DOUGLAS GAVRAS
Da Folhapress - Curitiba
Um vídeo sobre consumo sustentável que circulou nas redes sociais na última semana levou o Bradesco a escrever uma carta aberta, se retratando com o agronegócio.
No material, um aplicativo oferecido pelo banco – que permite que o cliente calcule sua pegada de carbono – é associado à redução do consumo de carne.
Ele começa com três influenciadoras dando dicas de como o consumidor pode tomar atitudes mais sustentáveis.
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"Duas atitudes simples que você pode tomar no seu dia a dia para reduzir o seu impacto", diz uma delas.
Elas, então, dizem que a primeira atitude que o consumidor poderia tomar é reduzir o consumo de carne, optando por pratos vegetarianos uma vez por semana – movimento que ficou conhecido como "Segunda sem Carne".
"A criação de gado contribui para a emissão dos gases de efeito estufa, então, que tal se a gente reduzir o nosso consumo de carne e escolher um prato vegetariano na segunda-feira?"
O vídeo segue sugerindo que o consumidor também pode começar a usar composteira para o lixo doméstico e que o usuário calcule a quantidade emitida de carbono e use a informação para pensar em outras maneiras de compensar suas emissões.
O vídeo despertou críticas de entidades e políticos ligados ao agronegócio ao longo da última semana.
Em nota, o Imac (Instituto Mato-Grossense da Carne) criticou o material, dizendo que a pecuária brasileira, no contexto mundial, é a menos impactante na produção de carbono.
"No Brasil, a nossa pecuária é realizada de forma natural, utilizando-se da pastagem como o principal insumo alimentar (...) e os modelos de produção utilizam pastagens produtivas para a criação de bovinos contribuem positivamente para o balanço de carbono, sequestrando as emissões desse gás que a produção pecuária emite."
Segundo a entidade, não é aceitável associar a responsabilidade integral pela emissão de gases de efeito estufa com a pecuária e a sugestão de se reduzir o consumo de carne bovina no Brasil não faz sentido.
Por meio de seu perfil no Twitter, o deputado federal José Medeiros (Pode-MT) também criticou a peça.
"É isso mesmo @Bradesco? Vocês não pensaram em consultar Embrapa ou alguma instituição séria para saber se o pasto captura carbono na atmosfera e compensa os gases da pecuária?", questionou.
No último dia 24, o Bradesco publicou uma carta aberta ao agronegócio, em que procurou se desvincular do conteúdo.
O banco determinou a remoção do material de suas redes, disse que apoia o setor de "forma plena" e afirmou que tomaria ações administrativas internas severas por conta do ocorrido.
"Nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca. Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina", diz a carta do banco.
Ainda de acordo com o banco, a instituição acredita e promove "direta e indiretamente a pecuária brasileira e por conseguinte o consumo de carne bovina". Ainda segundo o Bradesco, o material foi retirado do ar no último dia 23.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Bradesco informou que seu posicionamento está detalhado na carta aberta ao agronegócio brasileiro.
A seguir, a íntegra da carta aberta divulgada pelo banco:
CARTA ABERTA AO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
Ao longo de seus quase 79 anos de história o Bradesco apoiou de forma plena o segmento do agronegócio brasileiro, estabelecendo parcerias sólidas e produtivas.
Tal opção é baseada em sua crença indelével nesse segmento enquanto vetor de desenvolvimento social e econômico do país.
Contudo, nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca.
Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina.
Pelo contrário.
O Bradesco acredita e promove direta e indiretamente a pecuária brasileira e por conseguinte o consumo de carne bovina.
Diante do ocorrido, medidas foram imediatamente tomadas incluindo a remoção do conteúdo de ambiente público, e, além disso, ações administrativas internas severas.
Dessa forma, reiteramos nossa lamenta pelo ocorrido e reforçamos mais uma vez nossa crença irrestrita na pecuária brasileira.
Veja o vídeo:
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