MARCO AURÉLIO DOS ANJOS
O Brasil se encontra no limiar de decisões importantes sobre a organização do trabalho. A discussão sobre a escala 6x1 no Congresso Nacional acende debates não apenas sobre produtividade, mas também sobre saúde, qualidade de vida e sustentabilidade nas relações de trabalho. Em contraste, a Europa caminha para consolidar jornadas reduzidas, como a semana de quatro dias, mostrando resultados positivos tanto para as empresas quanto para os trabalhadores.
Neste artigo, analisamos os impactos da escala 6x1 e da jornada semanal reduzida, traçando um paralelo entre os modelos e refletindo sobre como o Brasil pode se beneficiar de práticas que priorizem o equilíbrio entre desempenho econômico e bem-estar.
A experiência europeia: jornada de trabalho menor, produtividade maior
A Europa lidera um movimento de transformação no mercado de trabalho, demonstrando que produtividade e qualidade de vida podem andar de mãos dadas. Países como Alemanha, França e Itália são exemplos concretos de economias robustas que adotaram jornadas médias semanais abaixo de 37 horas, priorizando eficiência e inovação.
Um marco recente foi o piloto alemão que testou a semana de quatro dias em 2024. O experimento revelou que 73% das empresas mantiveram ou aumentaram a produtividade, enquanto trabalhadores relataram melhor saúde mental, mais tempo para a família e maior satisfação com o emprego. Empresas também relataram maior retenção de talentos e redução no absenteísmo, evidenciando que jornadas mais curtas podem ser economicamente vantajosas.
Além disso, o debate europeu sobre jornadas reduzidas é fundamentado em questões como o aumento da automação e da tecnologia, que permitem que tarefas sejam realizadas de forma mais eficiente. Em países como a Noruega e a Dinamarca, jornadas curtas estão associadas a altos índices de felicidade e bem-estar, o que se traduz em economias fortes e resilientes.
A escala 6x1: benefícios e limitações no contexto brasileiro
No Brasil, a escala 6x1, que prevê seis dias consecutivos de trabalho seguidos de um dia de descanso, é amplamente adotada em setores como comércio, indústria e serviços essenciais. A continuidade operacional oferecida por esse modelo é um benefício claro, especialmente em atividades que demandam presença constante de mão de obra.
Contudo, os desafios são igualmente evidentes. A rotina intensa pode levar a altos níveis de estresse, fadiga e problemas de saúde mental, como a Síndrome de Burnout. Além disso, trabalhadores submetidos à escala 6x1 frequentemente enfrentam dificuldades em equilibrar vida pessoal e profissional, o que pode impactar negativamente sua produtividade e motivação a longo prazo.
É necessário também considerar a questão da desigualdade no Brasil. Diferentemente dos países europeus, onde os salários são mais altos e a rede de proteção social é mais ampla, muitos trabalhadores brasileiros dependem de jornadas extenuantes para complementar sua renda. Isso cria um dilema ético e econômico: como adotar modelos mais sustentáveis sem comprometer a sobrevivência de milhões de trabalhadores?
Jornadas curtas: uma visão para o futuro
Estudos internacionais apontam que jornadas mais curtas têm o potencial de transformar o mercado de trabalho. Além de aumentar a qualidade de vida, modelos como a semana de quatro dias reduzem custos empresariais relacionados a saúde ocupacional e absenteísmo. Empresas que adotaram esse formato relatam maior criatividade e engajamento dos trabalhadores, indicando que o tempo de descanso pode ser um aliado da inovação.
No Brasil, o caminho para a adoção de jornadas mais curtas exige mudanças estruturais. É necessário investir em educação, automação e políticas públicas que promovam eficiência e produtividade. Além disso, sindicatos e empregadores precisam dialogar sobre formas de implementar mudanças gradativas, priorizando setores onde jornadas longas têm maior impacto negativo.
Conclusão
A discussão sobre o modelo 6x1 e a semana de quatro dias é mais do que um debate sobre números e horas: é uma reflexão sobre o futuro das relações de trabalho no Brasil. Enquanto a Europa avança em direção a modelos mais humanos e sustentáveis, o Brasil tem a oportunidade de aprender com essas experiências e adaptar soluções à sua realidade.
A verdadeira produtividade não está apenas em trabalhar mais, mas em trabalhar melhor. Um mercado de trabalho equilibrado e saudável é fundamental para o desenvolvimento social e econômico do país. O Brasil deve aproveitar esse momento para refletir e tomar decisões que beneficiem não apenas empresas, mas também os trabalhadores, reconhecendo que o bem-estar humano é o alicerce de qualquer sociedade próspera.
*Marco Aurélio dos Anjos é advogado e especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Escola Paulista de Direito (EPD).
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