidência da OAB-MT para a próxima gestão, como se vê nessa candidatura. Sempre teve esse desejo?
Gisela Cardoso - Não, nunca tinha imaginado e este nunca foi um projeto de vida meu, “ah, vou ser presidente da OAB um dia” e, na verdade, ainda é um pouco cedo para falar sobre candidatura posta. Agradeço, aliás, que meu nome esteja sendo ventilado, já que ele é fruto dos trabalhos que venho fazendo pela Ordem. Eu comecei a trabalhar pela OAB-MT com a vontade de realmente fazer algo pela classe. Eu sempre disse que sou advogada e vivo exclusivamente da advocacia e preciso fazer de tudo para que dê certo, para que o advogado tenha cada vez mais condições de trabalhar, que as prerrogativas sejam asseguradas, que os honorários sejam valorizados. Essa briga, essa luta, é uma luta pessoal, porque eu vivo da advocacia.
Sou muito intensa naquilo que eu me proponho a fazer. Não sei fazer as coisas pela metade. Eu fiz a pós-graduação de Direito Empresarial e conheci muita gente ali e um dos amigos que fiz lá, doutor Geraldo Macedo, era presidente da Comissão de Propriedade Intelectual. Foi ele quem me convidou para ir para essa Comissão da OAB. Então esta foi minha primeira comissão. Depois, eu fui convidada para ser relatora do TED (Tribunal de Ética e Disciplina) e, em 2016, também após convite, aceitei participar da eleição e comecei a fazer parte da diretoria. Desde então, conheci efetivamente tudo: todos os órgãos, toda a estrutura, todas as 29 subseções. Estive presente em cada uma delas, participei de todos os colégios de presidente, participei de todas as sessões do conselho, presidindo junto com o presidente Leonardo Campos muitas delas ou, às vezes, sozinha. Então passei efetivamente a conhecer, viver e trabalhar a OAB e percebi, com isso, que eu poderia sim fazer um trabalho em prol da advocacia e em prol da classe.
Também costumo dizer: eu preciso que dê certo, preciso trabalhar para valorização da advocacia, é uma profissão que eu amo, que eu escolhi fazer na minha vida, que eu não me arrependo e quero fazer até o dia de me aposentar, e se Deus quiser vai demorar. Então eu já luto, mas quero muito continuar a lutar pela advocacia. Além de ser também uma forma de retribuir tudo que ela me deu, que representa para mim. Eu saí do interior do Estado e hoje o que eu tenho, o que eu sou, eu devo muito à advocacia. É neste contexto que meu nome tem sido ventilado e se for para acontecer, que seja para fazer um trabalho em prol da advocacia.
MidiaJur - No final do mês de julho deste ano, o Conselho Federal da OAB aprovou o impulsionamento das postagens em redes sociais. É um avanço?
Gisela Cardoso - Sim, porém é preciso parcimônia. As redes sociais dominam nossas vidas hoje, mas quando se trata de algumas áreas de trabalho, é preciso que algumas regras sejam definidas para serem seguidas. O Conselho Federal da Ordem ter aprovado regras específicas para o marketing jurídico é uma prova de que está a par do que tem acontecido no mundo e às mudanças de nossas rotinas. Vejo um avanço, obviamente porque 2020 e a pandemia nos mostraram que precisamos estar preparados para nos adaptar, mas precisamos também seguir claramente as regras para não as infringirmos, uma vez que temos que pensar em quem acompanha as informações e em nossos possíveis clientes.
Quer receber notícias no seu celular? Participe do nosso grupo do WhatsApp clicando aqui .
Tem alguma denúncia para ser feita? Salve o número e entre em contato com o canal de denúncias do Midiajur pelo WhatsApp: (65) 993414107. A reportagem garante o sigilo da fonte.