LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso (Fecomércio) teria sido usada pelo presidente licenciado e ex-secretário de Estado de Indústria, Comércio, Minas e Energia e Casa Civil, Pedro Nadaf, como um “balcão de negócios” para o cometimento dos crimes investigados na Operação Sodoma.
A afirmação é da promotora de Justiça Ana Cristina Bardusco, do Ministério Público Estadual (MPE), e está contida na denúncia assinada por ela, que apura esquema que teria lucrado R$ 2,6 milhões com a cobrança de propinas em troca de benefício de incentivos fiscais em Mato Grosso, entre 2011 e 2014.
Segundo a promotora, o ex-secretário utilizava de sua condição de presidente da Fecomércio para manter relações estreitas e ganhar a confiança do empresariado mato-grossense, o que era de interesse da organização criminosa.
As investigações levaram o ex-secretário à prisão, juntamente com o ex-secretário de Fazenda, Marcel de Cursi, e o ex-governador Silval Barbosa (PMDB). Também foram denunciados Francisco Andrade de Lima Filho, o Chico Lima, procurador aposentado do Estado; Sílvio Cézar Corrêa Araújo, ex-chefe de gabinete de Silval Barbosa; e Karla Cecília de Oliveira Cintra, ex-secretária de Nadaf na Fecomércio.
Na denúncia, Nadaf é acusado de ter exigido do empresário João Batista Rosa (delator do esquema) a renúncia de um crédito de R$ 2,5 milhões em favor do grupo criminoso, além de ter exigido propinas mensais para manter as três empresas do delator em programa que concedia benefícios fiscais.
Uso da Fecomércio
A promotora Ana Bardusco destacou que, de 2011 a 2014, boa parte dos 246 cheques pagos pelo delator João Batista a título de propina foram entregues pessoalmente a Nadaf na sede da Fecomércio.
De acordo com a denúncia, o término da gestão Silval Barbosa não impediu Nadaf de dar prosseguimento ao esquema, sendo que apenas mudou o local de onde operava os alegados crimes.
“Necessário reconhecer que ao deixar a administração pública a organização criminosa transferiu o seu “balcão de negócios” da sede do governo estadual para a sede da Fecomércio, fato que fica evidenciado nas reuniões realizada naquele ambiente pela organização criminosa, como ilustram os contatos com o empresário João Rosa, que constantemente era convidado a se reunir com Pedro Nadaf e Marcel Cursi naquela sede”, disse a promotora.
Outra prova do “uso criminoso do espaço físico da Fecomércio” é o fato de a diretora financeira da federação, Karla Cintra, ser considerada o “braço direito” de Nadaf e, em tese, ter colaborado para a lavagem do dinheiro recebido de propina.
“Veja, desse modo, que além de ser responsável por controlar os pagamentos da propina realizada por intermédio da NBC [empresa da qual era sócia], tinha tarefa similar em relação aos cheques diretamente recebidos por Pedro Nadaf. A integração de ações e vontades ente ela e Pedro Nadaf é inquestionável e, foi por intermédio dele, que aderiu a organização criminosa”, ressaltou.
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