DA REDAÇÃO
O Ministério Público Federal ofertou mais quatro denúncias contra oito pessoas acusadas de integrar o esquema de crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro investigado na Operação Ararath.
Foram denunciados os empresários Samuel Maggi Locks (sobrinho do senador Blairo Maggi) e Renato Novack; o ex-secretário de Estado Eder Moraes; os irmãos advogados Alex e Kleber Tocantins; e o trio de irmãos Edson Ribeiro de Miranda, José Gonçalo de Miranda e Carlos Roberto Ribeiro de Miranda ((atualmente assessor do deputado federal Carlos Bezerra).
As denúncias já foram acatadas pelo juiz Jeferson Schneider, da 5ª Vara Federal em Mato Grosso.
De acordo com investigações da Operação Ararath, os oito denunciados teriam participado do esquema criminoso que se valeu de um sistema financeiro paralelo (à margem do oficial), movimentou cifras milionárias para fins diversos, incluindo corrupção e financiamento ilegal de campanhas eleitorais, praticando diversos crimes conexos com crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, notadamente a operação clandestina de instituição financeira, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro.
Empresários
Nas denúncias, o MPF detalha como os empresários do ramo da comunicação teriam agido a mando do então secretário de Estado de Fazenda Éder de Moraes para “lavar o dinheiro”.
Os empresários, em tese, pegavam empréstimos junto ao Bic Banco e repassavam o dinheiro para o pagamento de dívidas da organização criminosa. Os empréstimos, depois, seriam pagos por construtoras com parte do dinheiro recebido por serviços prestados ao Governo do Estado e como condição para que o secretário de Fazenda autorizasse o pagamento pela Secretaria de Estado de Fazenda.
Entre os anos 2007 e 2008, a SML Comunicação na época de propriedade de Samuel Maggi Locks, teria feito vários empréstimos no Bic Banco, em dois deles, no valor de R$ 127 mil e R$ 180 mil, a empresa deu como garantia ao banco valores que supostamente teria a receber do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Comunicação.
O envolvimento da WM Comunicação teria ocorrido da mesma forma. Em 2008, Renato Novack, então proprietário da empresa, teria feito um empréstimo de R$ 200 mil junto ao Bic Banco e oferecido como garantia valores a receber por serviços supostamente prestados diretamente à Secretaria de Estado de Comunicação (Secom).
A Secom, por sua vez, enviou ofício ao Bic Banco confirmando ter valores a serem pagos à WM Comunicação e SML Comunicação, mas sem fazer referência ao número do contrato de prestação de serviço, vez que inexistente.
Como parte do alegado esquema de desvio de recursos públicos, o empréstimo tanto da SML Comunicação quanto da WM Comunicação foram pagos diretamente ao Bic Banco pela Lince Construtora a mando do então secretário de Estado de Fazenda Éder de Moraes.
Enquanto secretário de Estado, Éder supostamente condicionou o pagamento dos créditos devidos à Construtora Lince pelos serviços prestados à administração pública ao compromisso da construtora de transferir parte do dinheiro recebido para empresas indicadas por ele, isso incluia a SML Comunicação e a WM Comunicação e a outras empresas que também estão sendo investigadas pela Operação Ararath.
Os empresários Renato Novack e Samuel Maggi Locks foram denunciados pelos crimes de lavagem de dinheiro. Na ação, o MPF também pede o bloqueio de R$ 307 mil e R$ 466 mil, respectivamente, em valores atualizados para devolução aos cofres públicos.
Participação de Eder
Pelo suposto esquema arquitetado com as construtoras Lince e Sabóia Campos Construções para receber dinheiro que beneficiasse a organização criminosa da qual fazia parte, Éder de Moraes foi denunciado nessa recente ação por corrupção passiva e peculato.
Éder de Moraes teria agido assim: enquanto secretário de Fazenda, ele propôs ao dono das duas construtoras a autorização para pagamento da dívida do governo ao pagamento de propina para a organização que ele representava.
Para conseguir receber do governo, o empresário José Geraldo de Saboia Campos, colaborador do MPF na investigação desse esquema, fteria feito um acordo no gabinete da Secretaria de Fazenda (Sefaz), em que se comprometia a desistir das ações judiciais de cobrança contra o Governo do Estado para que a Sefaz fizesse o pagamento pela via administrativa.
O acordo estabeleceria que parte do dinheiro transferido para as empresas de José Geraldo de Saboia Campos fosse desviado para contas bancárias de empresas indicadas pelo secretário de Fazenda. O empresário cumpriu a parte que lhe cabia no acordo e voltou à Sefaz para que Éder de Moraes cumprisse a parte dele. No mesmo dia, foram autorizados dois pagamentos para a construtora nos valores de R$ 10,6 milhões e R$ 6,8 milhões.
Conforme acertado entre Éder de Moraes e o empresário, no dia seguinte, a construtora Lince fez transferências ao Bic Banco. O dinheiro tinha como destino a conta bancária das empresas SML Comunicação e WM Comunicação e de outras empresas que ainda estão sendo investigadas pela Operação Ararath.
Favorecimento a integrantes de partido político -
Outras quatro pessoas foram denunciadas por lavagem de dinheiro para tentar ocultar a destinação de R$ 1,1 milhão destinado a pessoas ligadas ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), do qual Carlos Roberto de Miranda, um dos denunciados, era, na época, tesoureiro. Atualmente ele é assessor parlamentar do deputado federal Carlos Gomes Bezerra.
Dois dos denunciados, os irmãos e advogados Alex e Kleber Tocantins, teriam combinado o pagamento de propina com o secretário da Fazenda de Mato Grosso da época, Éder de Moraes, para que o governo pagasse o precatório de R$ 19 milhões devidos à empresa Hidrapar. O montante foi pago na conta corrente dos advogados e procuradores legais da empresa.
Parte desse dinheiro tinha que chegar até pessoas ligadas ao PMDB. Então, para fazer a lavagem do dinheiro, o tesoureiro do PMDB Carlos Roberto Miranda, com o auxílio de seus irmãos Edson Ribeiro de Miranda e José Gonçalo de Miranda, teria falsificado um contrato de gaveta para simular a venda de uma fazenda no município de Pontes e Lacerda (MT) para o escritório de advocacia Tocantins Advocacia S/A e receber o valor de R$ 1,1 milhão pela suposta venda do imóvel rural.
Para pagar pela propriedade de existência física desconhecida pelos próprios contratantes, os irmãos e novos proprietários teriam transferido o dinheiro para a conta bancária da mãe de Carlos Roberto de Miranda, assim o dinheiro ficaria facilmente acessível para ser usado de acordo com os interesses do partido político que ele representava.
Na ação, o MPF pede o bloqueio de bens de Alex Tocantins, Kleber Tocantins e Carlos Roberto Ribeiro de Miranda no valor total de R$ 1,635 milhão.