ANA FLÁVIA CORRÊA
DA REDAÇÃO
O ex-secretário adjunto de Administração, coronel José de Jesus Nunes Cordeiro, teria plena autonomia em sua decisões nos esquemas investigados na Operação Sodoma, tanto que sequer poderia ser contrariado pelos três secretários que comandaram a Pasta na gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB).
A informação foi dada pelo ex-secretário de Administração Pedro Elias, que também é delator da operação, e consta no pedido de prisão assinado pela promotora Ana Cristina Bardusco, do Ministério Público Estadual (MPE).
O coronel foi detido no dia 22 de fevereiro de 2016 e teve pedido de prisão novamente decretado em 14 de fevereiro deste ano, na 5ª fase da Operação.
O esquema investigado teria desviado R$ 8,1 milhões dos cofres públicos por meio da cobrança de propina aos empresários Juliano Volpato, da Auto Posto Marmeleiro e Edézio Corrêa, sócio da Saga Comércio e Serviço Tecnologia e Informática Ltda. junto com Volpato, em troca da concessão de contratos e compras fraudulentas de combustível.
Além de Pedro Elias, o ex-secretário chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, também confessou que Cordeiro tinha “livre acesso” ao suposto líder do esquema (Silval), com quem supostamente tratava sobre os processos licitatórios utilizados na ação criminosa.
Veja o fac-símile de trecho do documento:
“Evidente que os colaboradores apenas tiveram coragem de fazer as revelações até o momento colhidas após o encarceramento dos seus membros mais temidos, destacando a figura do “braço forte” – José Nunes Cordeiro”, diz trecho do documento do MPE.
Nas investigações anteriores, da Sodoma 2 e 3, o MPE afirmou que o ex-adjunto se apresentava como pessoa “hostil” e “truculenta”, dirigindo ameaças a quem oferecesse qualquer resistência aos interesses da organização criminosa.
“Tanto que ameaçou literalmente a vida dos filhos do empresário Willians Paulo Mischur, quando se negou a pagar a propina exigida por Cordeiro, dizendo-lhe ‘nunca se sabe, as vezes um caminhão passa por cima de seus filhos, acidentes acontecem’”, diz trecho do documento.
Segundo apurado pelo MPE, o ex-adjunto foi responsável por manipular contratos a fim de aumentar a contratação de combustível em R$ 13,9 milhões.
Ele teria atuado de forma a atender os interesses do suposto grupo criminoso que fazia parte, direcionando um novo contrato para a Marmeleiro e Saga, que já prestava serviços para o Estado, mediante pagamento de propina.
Ele ainda teria incluído clausulas a fim de restringir o caráter competitivo da licitação, garantindo que a Marmeleiro fosse vencedora.
A operação
Além dos mandados de prisão, a 5ª fase da Sodoma conduziu 10 pessoas coercitivamente. São elas: o procurador aposentado do Estado, Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o ex-secretário de Estado Marcel Souza de Cursi, Arnaldo Alves de Souza Neto, o ex-candidato a prefeito de Cuiabá, Lúdio Frank Mendes Cabral, os empresários Wanderley Fachetti Torres, Rafael Yamada Torres, Diego Pereira Marconi, Valdecir Cardoso de Almeida, Wilson Luiz Soares Pereira e Mário Balbino Lemes Júnior.
Os suspeitos são investigados em fraudes à licitação, corrupção, peculato e organização criminosa em contratos celebrados entre as empresas Marmeleiro Auto Posto Ltda. e Saga Comércio Serviço Tecnológico e Informática Ltda., nos anos de 2011 a 2014, com o Governo do Estado de Mato Grosso.
Segundo a Polícia Civil apurou, as empresas foram utilizadas pela organização criminosa, investigada na operação Sodoma, para desvios de recursos públicos e recebimento de vantagens indevidas, utilizando-se de duas importantes secretarias, a antiga Secretaria de Administração (Sad) e a Secretaria de Transporte e Pavimentação Urbana (Septu), antiga Secretaria de Infraestrutura (Sinfra).
As duas empresas, juntas, receberam aproximadamente R$ 300 milhões, entre os anos 2011 a 2014, do Estado de Mato Grosso, em licitações fraudadas. Com o dinheiro desviado efetuaram pagamento de propinas em benefício da organização criminosa no montante estimado em mais de R$ 7 milhões.
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