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AGRONEGÓCIOS Quinta-feira, 30 de Março de 2023, 07:09 - A | A

30 de Março de 2023, 07h:09 - A | A

AGRONEGÓCIOS / ESTRATÉGIA PRODUTIVA

Déficit de armazéns é risco para produtores de soja e milho em Mato Grosso

Projeção da safra de 2022/2023 indica que a capacidade de armazenamento é quase metade da produção dos dois grãos

MIKHAIL FAVALESSA E ALLAN PEREIRA
Da Redação



Secom-MT

Armazém de milho

 A armazenagem dos grãos de soja e milho é vista como estratégica para produtores rurais, em especial no gerencimento do preço de venda do produto

Com uma produção apenas de soja e milho próxima de 90 milhões de toneladas na safra atual, os produtores de Mato Grosso começam a enxergar um cenário de estrangulamento da capacidade de armazenamento de grãos. O volume da produção projetada é quase o dobro do volume da chamada “capacidade estática” dos armazéns.

A construção de complexos de armazenagem e, principalmente de silos nas áreas das fazendas, permite aos produtores controlar melhor os preços de venda dos grãos a partir da colheita e até a entressafra. Além disso, é peça importante na segurança alimentar.

Ao Midiajur, o presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde, Marcelo Lupatini, apontou o financiamento como principal entrave para a construção de novos armazéns.

"Nenhum produtor rural consegue viabilizar a construção de um armazém; é um valor muito alto. Precisa de um financiamento a juros de no máximo a 8% e com um prazo [de pagamento] de 15 a 20 anos. A conta não fecha", pontua.

De acordo com dados da Conab, Mato Grosso tem 2.426 armazéns de grãos cadastrados, entre baterias de silos, armazéns convencionais, silos, graneleiros, entre outros, com uma capacidade total de 44,7 milhões de toneladas.

A estimativa de produção para a safra apenas de soja e milho 2022/2023, será de 87,87 milhões de toneladas, ou seja, quase o dobro da capacidade de estocagem atual no Estado. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) coloca que a “capacidade estática” ideal é de 20% a mais do que a capacidade de produção, em termos de segurança alimentar.

Os financiamentos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) continuam sendo a opção mais viável para os fazendeiros. Mas os juros oferecidos no mercado brasileiro atualmente, influenciados pela taxa Selic de 13,75%, estão por volta de 16% ao ano – o que é considerado alto, de acordo com Marcelo.

É como se um fosse trem, e se todos os vagões estivessem cheios e não está mais cabendo. Esse trem não dá conta de tirar na velocidade em que estamos enchendo o silo. Isso está acontecendo e isso vai piorar

"Os juros estão muito altos no mundo inteiro; não só no Brasil, não dá nem para condenar o governo. E a produção vem crescendo muito. O que levava 70 dias para colher a soja, agora leva 30 e 40 dias. O aperto está complicado. A logística nossa é praticamente a BR-163. Se junta pouco tempo, muita produção e poucos armazéns. Nós vemos que a falta de armazém vai ser um gargalo para o aumento de produção. É uma cadeia complexa com pouca estrada e pouco caminhão", avalia Lupatini.

O presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde explica que a garantia dada no financiamento da construção do armazém é parte da própria colheita do produtor rural. "Ele [financiamento] tem que se pagar trabalhando. Ninguém tem esse capital de giro".

Na safra 2022/20203, Lupatini conta que a capacidade de armazenamento chegou no limite. "Esse ano não está dando mais conta. Tem mais gente vendendo do que a capacidade de escoar".

"É como se um fosse trem, e se todos os vagões estivessem cheios e não está mais cabendo. Esse trem não dá conta de tirar na velocidade em que estamos enchendo o silo. Isso está acontecendo e isso vai piorar", projeta.

A alta produção com pouca capacidade de armazenagem coloca o produtor de soja e milho numa situação desesperadora. "Estamos colhendo cada vez mais em um período mais curto. Já no ano passado, comentamos que, em dois ou três anos, pode ocorrer de não ter onde levar o grão na safra. Algumas regiões aconteceram isso", destaca Marcelo.

A falta de armazenamento, aliada à falta de logística e transporte, vai trazer prejuízos para o setor e ter um efeito cascata na economia, prevê o presidente do sindicato rural em Lucas.

“Vai ser um tiro no pé do próprio governo. O produtor vai vender menos, o governo vai arrecadar menos e vai acabar estrangulando o aumento da produção. O produtor está fazendo a parte e investindo pesado dentro da porteira, mas o governo não está acompanhando”, opina.

O CENÁRIO EM MATO GROSSO

A capacidade de armazenagem em todo o país é de 188,4 milhões de toneladas, o que coloca Mato Grosso como detentor de pouco mais de 23% do volume disponível em todo o Brasil. É a unidade da federação com maior volume disponível, bem à frente do Rio Grande do Sul, com 32,3 milhões de toneladas, e do Paraná, com 30,6 milhões de toneladas.

Os municípios com maior volume estão no eixo principal da produção de soja e milho em Sorriso, Primavera do Leste, Sinop, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum. Apenas nessas cinco cidades, os armazéns têm volume para guardar 14,8 milhões de toneladas, o que corresponde a 33,2% da capacidade em todo o Estado.

A série histórica dos dados da Conab, por meio do Sistema de Cadastro Nacional de Unidades Armazenadoras (Sicarm), mostra ainda que em Mato Grosso, enquanto a capacidade total saiu de 27,44 milhões de toneladas em 2010 para 44,78 milhões em 2022 - um salto de 63% em 12 anos -, a participação da armazenagem em nível de fazenda permaneceu quase no mesmo patamar durante todo esse período.

Em 2010, as fazendas eram responsáveis por 26,29% da capacidade de armazenamento de grãos, e em 2022 esse percentual chegou a 26,9%. O volume saiu de 7,21 milhões de toneladas 12 anos atrás para 12,05 milhões de toneladas no ano passado, segundo a Conab.

Entre as empresas, os dados da Conab mostram que os estoques estão nas mãos das gigantes tradings exportadoras do setor, ou das indústrias, em especial de etanol de milho, e não dentro das propriedades. As empresas Sipal Indústria e Comércio Ltda, Amaggi Exportação e Importação Ltda, Bunge Alimentos S/A, Inpasa Agroindustrial S/A, Cargill Agrícola S/A, Bom Futuro Agrícola Ltda e Louis Dreyfus Company Brasil S/A têm, juntas, 11,1 milhões de toneladas de capacidade de armazenamento, o que representa 24,8% da capacidade registrada pela Conab em Mato Grosso.

FUNÇÃO ESTRATÉGICA

Integrante do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (ESALQ-LOG), vinculado ao Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP, o pesquisador Fernando Vinicius da Rocha aponta que a questão do armazenamento é estratégica para os atores do agronegócio.

 

"Ela tem um papel para, entre outras coisas, coordenar a oferta e demanda para o mercado, para o transporte, para suprir cadeias agroindustriais, para coordenar e ter controle de escoamento, da sazonalidade, e também de preços. Além disso, tem a função de garantir suprimentos. Compra-se em um preço melhor, deixa estocado e vai usando na indústria nos meses seguintes", relata.

Rocha pondera que a área de armazenagem é "plural e complexa em termos de decisões, e também no uso e benefícios" a cada um dos atores da cadeia produtiva.

"Porém, de 2010 a 2020, o Brasil aumentou a produção de grãos algo em torno de 81%, se aumentou mais de 100 milhões de toneladas de grãos, soja e milho. No caso da armazenagem, no mesmo período, o crescimento da capacidade estática cresceu 32% apenas. A gente começa a ver um desbalanço. A produção cresce num nível acima do provimento da infraestrutura de armazenagem e, em razão disso, ano a ano a gente adiciona um déficit de armazenagem", avalia o pesquisador, registrando que entre 2019 e 2021 o déficit entre produção e capacidade de armazenamento cresceu 10 milhões de toneladas por ano em média.

Para a armazenagem em nível de fazenda, o pesquisador da ESALQ-USP destaca dois desafios principais: o alto custo para construção de armazéns e também a qualificação para operação dessas estruturas.

Rocha registra que não se trata apenas da estrutura do silo em si. A instalação depende de adequação da área e outras infraestruturas paralelas, em especial de energia elétrica, para possibilitar a operação. Segundo ele, há relatos de mais dificuldade dos produtores que atuam nos “rincões mais novos", onde a infraestrutura de modo geral ainda não está bem estabelecida para a produção de soja, milho e outros grãos.

"E não é simplesmente uma operação de deixar o produto parado. Exige secagem, limpeza, manutenção, aeração, verificação da qualidade do produto, além de outras etapas. Isso exige certa mão de obra qualificada, ainda que dos próprios proprietários, para fazer essa operação de verificação da qualidade do grão com a temperatura correta, o que inclui o uso de uma série de equipamentos automatizados. É algo específico, que não está diretamente ligado ao know-how comum da produção agrícola, daquela realidade", argumenta.

De acordo com o pesquisador, um ponto ainda delicado para a questão da armazenagem é o financiamento disponível para construção das estruturas. O Plano Safra, do Governo Federal, prevê linhas de crédito possivelmente mais atrativas. Rocha pondera que a viabilidade econômica e ambiental de cada construção deve ser analisada caso a caso.

INICIATIVA DA APROSOJA

A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) lançou, em junho de 2021, o programa "Armazém para Todos". A iniciativa busca incentivar a construção de silos em propriedades de pequeno e médio porte no Estado, mirando no déficit de armazéns existente no maior produtor de grãos do país.

Entre outras medidas, a Aprosoja-MT disponibiliza um simulador para que produtores de qualquer tamanho de área possam avaliar a viabilidade da construção de armazém, com retorno do investimento em até cinco anos - clique aqui e conheça a ferramenta.

"Armazéns pertencentes aos produtores podem ser vistos como um fator estratégico para a venda, pois permite que a comercialização seja realizada em momento oportuno e de melhores preços. Além de ser garantia para safras em que o tempo interfere na colheita dos grãos. Garante ainda a segurança alimentar e a soberania do Brasil, que tem estoques mantidos em casos de crises", defende a associação.

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