ALLAN PEREIRA E LETÍCIA PEREIRA
DA REDAÇÃO
O crescimento do ramo de agroindústrias favoreceu o aumento do número de habitantes na região norte de Mato Grosso, principalmente nas microrregiões de Alto Teles Pires e Parecis, onde os municípios quebram recordes na produção agrícola de soja e milho.
As duas microrregiões tiveram um crescimento populacional de cerca de 42% desde 2010, conforme levantamento realizado pelo MidiaJur, com base nos dados do Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados do Observatório da Indústria, da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Fiemt), também mostram que o crescimento percentual das agroindústrias apresentou um crescimento paralelo ao número de habitantes nesses municípios em um período de 2014 a 2021.
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Na Alto Teles Pires, as agroindústrias cresceram 30,15% entre 2014 e 2021, enquanto o número de habitantes cresceu 13,6% no período do Censo.
A microrregião é formada pelos municípios de Ipiranga do Norte, Itanhangá, Lucas do Rio Verde, Nobres, Nova Mutum, Nova Ubiratã, Santa Rita do Trivelato, Sorriso e Tapurah. Conforme a Produção Agrícola Municipal (PAM), do IBGE, as nove cidades produziram mais de R$ 40,9 bilhões, principalmente a soja e o milho.
Já na Parecis, as agroindústrias cresceram 18,3% e a população cresceu 13,6%, nos mesmos períodos citados. Os municípios de Campo Novo do Parecis, Campos de Júlio, Comodoro, Diamantino e Sapezal, que formam a microrregião, produziram R$ 27,3 bilhões em matérias-primas agrícolas, com destaque também para soja e milho.
Das duas regiões, os municípios de Sorriso, Campo Novo do Parecis, Sapezal, Nova Ubiratã, Nova Mutum e Diamantino estão no Top 10 do ranking da produção agrícola de soja e algodão no país, conforme o PAM do IBGE.
Para o presidente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis, Bruno Giacomet, um dos fatores do crescimento de agroindústrias e de habitantes é a chamada verticalização da produção.
Bruno explicou ao MidiaJur que se trata de uma forma do produtor ter mais retorno financeiro sem ter que ampliar o tamanho das lavouras, implementando, por exemplo, a irrigação, integração lavoura-pecuária, diversificação das segundas safras e industrialização dos produtos agrícolas, para agregar valor à plantação.
Além de agregar valor aos produtos agrícolas, a verticalização e a agroindustrialização ajudam na economia e desenvolvimento das cidades
Segundo o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), Cleiton Gauer, além de agregar valor aos produtos agrícolas, a verticalização e a agroindustrialização ajudam na economia e desenvolvimento das cidades.
“Quando eu entro com o processo de agroindustrialização, eu vou ter um movimento maior de recurso com investimento para instalação de uma planta de beneficiamento ou uma usina. Eu vou ter os empregos que vão ser gerados, tanto diretos, indiretos e induzidos, que vão favorecer através dos salários a economia. Isso acaba gerando impacto”, afirmou.
A verticalização pode acontecer a nível de uma mesma empresa ou de toda uma cadeia, como é o caso da cadeia do milho em Mato Grosso. Conforme o superintendente, as usinas de etanol de milho no estado não produzem a sua matéria-prima, mas compram dos produtores das regiões onde estão instaladas, verticalizando o setor.
"Enquanto havia novas áreas para serem abertas, nada dava mais dinheiro que comprar uma segunda propriedade e aumentar a produção de forma horizontal. Hoje, comprar uma fazenda está muito caro. Têm algumas situações que é praticamente inviável em relação ao que vai se desembolsar e o quanto vai demorar para se pagar. Os fazendeiros vão começar a investir nas suas próprias propriedades para fazer o crescimento vertical delas", disse Giacomet.
Atualmente, Mato Grosso é o maior produtor de etanol à base de milho do país. Das 18 usinas em operação no Brasil, de acordo com a União Nacional de Etanol de Milho (Unem), 11 estão aqui.
"O milho era um problema porque produzia-se muito e não tinha para quem vender. Hoje, já está se formando uma atividade muito mais rentável. As pessoas estão produzindo mais porque sabe que tem venda, criou uma agroindústria, gerou emprego. Foi uma verticalização enorme da cadeia do milho quando começou a esmagar para fazer álcool", destacou Giacomet.
“Quando chega uma agroindústria para uma cidade, ela gera mais emprego e mais qualidade de vida. Isso melhora a saúde e a educação da cidade. São benefícios que agregam valor para toda uma região”
Em Campo Novo do Parecis, um grupo de fazendeiros que planta cana-de-açúcar se juntou em um cooperativa e investiu na criação de uma usina para produzir etanol e açúcar cristal a partir da cana-de-açúcar. Também no município, uma empresa transforma grãos de algodão, girassol e soja em óleos vegetais, além de produzir farelo para ração animal a partir dos mesmos produtos.
Segundo Bruno, todas essas iniciativas, tanto dos próprios mato-grossenses quanto de empresários de fora do Estado, têm incentivado o crescimento da região. “Quando chega uma agroindústria para uma cidade, ela gera mais emprego e mais qualidade de vida. Isso melhora a saúde e a educação da cidade. São benefícios que agregam valor para toda uma região”, apontou.
Desafios
Apesar dos benefícios que a agroindústria já trouxe para essas regiões, o presidente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis, Bruno Giacomet, aponta que ainda falta muito para a industrialização alcançar todos os produtores e também o Estado.
Como exemplo, ele cita o milho de pipoca. Campo Novo do Parecis é um dos maiores produtores de milho de pipoca comercializado no país, mas todo o grão produzido é empacotado fora de Mato Grosso.
"Se você for olhar Mato Grosso, ele produz muito, mas só que, normalmente, estamos muito na base da cadeia. Precisamos avançar para agregar valor aos nossos produtos. Por exemplo, o nosso Chapadão [do Parecis] produz mais da metade da pipoca comercializada no Brasil e não tem uma indústria que empacota o milho de pipoca", sinaliza.
O presidente sindical aponta quatro barreiras para o crescimento das indústrias do agro no Estado - a falta de mão de obra, o custo do financiamento, licenciamento ambiental e falta de energia elétrica. "É muito sério a questão de energia elétrica. Existe uma dificuldade muito grande de você montar uma indústria hoje, em Mato Grosso, por conta da demanda de energia. Tem regiões que não tem posibilidade", destacou.
O presidente do sindicato rural também citou a burocracia e a legislação ambiental para as indústrias. "E não são nem para as grandes. Hoje, a pessoa esbarra em fazer uma armazém na própria fazenda, por exemplo. Se você precisa de um armazém, você também vai precisar de energia elétrica. Tem muito armazém em Mato Grosso sendo tocado por gerador a diesel por não ter eletricidade disponível. E isso não é eficiente", avalia.
A busca de trazer mais valor agregado para a produção agrícola de uma fazenda, na visão de Bruno, é um caminho sem volta.
"É um processo natural. Como a gente tem um perfil de produção do agro e não vamos conseguir abrir tantas áreas, vamos investir em agroindústrias. nós temos hoje, cada vez mais, exemplos positivos. É legal que os governantes se atentem a isso porque isso pode levar ao desenvolvimento de todo o estado.Se deixar a turma trabalhar, a iniciativa privada vai fazer a parte perfeita”, concluiu.
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