LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Rosa, presidente afastado da CDL Cuiabá (Câmara de Dirigentes Logistas) é delator do suposto esquema de cobrança de propinas em troca de benefício de incentivos fiscais em Mato Grosso, investigado pela Operação Sodoma.
Cursi, que está preso em cela especial no Centro de Custódia da Capital, confirmou que se reuniu com o empresário, no final de agosto.
Segundo ele, foi uma “visita humanitária”, já que Rosa estava enfrentando problemas de depressão, e não uma reunião para tratar de negócios ilícitos envolvendo a suposta fraude na concessão de
"[...] para não criar uma polêmica entre o Sr. João e o Pedro sobre o valor e até mesmo para não criar uma situação pior entre essas duas pessoas, disse falsamente que havia pego R$ 5 mil, mas que não pegou esse dinheiro [...]"
Apontado como o “mentor intelectual” do esquema que teria lucrado mais de R$ 2,5 milhões, o ex-secretário afirmou que a visita ocorreu a pedido do delator, que, em tese, buscava uma orientação para sua defesa na CPI da Renúncia e Sonegação Fiscal, da Assembleia Legislativa.
Cursi relatou no depoimento que, durante um mês, resistiu em tratar do assunto com João Rosa, porque não tinha interesse. "Foi quando encontrou por acaso o Sr. João Rosa, na Fecomércio, e o Sr. João deixou com a secretária da Fecomércio um envelope contendo uma defesa elaborada pelo advogado dele, e que era para o interrogado dar uma olhada e emitir uma opinião, mas que protelou em pegar esse envelope para ver essa minuta, e que só resolveu pegar esse envelope em virtude de que Rosa estava passando por problema de depressão e considerava como ele amigo. E, em virtude disso, resolveu pegar esse envelope para ver essa minuta, quando então resolveu fazer uma visita humanitária numa quinta-feira”, diz trecho do depoimento.
Repasse de dinheiro
Na delação, João Batista Rosa contou que o ex-secretário de Estado de Indústria, Comercio e Energia, Pedro Nadaf (também preso), lhe exigiu R$ 30 mil para a defesa na CPI e outros R$ 15 mil para Marcel de Cursi, que estaria passando por dificuldades financeiras, em razão de estar com as contas bloqueadas na ação que apura concessões fiscais indevidas à JBS Friboi.
Na gravação da reunião entre o delator e Marcel de Cursi, consta que o ex-secretário confessou ter recebido dinheiro de Nadaf - R$ 5 mil, e não os R$ 15 mil que o empresário alega ter repassado.
No entanto, em seu depoimento, Marcel de Cursi admitiu que disse ao delator ter recebidos os R$ 5 mil, mas que na verdade teria mentido sobre isso “para não criar polêmica”.
“E nessa reunião o Sr. João Batista Rosa lhe perguntou se Pedro Jamil Nadaf havia lhe passado o dinheiro, foi quando o interrogado diz que perguntou a esse quanto havia passado a Pedro, e o Sr. João respondeu quinze mil, e o interrogado diz que para não criar uma polêmica entre o Sr. João e o Pedro sobre o valor e até mesmo para não criar uma situação pior entre essas duas pessoas, disse falsamente que havia pego R$ 5 mil, mas que não pegou esse dinheiro com Pedro Jamil Nadaf, e nem mesmo pediu algum dinheiro ao Sr. João para emitir opinião sobre a defesa, e que salienta ainda que não pegou nenhum dinheiro em discussão, conforme pode ser visto no áudio, adotando esse comportamento para evitar constrangimento entre duas pessoas que considerava como amigo (Pedro e o Sr. João)”, disse o ex-secretário.
"[...] que o interrogado quer esclarecer que, com relação ao assunto concessão de Prodeic, nunca tratou com Pedro Jamil Nadaf e com Sr. João Batista Rosa [...]"
Benefícios concedidos
Ainda no depoimento, o ex-secretário garantiu que não exigiu propina ou participou de qualquer irregularidade para enquadrar as empresas de João Rosa no Prodeic.
Ele argumentou que este tipo de benefício fiscal era pedido, avaliado e concedido pela Secretaria de Indústria e Comércio, da qual ele não tinha qualquer vínculo.
O único momento em que ele teria tratado de assuntos relativos a benefícios fiscais como delator, segundo Marcel de Cursi, foi quando recebeu João Rosa – na condição de representante da Federação da Câmara dos Dirigentes Logjstas - na Secretaria de Estado de Fazenda.
“Que as reuniões versavam sobre carga tributária, que era a maior do Brasil, apreensões de fronteiras e morosidade de processos, entre outros; que o interrogado quer esclarecer que, com relação ao assunto concessão de Prodeic, nunca tratou com Pedro Jamil Nadaf e com Sr. João Batista Rosa, até porque esse assunto teria que ser tratado na SICME (Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia)”, disse ele.
Leia mais sobre o assunto:
Do presídio, Roseli ligou para Silval para pedir escova de cabelo
Silval era chefe, mentor e maior beneficiário das fraudes, diz juíza
Delator cita "problemas psicológicos" e "temor com integridade física"
Silval é levado à delegacia, mas se mantém calado; veja a chegada
Após ser considerado foragido, Silval Barbosa se entrega à Justiça
Juíza diz que Cursi é um dos "mentores intelectuais" de esquema
Ex-assessor de Silval Barbosa recebeu R$ 25 mil de factoring
Em 17 meses, empresa de Nadaf recebeu R$ 520 mil de propina
Defesa diz que mandado de prisão "não tem fundamento"
Defesa tenta liberdade no TJ e alega que Silval é "inocente"
Mulher de Nadaf recebeu três cheques de propina, diz Polícia
Irmã de Nadaf diz que prisão foi “injusta” e “desnecessária”
Nadaf se manteve em silêncio durante depoimento à Polícia
Ex-secretários estão em celas especiais e não recebem visitas
Empresa diz que pagou R$ 2,6 milhões a Nadaf por incentivos
Polícia Civil cumpre 11 mandados de busca e apreensão
Nadaf e Marcel Cursi são presos e Silval é considerado foragido
Quer receber notícias no seu celular? Participe do nosso grupo do WhatsApp clicando aqui .
Tem alguma denúncia para ser feita? Salve o número e entre em contato com o canal de denúncias do Midiajur pelo WhatsApp: (65) 993414107. A reportagem garante o sigilo da fonte.