CAMILA RIBEIRO
DO MIDIANEWS
Cunhado do ex-procurador do Estado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o Chico Lima, que figura como réu na Operação Sodoma, o médico Vitor Carlos de Souza Vieira prestou depoimento à Polícia Civil, no último dia 26 de março.
Ao delegado Lindomar Aparecido Tófoli, da Delegacia Especializada em Crimes Fazendários, Vitor Carlos fez uma série de relatos que demonstrariam o suposto enriquecimento ilícito do ex-procurador.
Em depoimento, Vitor afirmou que a evolução patrimonial do cunhado não seria compatível com o exercício de sua função - e apontou que o ex-procurador possuiria uma “coleção” de veículos de luxo, avaliada em R$ 1,6 milhão.
Entre os veículos estariam uma Mercedes SLK conversível de cor prata, no valor de aproximadamente R$ 200 mil, e uma Mercedes 380, preta, blindada, no valor de R$ 400 mil.
Ambos os veículos, segundo o médico, estariam no Rio de Janeiro e teriam sido registrados em nome de uma clínica de hemodiálise, localizada no município de Rondonópolis (212 km de Cuiabá), da qual Chico Lima seria sócio majoritário.
Em Cuiabá, o ex-procurador possuiria outras duas Mercedes, sendo uma delas uma ML 350, avaliada, segundo ele, em R$ 370 mil.
Além disso, segundo o médio, Chico Lima teria adquirido, recentemente, uma Mercedes C 280, de R$ 220 mil, uma Land Rover Discover HSE 2013, de R$ 250 mil, e uma moto BMW 1300.
Além disso, o informante narrou que a filha de Chico Lima, Vivian Maria Vieira de Andrade Lima, também possuiria uma Mercedes C180, de valor aproximado de R$ 150 mil.
Evolução patrimonial
No termo de declaração, o médico Vitor Carlos afirmou também que a evolução patrimonial do então procurador teve início a partir do início do Governo Blairo Maggi (PR), em 2003, quando Chico Lima foi designado para trabalhar em Brasília, com objetivo de fazer com que o Estado recebesse uma compensação financeira devida desde a divisão do Estado.
Já a partir do ano seguinte, conforme depoimento, Lima teria começado a dar os "primeiros sinais" de suposto enriquecimento ilícito. À época, o então procurador adquiriu um apartamento no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, supostamente colocado em nome de sua filha, Vivian Maria Vieira de Andrade Lima.
Em 2007, segundo relato do médico Vitor Carlos, Chico Lima teria comprado um segundo apartamento, desta vez localizado na Rua Prudente de Moraes, no bairro de Ipanema, também no Rio de Janeiro.
Este imóvel seria o maior entre todos aqueles adquiridos por Lima, sendo que ele teria sido reformado e mobiliado com objetos de alto valor no mercado.
O apartamento, novamente, teria sido comprado em nome dos filhos do procurador. Desta vez, além de Vivian, também aparecia como proprietário Francisco Gomes de Andrade Filho.
O apartamento localizado no bairro de Botafogo acabou sendo vendido entre os anos de 2011 e 2012, período em que Chico adquiriu outro imóvel, na rua Redentor, bairro de Ipanema, também no Rio de Janeiro.
O imóvel, segundo narrou Vitor Carlos, possuía 170 metros quadrados e estava localizado em um prédio de um apartamento por andar.
Ainda segundo o declarante, à época em que foram adquiridos os imóveis no Rio de Janeiro, o filha de Chico Lima cursava Direito e tinha uma renda muito baixa, já que trabalhava no Sesc ou no Senai, não tendo, portanto, condições financeiras de adquirir imóveis em regiões nobres do Rio de Janeiro.
O filho de Lima, por sua vez, era recém-formado em residência médica, com um salário de pouco mais de R$ 1 mil, quando da aquisição dos imóveis.
“Mansão”
Também conforme as declarações prestadas pelo médico Vitor Carlos, o cunhado Chico Lima, possuiría uma “mansão” com terreno de cerca de três mil metros quadrados, localizado no bairro Quilombo, atrás do prédio da Polícia Federal.
A mansão tinha uma adega climatizada, personalizada e com controle de umidade, segundo termo de declaração.
No mesmo bairro, Lima teria adquirido uma casa para um caseiro de sua confiança, um senhor de 70 anos de idade, identificado apenas como “Robertão” e que trabalhava para Francisco há mais de 30 anos.
"Lavagem de dinheiro"
Chico Lima, ainda de acordo com as declarações do cunhado, teria aberto uma boutique, cujo nome fantasia era “Gueb”, em nome de terceiros.
A loja, localizada na avenida Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA), ficou aberta entre os anos de 2004 e 2010 e teria sido usada para “lavagem de dinheiro”.
“Balcão de negócios”
Consta ainda no termo de declaração prestado à Delegacia Fazendária a informação dando conta de que, entre os anos de 2006 e 2007, Chico Lima teria intermediado uma negociação da Procuradoria-Geral do Estado com o Grupo Naoun, de produção de álcool, no município de Jaciara (144 km de Cuiabá).
Na ocasião, Lima teria recebido uma porcentagem dessa negociação e, a partir de então, começado a intermediar a negociação de dividas de empresas com o Estado.
Utilizando-se da função ocupada à época, Lima, segundo o declarante, teria montado um verdadeiro “balcão de negócios” na Procuradoria do Estado, intermediando a redução e quitação de débitos tributários do Estado.
Réu na Sodoma
O ex-procurador Chico Lima é um dos réus na Operação Sodoma, por suposta participação em um esquema de cobrança de propina em troca de benefícios fiscais em Mato Grosso.
Segundo as investigações, Chico Lima seria um dos responsáveis por trocar cheques recebidos como propina em uma factoring.
No total, conforme aponta denúncia da promotora de Justiça Ana Cristina Bardusco Silva, o ex-procurador “lavou” o montante de R$ 499.998,00 na FMC Recuperação de Crédito Ltda.
De acordo com a denúncia, o dinheiro seria pulverizado em outras contas, por Chico Lima, atendendo aos supostos interesses do ex-secretário de Estado Pedro Nadaf (Indústria e Comércio) e do ex-governador Silval Barbosa (PMDB).
Chico Lima responderá na Justiça por crimes de corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
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