ALLAN PEREIRA E LÁZARO THOR
Da Redação
O prefeito Edelo Ferrari (União Brasil) confirmou, em entrevista para a Band FM de Brasnorte, que pediu a transferência do delegado Eric Fantin por investigações criminais contra políticos e outras autoridades do município.
"Depois que eles começaram a me procurar, eu fui até Cuiabá, sentei com o governador e pedi alguma atitude. Então eu pedi a transferência do delegado Eric Fantin mesmo. Isso no ano passado, no mês de outubro, beleza. Depois que eu fui lá e fiz isso, principalmente por causa das pessoas investigadas, aí ele ficou sabendo e começou a perseguir o prefeito também", disse o Ferrari na entrevista.
No entanto, informações contidas nos autos da ação penal contra o vereador Reginaldo Oliveira, o Carreirinha, mostram que o delegado já investigava o prefeito antes mesmo do pedido feito ao governador em outubro. O parlamentar foi indiciado por Eric pela suposta prática de 55 crimes e por ser supostamente líder de uma organização criminosa voltada para um esquema de venda de lotes destinados à reforma agrária.
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Conforme o processo obtido pelo MidiaJur, a primeira citação a Edelo surgiu em 12 de setembro, em um depoimento de um agricultor, que teria dado ao prefeito uma casa de R$ 500 mil e três lotes de cerca de 92 hectares no assentamento Gleba Tibagi na compra de uma chácara avaliada em R$ 1,8 milhão.
Os lotes da gleba são destinados a produtores rurais inscritos para a reforma agrária no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Segundo o delegado, a operação seria ilegal. O agricultor disse que a venda da chácara teria sido intermediada por Carreirinha.
Em 5 de setembro, Edelo Ferrari gravou um vídeo ao lado do delegado afirmando que ele não seria transferido para outra unidade por conta das investigações contra o vereador e outras autoridades do município - veja vídeo.
Depois que eles começaram a me procurar, eu fui até Cuiabá, sentei com o governador e pedi alguma atitude. Então eu pedi a transferência do delegado Eric Fantin mesmo
Para a entrevista na rádio, Edelo tentou defender o vereador das investigações. "O Carreirinha faz muito negócio em Brasnorte. Compra isso, vende aquilo, intermedia negócios; e o delegado começou a perseguir ele e começou a mexer com muita gente. Muitas pessoas começaram a me procurar", afirmou.
O delegado Eric Márcio Fantin foi transferido, em 15 de fevereiro, para outra delegacia de Mato Grosso depois de conduzir investigações contra vereadores e o prefeito do município. No Instagram, o policial apontou um plano para matá-lo e acusou poderosos do município de oferecer recompensa de R$ 1 milhão por sua morte. Contudo, conforme entrevista do prefeito, parte da pressão foi política.
A entrevista na rádio
O prefeito disse que o delegado mostrou vontade de trabalhar quando foi designado para assumir a delegacia de Brasnorte, mas que ele se perdeu no caminho.
"Não sei se por falta de experiência ou por ter também aquele perfil mesmo. Em Rondônia, onde foi delegado também, ele respondeu lá processos por abuso de autoridade e aqui ele começou a se perder. Acho que ouvindo pessoas erradas, não sei. E aí eu chamei ele, conversei uma vez, conversei duas, mesmo ele sendo funcionário do Estado, chamei, conversei, bati um papo... Posterior a isso começou várias pessoas me procurar", revelou.
Ferrari declarou que, como prefeito, chamou o vereador Reginaldo, o coronel PM Nivaldo de Lara Filho (na época, chefe do 7º Comando Regional) e o próprio delegado para uma conversa. Havia "intriga" entre as polícias Civil e Militar. O prefeito descreveu que, na reunião, Eric foi duro com Reginaldo e que iria perseguir o vereador, prender ele e o coronel Lara.
"Achamos estranho a atitude de um profissional que deveria se portar de maneira correta e se portou como um moleque. Ele fez aquelas acusações contra o Carreirinha e, de fato, começou a perseguir. Se o Carreirinha deve alguma coisa para a Justiça, se ele deve, ele vai pagar; se não deve, ele vai provar", seguiu Ferrari.
O prefeito continuou contando que as investigações de Eric começaram a causar muito transtorno com essas pessoas.
"Me procuraram mais de 10 pessoas falando dessa situação. Começou a causa pânico, sendo que não é da alçada dele isso. As terras do Incra, depois de 10 anos, não é mais problema... Se a pessoa ficou 10 anos ali e o Incra não deu o título, a pessoa pode vender para quem ela quiser, então não é crime", justificou.
Investigações contra poderosos
Eric também é responsável pela prisão do sargento PM Manoel Santos, em agosto do ano passado, acusado de assassinar seis pessoas no município.
O policial militar foi defendido pelo vereador em uma reunião na prefeitura sobre a segurança pública do município. Reginaldo teria dito que, na época de atuação do sargento, "não havia crimes de furto no município".
Há evidências de ligações entre o sargento Manoel Santos e o alto escalão do poder político em Brasnorte, que também aparecem na reportagem publicada pelo Midiajur sobre a compra pelo sargento de um terreno que pertencia à prefeitura.
Desde que começou a investigar políticos do município, o delegado passou a ser ameaçado de morte e sofreu tentativas de remoção do cargo depois da prisão do sargento.
As ameaças, confirmadas pelo delegado em sua resposta à manifestação do vereador, começaram depois de investigações que envolviam "crimes do colarinho branco" no município.
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